Lembrar a ditadura é preciso!
Às mulheres que, nas prisões e campos de concentração, tiveram sua sexualidade conspurcada, foram estupradas e, em alguns casos, tiveram abortamentos forçados, ou tiveram seus bebês, embora de alguns deles não tenhamos notícias do paradeiro até os dias de hoje. Tiveram suas vozes caladas. Em nome da liberdade e da justiça, elas não podem ser esquecidas!
Por Maria Amélia de Almeida Teles
Falar sobre o Golpe Militar de 1964, que resultou na ditadura mais longa de nossa história, de 1964 a 1985, pode parecer às gerações atuais uma proposta descabida. Tão distante do presente que não seria o caso sequer de ser lembrada. No entanto, o fato deve ser lembrado nos dias de hoje.
Na ditadura, a repressão levou milhares a serem perseguidas. Houve cassações de parlamentares e de militares, professores universitários e cientistas reconhecidos internacionalmente. Foi imposto o exílio forçado de outros tantos. E também prisões, torturas, estupros, assassinatos e ocultamento de cadáveres.
Estudantes foram expulsos das universidades. Sindicalistas foram cassados, presos, torturados e banidos. Houve trabalhadores presos dentro das fábricas ou a caminho delas. Camponeses perderam a vida em defesa de um pedaço de terra para plantar o alimento de sua família. Sabe-se hoje que pelo menos 8.350 indígenas estão desaparecidos até hoje, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade.
O Terrorismo de Estado não poupou sequer as crianças e as mulheres grávidas!
Houve crianças sequestradas pela repressão política e tratadas como “Inimigas do Estado”. Mesmo antes de aprenderem a falar e a andar. Algumas sofreram tortura antes de nascer porque suas mães estavam grávidas quando foram sequestradas e levadas para o DOI-Codi. Outras tantas foram obrigadas a assistir as torturas infligidas a seus pais, em particular às suas mães.
Todas elas tiveram sua infância roubada pela ditadura. Não houve uma autoridade judicial que requeresse a apuração da existência de mulheres grávidas, bebês e crianças no aparato repressivo, que sofreram toda sorte de insegurança e terror. Apesar das denúncias de mães e pais sobre suas crianças sequestradas, em centros clandestinos da repressão. É uma dívida do Estado para com gerações de brasileiros e brasileiras.