Mortes em operação policial no RJ ultrapassa 130, diz defensoria
Ministro da Justiça afirma que uma comitiva do governo federal vai ao Rio de Janeiro para acompanhar a situação

Na manhã desta quarta-feira (29), após a operação policial contra o Comando Vermelho realizada pela polícia do Rio de Janeiro nos Complexos da Penha e do Alemão, na zona norte da capital, foram encontrados mais corpos em uma região de mata.
Moradores afirmam que foram retirados 74 corpos da Vacaria, no alto da Serra da Misericórdia. Os corpos foram enfileirados no chão em uma das ruas da comunidade, gerando imagens do horror instalado no dia seguinte da maior ação policial da história do Rio de Janeiro, comandado pelo governador Cláudio Castro (PL).
De acordo com dados registrados pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, o número de civis mortos chega a 128, além dos quatro policiais, o que resulta em 132 mortes. O número pode subir até o final do dia, já que moradores seguem com buscas pela região. A Secretaria de Segurança Pública contabiliza 121 óbitos.
Em coletiva de imprensa, no início da tarde, o secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, disse que o confronto foi deslocado para área de mata propositalmente. Segundo Santos, foi utilizada uma tática de cerco conhecida como “muro do Bope”. Em falas do governador e do secretário, as mortes foram classificadas como “efeito colateral” da operação.

A moradora manicure Beatriz Nolasco mostrou um vídeo à imprensa em que mostra o estado em que o corpo de seu sobrinho Yago foi encontrado decapitado. Outros registros de ferimentos nos corpos, como marcas de facadas, apareceram nas redes sociais e foram divulgados pela imprensa.
“O presidente ficou estarrecido com o número de ocorrências fatais que se registraram no Rio e, de certa maneira, se mostrou surpreso que uma operação dessa envergadura fosse desencadeada sem conhecimento do governo federal, sem possibilidade de o governo participar com os recursos que tem, apoio logístico”, disse o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski a jornalistas após reunião com o presidente.
De acordo com o ministro, uma comitiva de representação federal irá ao Rio de Janeiro para uma reunião com o governador nos próximos dias. O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU se pronunciou sobre o assunto por meio de nota: “Esta operação mortal reforça a tendência de consequências letais extremas das operações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil. Lembramos às autoridades suas obrigações sob o direito internacional dos direitos humanos e pedimos investigações rápidas e eficazes”, afirma.
Desde que Cláudio Castro (PL) assumiu o governo do Estado, interinamente em 2020, e após a eleição, foram registradas 890 mortes em operações policiais, segundo levantamento do instituto Fogo Cruzado, que contabiliza dados sobre segurança pública no país, com foco no Rio de Janeiro. “Se matar ressolvesse, o Rio de Janeiro era a Suíça”, comentou Cecília Olliveira, diretora da organização.



