Catherine Connolly chega à presidência com apoio inédito da esquerda irlandesa e discurso de inclusão, justiça social e neutralidade internacional

Irlanda escolhe a esquerda: Catherine Connolly vence com ampla frente progressista
Catherine Connolly, eleita em 26 de outubro de 2025 como a 10ª presidente da Irlanda, venceu com 63% dos votos em uma eleição marcada pela união da esquerda Foto: Reprodução


A Irlanda viveu um momento de euforia no sábado (26/10), com a eleição de Catherine Connolly como a 10ª presidente do país, marcando uma vitória expressiva da esquerda em um cenário político historicamente dominado por partidos de centro-direita. Ela recebeu o apoio de praticamente toda a esquerda — Sinn Féin, Partido Trabalhista, Social-Democratas, Verdes e People Before Profit —, enviando uma mensagem clara ao governo de coalizão liderado por Fine Gael e Fianna Fáil.

Connolly obteve 63,4% dos votos, a maior porcentagem já registrada desde a criação do cargo, em 1938. Dos 3,6 milhões de eleitores, 45% compareceram às urnas, com 13% de votos nulos (213 mil). 

Foram 914.143 votos válidos, o maior número de primeiras preferências da história do país. Sua adversária, Heather Humphreys (Fine Gael), teve 29,5%, com 424 mil votos.

Deputada em seu terceiro mandato, ex-psicóloga clínica e advogada, Connolly é conhecida por suas críticas à União Europeia, à OTAN e ao que chama de “militarização europeia”. Iniciou a carreira política no Partido Trabalhista, eleita para o Conselho Municipal de Galway em 1999, e foi prefeita da cidade entre 2004 e 2005. Deixou o partido em 2006, disputou eleições como independente em 2007 e 2011, e elegeu-se deputada em 2016, tornando-se a primeira mulher vice-presidente do Parlamento entre 2020 e 2024.

Durante a campanha, destacou temas como justiça social, crise habitacional, sustentabilidade ambiental e defesa da neutralidade irlandesa. Defensora do povo palestino, classifica Israel como “estado terrorista”. Seu discurso, iniciado em irlandês, ecoou entre jovens preocupados com conflitos globais: prometeu ser “uma presidente inclusiva para todos”.

Entenda o sistema político irlandês

A Irlanda é uma república parlamentar em que o presidente desempenha um papel majoritariamente diplomático, conforme a Constituição de 1937. O poder executivo é exercido pelo Taoiseach (primeiro-ministro) e seu gabinete. A eleição presidencial ocorre por voto direto transferível, no qual os eleitores numeram os candidatos em ordem de preferência; vence quem obtém mais de 50% + 1 dos votos válidos.

Embora o cargo tenha funções limitadas, o presidente pode referendar leis ao Supremo Tribunal para análise constitucional, representar o país no exterior e atuar como guardião da Constituição. O mandato é de sete anos, com possibilidade de reeleição.

A campanha presidencial é curta: a Constituição exige que a votação ocorra até 60 dias antes do fim do mandato vigente. O atual presidente, Michael D. Higgins, termina seu segundo mandato em 11/11, data da posse de Connolly.

Em 3 de setembro de 2025, o ministro da Habitação assinou a ordem definindo o pleito para 24 de outubro. As nomeações começaram em 5 de setembro e encerraram-se ao meio-dia de 24 de setembro, mesmo prazo para homologação das candidaturas. O registro de eleitores terminou em 7 de outubro.

Um terceiro candidato chegou a concorrer, mas desistiu após a revelação de uma dívida de €3.300 com um ex-inquilino. Seu nome, mantido na cédula, recebeu 7% dos votos.