Nem-nem ou sem-sem? Painel debate a relação da juventude com o mercado de trabalho
Iniciativa da Fundação Perseu Abramo é realizada às vésperas do 6⁰ Encontro Nacional da Juventude do PT
A Fundação Perseu Abramo realizou, em 9 de dezembro, o primeiro painel do ciclo de debates “A Realidade da Juventude e os Desafios do PT”. O evento ocorreu às vésperas do 6⁰ Encontro Nacional da Juventude da legenda, marcado para os dias 12, 13 e 14 de dezembro. O recorte escolhido para o debate foram as mudanças no mercado de trabalho, hoje marcado pela falta de garantias e pela chamada precarização.
O presidente da FPA, Paulo Okamotto, abriu o evento, reiterando o papel da juventude nas lutas do próximo período. “Nós temos uma grande expectativa em relação à juventude do PT. O partido precisa se renovar, criar novas lideranças e que tenham novas ideias. Porque não adianta apenas mudar as pessoas, é preciso mudar o jeito de pensar”, avaliou.
Em seguida, quem apresentou um panorama sobre o tema foi secretária nacional de Juventude do PT, Nádia Garcia, que elogiou o trabalho de formação e pesquisa da Fundação. “A FPA tem sido responsável pela defesa e construção das principais políticas públicas voltadas à juventude do país. Com isso tivemos o maior movimento para estimular candidaturas de jovens petistas da história do partido”.
Nádia também falou sobre o principal tópico do debate: a chamada juventude “nem nem”. O termo “nem-nem” é usado para se referir a jovens que não estudam nem trabalham. No Brasil, estima-se que mais de 10,9 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos se encaixem nessa categoria, sobretudo mulheres e grupos minoritários. As causas variam de falta de oportunidades e desinteresse a responsabilidades domésticas, e a situação pode levar a dificuldades de inserção profissional futura. “Eu prefiro me referir a essa camada da população como ‘sem-sem’, sem oportunidade e sem chance de trabalhar. O termo ‘nem-nem’ coloca a juventude como portadora da decisão de nem estudar e nem trabalhar, o que não é verdade”, questionou.
Helena Abramo, socióloga e colaboradora da Agenda Jovem Fiocruz, complementou com dados importantes sobre as novas características do mundo do trabalho. “É importante reiterar que a maior parte das discussões sobre jovens e o mundo do trabalho é muito mais sobre o não trabalho do que qualquer outra coisa. Pouco se fala sobre o desaparecimento das oportunidades para essa faixa da população. Mas o cenário está mudando e já são 15 milhões de jovens atuando no mercado de trabalho no país”.
De fato, a taxa de desemprego entre os jovens caiu de 25,2% para 14,3%, enquanto a informalidade passou de 48% para 44% em 2024. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). “Para além de discutir as dificuldades de ingressar mercado de trabalho é importante a gente avaliar o que acontece com eles dentro do mercado”, completou. Uma dessas mudanças é a falta de carteira assinada. Entre os jovens ocupados no final de 2024, 53% possuíam vínculo formal de trabalho.
Já André Sobrinho, coordenador da Agenda Fiocruz, fez um recorte sobre o tema a partir de dados e pesquisas relacionadas à saúde do trabalhador. “Apenas 4,9% dos jovens entre 18 e 29 anos interrompem atividades em função da sua saúde. Isso mostra que os jovens adoecem, mas continuam trabalhando”.
João Victor Motta, diretor de políticas de trabalho para a juventude do Ministério do Trabalho apresentou uma série de números relacionados ao tema e chamou a atenção para o grande contingente de jovens que não consegue construir um plano de carreira.” Há tanto o problema da demissão voluntária quanto da rotatividade do mercado. Toda vez que há uma crise na economia, os primeiros a serem demitidos são jovens pela suposta falta de experiência. Nisso entra também a questão do empreendedorismo. Esquerda não pode deixar que coachs façam esse debate. Vamos disputar essa narrativa e mostrar que a maior parte dos empreendedores deste país depende de políticas públicas, ou seja, depende de como o governo trabalha por eles”.