MP cria força-tarefa para apurar chacina
A chacina do Jacarezinho, que tirou a vida de 29 pessoas na última quinta-feira na Zona Norte do Rio de Janeiro, continua gerando desdobramentos políticos e judiciais. Pressionado pela opinião pública e por entidades de direitos humanos, o Ministério Público do Rio, que tem como atribuição constitucional fazer o controle externo das atividades policiais, anunciou na terça-feira, 11, a formação de uma força-tarefa para apurar o massacre.
O grupo será responsável pelas investigações, que deve durar quatro meses e poderão ser prorrogáveis. A iniciativa busca dar satisfação à opinião pública e tem como objetivo apurar as denúncias de execuções e abuso policial, a morte do agente André Frias e a tentativa de homicídio contra outros cinco policiais, além de duas tentativas de homicídio a passageiros do metrô e uma eventual irregularidade na remoção dos corpos.
A força-tarefa será presidida pelo promotor André Cardoso e contará com outros três servidores: Flávia Maria de Moura Machado, Jorge Luis Furquim e Matheus Picanço. Segundo Cardoso, os 27 corpos de civis mortos no dia da operação passaram por autópsia e ainda será concluída a análise dos laudos periciais. De acordo com Luciano Mattos, procurador-geral de Justiça do Rio, a investigação sobre a operação no Jacarezinho ocorrerá em paralelo à iniciada anteriormente sobre 21 suspeitos de participar do tráfico de drogas no local.
A criação do grupo é uma resposta à determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), de junho do ano passado, de restringir as operações policiais a casos excepcionais, com comunicação prévia ao MP estadual, durante a pandemia de coronavírus. A decisão também aponta para uma investigação independente do organismo em caso de letalidade policial. Mattos assegura que a decisão do Supremo vinha sendo cumprida “integralmente” e que a investigação vai analisar a operação.
O nome da ação que resultou na chacina —operação Exceptis— fazia uma referência irônica a decisão do Supremo. Logo depois massacre, a Polícia Civil realizou uma entrevista coletiva com forte teor político, acusando o “ativismo judicial” de atrapalhar suas ações.
Também chama atenção a abordagem do governador Cláudio Castro (PSC), que até agora vem dando seu respaldo político à operação. Desde o início ele vem falando que ela é fruto de um “trabalho de inteligência”.
A cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios de Segurança, acredita que Castro, que acaba de assumir definitivamente o cargo, após o impeachment de Wilson Witzel, busca dar uma demonstração de força e se viabilizar como candidato do bolsonarismo em 2022. “Foi o batismo de fogo no bolsonarismo com um banho de sangue. Ele não usa o estilo bélico de Witzel, mas a posição dele é muito política”, afirma Ramos. “É possível que ele não soubesse da operação no Jacarezinho, mas esta é uma onda que ele está tentando surfar”, aposta.