Grande aposta brasileira da temporada teve orçamento de R$ 27 milhões, produção não contou com investimento da Lei Rouanet, mas sim do Fundo Setorial do Audiovisual 

O Agente Secreto: em cartaz, longa não teve financiamento da Lei Rouanet, como sugerem fake news 
Divulgação

Em cartaz desde 6 de novembro, o filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, tem atraído grande público aos cinemas e ganhou força após ser escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme internacional em 2026. Com o sucesso, surgiram também ataques e desinformação nas redes sociais, especialmente de perfis da extrema direita, que passaram a afirmar — falsamente — que o longa foi financiado pela Lei Rouanet. 

Rodado entre 2024 e 2025, o filme tem orçamento estimado em R$ 27 milhões. Nenhum centavo veio da Lei Rouanet. A produção recebeu R$ 7,5 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), administrado pela Ancine, e completou seu orçamento com investimento privado e parcerias internacionais com França, Alemanha e Holanda. 

Durante entrevista à CartaCapital, o ator Wagner Moura respondeu às mentiras sobre o financiamento do filme: “Não dá pra explicar a Lei Rouanet para quem ainda não assimilou a Lei Áurea.” 

A reação viralizou e ajudou a esclarecer o básico: O Agente Secreto não se enquadra no tipo de projeto apoiado pela Lei Rouanet — que, inclusive, não financia longas-metragens. O financiamento para longas-metragens no Brasil é predominantemente realizado através de mecanismos específicos, como a Lei do Audiovisual e o FSA, geridos pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). 

Suas receitas vêm principalmente da Condecine, contribuição paga por empresas de telecomunicações, serviços de streaming, programadoras e distribuidoras, além de recursos do Fundo Nacional de Cultura, retornos de investimentos anteriores e valores recolhidos pela Lei do SeAC. 

Diferentemente da Lei Rouanet, que opera por renúncia fiscal e financia vários setores culturais, o FSA funciona como um fundo de investimento específico do audiovisual, alimentado majoritariamente pela própria indústria. Ele reforça a política pública de desenvolver o setor e proteger a titularidade brasileira das obras, sem envolver isenção fiscal ou mecanismos associados à Lei Rouanet. 

O filme 

Protagonizado por Wagner Moura, o thriller político, considerado um representante do estilo neo noir, já levou dois prêmios no Festival de Cannes: o de Melhor Direção e do Melhor Ator — este último, uma conquista inédita na categoria por uma obra brasileira. 

No festival francês, o longa dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho foi aplaudido por mais de dez minutos ininterruptos após a sessão e aclamado pela crítica. 

Marcelo, personagem interpretado por Wagner Moura, é um professor de tecnologia que retorna a Recife para escapar de um passado violento. Mas ele descobre que sua cidade natal esconde perigos e segredos inquietantes. 

Ao longo da semana de estreia, de quinta-feira da semana passada até anteontem, o longa foi exibido em 1.374 salas de cinema, com público de 355.732 pessoas e bilheteria de R$ 8,1 milhões. 

Com este desempenho, “O agente secreto” liderou a bilheteria no país, seguido de “Predador: terras selvagens” (323.943 espectadores), “O telefone preto 2” (106.861), “Se não fosse você” (81.221) e “De volta para o futuro” (51.807) — o clássico de 1985, que retornou aos cinemas neste mês para celebrar seus 40 anos de estreia. 

Apesar de estar apenas iniciando sua trajetória em cartaz, o filme já é o sexta produção brasileira mais assistida neste ano. O top 5 nacional até o momento é formado por “O auto da compadecida 2” (2.927.804 espectadores em 2025), “Ainda estou aqui” (2.741.440), “Chico Bento e a goiaba maraviosa” (986.052), “Vitória” (720.797) e “Homem com H” (631.517).