Por Aloizio Mercadante *

 

Com a crescente rejeição e o aumento acelerado da perda de apoio popular, Bolsonaro está cada vez mais emparedado. A equipe econômica, até pouco celebrada por neoliberais e pelo mercado financeiro, padece de completo descrédito em amplos setores da economia.

Sem soluções, o ministro Paulo Guedes voltou a destilar barbaridades e foi flagrado acusando a China de criar o coronavírus. Também relacionou o caos na saúde ao aumento da expectativa de vida da população.  As demissões e afastamentos no Ministério da Economia comprovam o desmanche da área, como já ocorreu em outros setores do governo.

A pandemia segue descontrolada, contaminando e matando brasileiros, enquanto o processo de vacinação patina e Bolsonaro insiste em intimidar e condenar as medidas de distanciamento social, de uso de máscaras e de enfrentamento da Covid-19. A pressão negacionista de Bolsonaro chegou ao ponto de que mais de um ministro e generais de quatro estrelas confessaram que se vacinaram às escondidas. Um completo absurdo.

É nesse cenário de desespero do governo, que o Senado Federal instalou, na semana que passou, a CPI da Pandemia. Bolsonaro tenta a qualquer custo impedir os trabalhos de investigação da comissão, inclusive por meio de ações judiciais grotescas para impedir a independência do legislativo e o pleno exercício do mandato de parlamentares contrários ao seu governo.

De forma inédita, o próprio governo deixou vazar um roteiro com 23 questões graves da gestão Bolsonaro no enfrentamento da pandemia, reconhecendo a responsabilidade do presidente na crise sanitária Além de muitos pontos que serão levantadas pelos senadores, só essas questões já apresentam linhas de investigação sólidas para a CPI.

Não tenho dúvidas que a CPI vai pressionar ainda mais Bolsonaro e que será acompanhada de perto pelo povo brasileiro. É que, infelizmente, a Covid está na vida e no cotidiano das pessoas, matando, contaminando e impedindo a retomada da economia. E há muitos elementos para a comissão comprovar os crimes de responsabilidade de Bolsonaro na disseminação do vírus.

Por isso, chegaremos a 2022 em uma conjuntura imprevisível. Ainda que o cenário internacional com a pandemia controlada seja favorável, não há recuperação possível no Brasil, em meio ao caos e ao obscurantismo bolsonarista, que segue apostando na falsa oposição entre a defesa da saúde pública e a recuperação das atividades econômicas.

Além disso, a CPI pode comprovar os crimes de responsabilidade e desencadear um processo de impedimento ou desgastar profundamente Bolsonaro a ponto de fragilizar sua candidatura. Mas, seja qual for o cenário, a esperança de Lula será a grande energia capaz de unificar um leque amplo de forças políticas democráticas e progressistas para reconstruir o Brasil e fazer com que nosso país se reencontre com a esperança, a estabilidade, o crescimento e a paz social.

 

* Ex-ministro de Estado, é presidente da Fundação Perseu Abramo.