Presidente nacional do PT defende que o partido assuma a segurança como direito popular, organize seu acúmulo histórico e transforme experiência municipal e estadual em política nacional articulada

“Segurança pública precisa entrar no centro do nosso projeto”, afirma Edinho Silva

“Um partido como o nosso não pode se acovardar diante do senso comum. Existimos para disputar e hegemonizar o senso comum, não para segui-lo.” 

Com essa frase, o presidente nacional do PT, Edinho Silva, abriu sua intervenção no seminário de segurança pública da Fundação Perseu Abramo e colocou o partido diante de um desafio estratégico: transformar o acúmulo construído em duas décadas em política de Estado — e em linguagem capaz de dialogar com a vida concreta da classe trabalhadora.

Edinho partiu do princípio de que segurança pública não é pauta conservadora, mas um direito cotidiano que atravessa a existência do povo brasileiro: o trabalhador que pega metrô cedo, a mãe que espera o filho voltar da escola, a juventude que convive com a violência ou com a ausência do Estado. 

Nesse sentido, afirmou que não disputar a agenda apenas alimenta o terreno da extrema direita, que usa o medo como capital político. “Se nós não assumirmos a pauta, outros assumirão — e sem compromisso com a democracia nem com a vida.”

A tese da municipalização silenciosa e o acúmulo petista
Ao tratar das experiências acumuladas por gestões do PT, Edinho apresentou a tese da “municipalização silenciosa” da segurança pública. 

Segundo ele, guardas municipais, gabinetes integrados, ações de prevenção com adolescentes, redes de apoio a egressos e políticas territoriais assumiram na prática responsabilidades que a Constituição não delega formalmente aos municípios. Isso ocorreu, em grande parte, porque muitos estados deixaram de repor efetivos ou estruturar suas polícias, empurrando para as prefeituras a cobrança diária da população.

Araraquara, cidade que governou, serviu como exemplo dessa realidade híbrida: estruturas municipais que funcionam como dispositivos permanentes de prevenção e inteligência, mesmo sem reconhecimento legal explícito. 

“A vida acontece no território, e o território cobra resposta. É ali que o Estado precisa estar inteiro, não pela metade”, afirmou.

A defesa não é apenas administrativa; é política. Para Edinho, reconhecer essa dinâmica é fundamental para organizar uma política nacional que una municípios, estados e União num sistema articulado, coerente com o que preconiza a PEC da Segurança Pública e com o papel coordenador que o governo federal precisa assumir com clareza.

Do acúmulo à estratégia nacional
No encerramento do seminário, Edinho conectou a agenda diretamente ao processo interno do partido. “Agora é construir um plano de trabalho para transformar formulação em ação política real na sociedade”, disse, indicando que a cartilha Brasil Seguro, Família Protegida, lançada pela Fundação Perseu Abramo — será parte estruturante da elaboração programática do PT para o 8º Congresso e para 2026.

Sua formulação é simples e estratégica: segurança pública deve ser tratada como política de Estado, baseada em inteligência, prevenção, integração federativa e presença territorial qualificada — e não como resposta improvisada, nem como instrumento de repressão.

Edinho também enfatizou que segurança pública é disputa de imaginário, linguagem e legitimidade. Se a extrema direita construiu hegemonia sobre o tema por meio do medo, cabe ao PT reconstruir essa disputa com método, evidência, cuidado com a vida e presença concreta do Estado nos territórios. “Segurança pública é direito real da sociedade. É dever do Estado, e o PT precisa ajudar a reorganizar esse Estado para que ele cumpra sua função”, afirmou.

No conjunto, a intervenção de Edinho marca uma guinada importante: o tema deixa de ser tratado como reação a episódios de violência e passa a integrar o núcleo do projeto petista. A mensagem final deixa pouco espaço para dúvida: segurança pública não é pauta alheia ao PT — é parte essencial da reconstrução do país.