Lula: “É hora de discutir a nova governança global”
A era das fake news e o discurso de ódio e intolerância trouxe retrocessos políticos e sociais ainda incalculáveis ao planeta. Nos EUA e no Brasil, a mentira e a calúnia levaram às eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Não por acaso, os líderes negacionistas que causaram mais mortes na maior crise humanitária da história. Agora, as duas nações têm pela frente o desafio de reconstruir um ambiente de diálogo e de fraternidade. A avaliação é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lá, o caminho foi reaberto pelo presidente Joe Biden. Em terras brasileiras, a causa deve ser abraçada pelo PT, aponta.
Em entrevista ao programa NewsHour, da rede pública estadunidense PBS, na noite de quinta-feira, 13, Lula demonstrou preocupação com a crise sanitária no Brasil e no mundo. Ele defendeu a quebra de patentes de vacinas contra a Covid-19 por meio de uma nova governança global, elogiou a nova política social de Biden e voltou a condenar a omissão de Bolsonaro na pandemia. “Cientistas no Brasil não foram levados à sério pela falta de responsabilidade de Bolsonaro, e agora ele tenta se recuperar diante de tantas perdas”, lamentou. A seguir, trechos da entrevista.
Esperança no Brasil
Na conversa com a jornalista Amna Nawaz, Lula expôs as dificuldades que Brasil e EUA terão para pacificar seus povos, vítimas de uma venenosa polarização de extrema direita. No caso americano, será um árduo caminho para o democrata. “Isso é algo que Biden terá de enfrentar, ele terá de desfazer as correntes de ódio criadas por Trump”, afirmou. Segundo o ex-presidente é preciso “construir uma nova sociedade baseada em paz, amor e humanidade”.
Para Lula, está mais do que na hora de o Brasil voltar a sonhar, de ter esperança de dias melhores, com emprego e comida na mesa do trabalhador. ”Quando fui presidente, tivemos a maior inclusão social da história. Tiramos 36 milhões de pessoas da pobreza e incluímos outros 40 milhões na classe média. Criamos 21 milhões de empregos, colocamos milhões de jovens na universidade pública”, disse Lula, explicando porque o PT fará muito mais se tiver a chance. “Nós vamos fazer mais e melhor, por isso o PT quer voltar à Presidência, para redemocratizar o nosso país”, declarou.
Para isso, é preciso discutir com a sociedade os caminhos de reconstrução do país. E isso deve ser feito já. O primeiro passo é trazer vacinas suficientes para toda a população e criar protocolos sanitários. “Tanto Trump quanto Bolsonaro não respeitaram a vida da população”, lamentou. “Nós não discutimos a ciência, não criamos um protocolo, não reunimos os especialistas”. “Temos de garantir o que for necessário para vacinar todas as pessoas no Brasil, manter medidas de isolamento social e evitar aglomerações o máximo possível”, recomendou.
Lula também elencou medidas de emergência para fazer frente aos efeitos sociais da crise. “Temos de criar as condições adequadas para garantir ajuda aos que estão desempregados, para que possam comer. Também temos de assegurar crédito especial para que pequenos e médio negócios possam continuar operando. Precisamos aumentar a base monetária, como Biden já está fazendo na economia, para que possamos oferecer condições para a população sobreviver”, observou.
Por uma nova governança global
Na avaliação de Lula, o mundo não pode mais adiar a busca por uma solução conjunta para o enfrentamento da pandemia e seus efeitos sobre o mundo desenvolvido e as nações mais pobres. “É preciso discutir uma nova governança mundial. Já foi provado que, quando a pandemia chegou, os países não estavam preparados. Cada um tentou achar uma solução por conta própria. Não há saída individual para essa crise, precisamos tomar decisões que beneficiem todos os países”, sustenta. Ele defende que líderes mundiais discutam soluções como a quebra de patentes de vacinas. “Seja pelo G20, G8 ou pelas Nações Unidas”, declarou. “Assim, 7 bilhões de pessoas terão direito a receber vacina”.
Biden, América Latina e cooperação
Lula afirmou que, se o Brasil hoje está isolado nas relações internacionais, a responsabilidade é de Bolsonaro – “não conversa com ninguém”. Sobre Joe Biden, ele se disse feliz com os planos do presidente de fazer uma administração voltada ao social, para os interesses do povo americano, especialmente os desamparados.
“Mas [no campo externo] Biden precisa se voltar um pouco mais para a América Latina, porque presidentes americanos… eles se esquecem da América Latina”, alfinetou. Ele brincou, afirmando que, no passado, os americanos se preocupavam demais com russos e terroristas.
“Agora, estão muito preocupados com a China. É necessário lembrar que há muito mais gente que no mundo. E muita gente que não é terrorista”, comentou. “Os EUA precisam entender que uma boa política internacional é baseada na cooperação. Eles precisam ser parceiros de seus aliados para contribuir”.
Um olhar mais multilateral das potências na direção das nações em desenvolvimento só tem a favorecer o planeta. “Países pobres podem crescer em termos econômicos. E, quanto mais crescerem economicamente, melhores serão para os EUA”, comparou. “Os americanos crescem, os chineses crescem, os alemães”, enumerou, antes de concluir: “É necessário compartilhar riqueza”. •
Datafolha traz Lula com 55%
Bolsonaro enfrenta pior momento e chega a 32% dos votos
A sucessão presidencial esquenta e o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se amplia, de acordo com pesquisa Datafolha. Ele está na liderança das intenções de voto, com vantagem de 18 pontos porcentuais em relação a Jair Bolsonaro.
Na pesquisa divulgada na quinta, 13, Lula tem 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Em um eventual segundo turno, o petista teria vantagem de 55% a 32%. A pesquisa foi realizada com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O ex-ministro Sergio Moro aparece com 7% das intenções de voto, seguido pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 6%. O apresentador de TV Luciano Huck tem 4% e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), 3%. Com 2%, aparecem empatados o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e João Amoêdo (Novo). Outros 9% dos entrevistados informaram que votariam em branco ou nulo, e 4% estão indecisos.
No segundo turno, Lula herdaria votos dados a Doria, Ciro e Huck, e Bolsonaro teria os de Moro. O petista ganha de Moro (53% a 33%) e Doria (57% a 21%) caso enfrentasse esses candidatos no segundo turno. Já Bolsonaro empataria tecnicamente com Doria (39% a 40%) e perderia para Ciro (36% a 48%).