Aloizio Mercadante *

 

O negacionismo de Bolsonaro está na raiz da tragédia que se instalou em várias áreas da Nação. Um presidente que não acredita em evidências científicas é responsável pelo avanço descontrolado da pandemia, que mata quatro vezes mais pessoas que a média mundial, e também é responsável pelo desmonte da política de combate ao desmatamento e de proteção ambiental.

Há uma convergência científica internacional de que o aquecimento global está relacionado ao atual modelo de crescimento desequilibrado. E isso gera efeitos devastadores para o planeta, como alterações no regime hidrológico, aumento dos extremos climáticos e avanço do processo de desertificação. O alerta dos cientistas é que temos cada vez menos tempo para reverter esse processo. Em determinado momento, o aquecimento não será mais reversível, ameaçando todas as formas de vida na Terra.

Nesse aspecto, os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, que tem papel decisivo na preservação ambiental. Somos o G1 da biodiversidade e o país com a maior extensão territorial sobre a principal floresta tropical do mundo: a Amazônia, decisiva para o clima e para o ciclo das chuvas do planeta.

Nos governos do PT, adotamos a estratégia de articular um novo padrão de desenvolvimento, que combinava medidas eficientes contra o desmatamento ilegal na Amazônia e outro conjunto de políticas públicas para fomentar a transição para a economia de baixo carbono. Esse exitoso esforço foi acompanhado de uma postura ativa e propositiva nos foros internacionais.

O Brasil passou a ser um dos principais protagonistas nas Conferências do Clima, notadamente na Rio+20 e COP-15. Assumimos metas voluntárias ambiciosas, como a redução de 36,1% a 38,9% das emissões de gases de efeito estufa e em 80% o desmatamento da Amazônia, que vinham sendo cumpridas antecipadamente ao prazo pactuado.

Mas, com a ascensão da extrema direita no mundo, Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e da mesa de negociação, atitude seguida de forma grotesca por Bolsonaro. Os desmandos do mandatário brasileiro não pararam por aí. Demitiu o presidente do Inpe, com extraordinária contribuição científica, Ricardo Galvão, desmontou mecanismos de fiscalização e controle do desmatamento e, recentemente, trocou o delegado da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, que acusou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de se aliar a madeireiras criminosas.

Bolsonaro tem seguido à risca a recomendação de Salles de “passar a boiada”. O retrocesso resultou em recordes de queimadas e desmatamentos e no impedimento do Brasil acessar o Fundo da Amazônia, de cerca de
R$ 3 bilhões, financiados pela Alemanha e pela Noruega.

Ele foi um dos últimos a discursar na Cúpula do Clima, sem a presença dos anfitriões Joe Biden e Kamala Harris. Isso comprova o descrédito e isolamento internacional que o ex-capitão colocou o Brasil. Bolsonaro omitiu os dados desastrosos de sua gestão e usou indicadores de sucesso resultados do esforço, dedicação e seriedade dos governos do PT. Além disso, vendeu metas e promessas em um futuro distante, enquanto aprova o menor orçamento para a fiscalização do desmatamento dos últimos 20 anos.

É lamentável que o Brasil tenha se transformado de líder reconhecido na gestão ambiental e nas negociações climáticas a pária internacional. Será indispensável a reconstrução da imagem do país e dos avanços no controle do desmatamento, no enfrentamento do aquecimento global e na preservação do meio ambiente, mas temos força, competência e disposição para isso.

 

* Ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo.