Em artigo, o secretário nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, Saulo Dias Kalunga, defende a reconstrução do Estado ambiental brasileiro e a criação de um Pacto Nacional pela Verdade Climática, como resposta ao negacionismo e à desigualdade na crise climática

A verdade climática contra o negacionismo ambiental, por Saulo Dias Kalunga
Foto: Reprodução Pixabay/Ralff Vertelle

O Brasil vive um momento decisivo da sua história. Às vésperas da COP 30, que acontecerá em novembro de 2025 em Belém do Pará, o país se torna o epicentro mundial do debate sobre o futuro do planeta. Não é apenas uma conferência sobre clima — é a oportunidade de o Brasil afirmar ao mundo um novo pacto civilizatório: o da transição justa e popular, que une desenvolvimento, democracia e justiça ambiental.

Mas, para que essa virada seja possível, há um inimigo que precisa ser derrotado: o negacionismo ambiental. Ele não é apenas um erro de interpretação da ciência — é uma estratégia política de destruição, que se alimenta do ódio, da desinformação e da captura do Estado por interesses predatórios.

O negacionismo como projeto de poder

Nos últimos anos, o Brasil experimentou o que talvez tenha sido o período mais devastador da sua história ambiental. O negacionismo não se limitou a duvidar da crise climática — ele organizou um projeto deliberado de devastação, articulando desmonte institucional, perseguição a servidores públicos, manipulação de dados e criminalização de ambientalistas, indígenas e quilombolas.

O governo Bolsonaro transformou o caos ambiental em método de governo. Sob o disfarce da “liberdade econômica”, liberou o garimpo ilegal, desmontou o Ibama e o ICMBio, enfraqueceu a Funai e destruiu políticas de fiscalização. A floresta virou moeda de troca e o território nacional foi entregue à lógica do saque.

Por trás do negacionismo há uma aliança entre o atraso e o autoritarismo: a tentativa de substituir o debate público pela mentira digital, a ciência pela fake news e o diálogo democrático pelo discurso de ódio.

A mentira como política de Estado

O negacionismo ambiental não se combate apenas com dados — combate-se com democracia, educação e cultura. A mentira se espalha quando há desespero e desinformação; por isso, a reconstrução da verdade deve ser um projeto nacional.

Precisamos transformar a verdade climática em política pública. Isso significa fortalecer o papel das universidades, dos institutos de pesquisa e dos observatórios ambientais; garantir o financiamento da ciência; e, sobretudo, democratizar a comunicação.

A disputa pelo sentido do que é “meio ambiente” precisa ser travada também nas redes, nas escolas, nas comunidades e nas periferias. O negacionismo só é eficaz porque sabe falar com as emoções — e cabe a nós, no campo popular, falar com o coração e com a razão, conectando o debate climático ao cotidiano das pessoas: o preço do alimento, a falta d’água, a poluição das cidades, o calor insuportável nas periferias.

Negacionismo e racismo ambiental

O negacionismo também é uma forma de racismo. Negar a crise climática é negar o sofrimento das populações que mais a sentem — negras, indígenas, ribeirinhas, periféricas. É fechar os olhos para o fato de que os desastres ambientais têm cor, território e classe social.

O racismo ambiental é o braço invisível do negacionismo. Enquanto a elite econômica se protege com ar-condicionado e cercas, milhões de brasileiros enfrentam enchentes, secas e doenças causadas pela degradação.

Por isso, a luta contra o negacionismo é inseparável da luta por justiça climática e reparação histórica. É preciso reconhecer que a crise ecológica é também uma crise de desigualdade, e que o combate ao racismo ambiental deve ser estruturante em qualquer política pública.

Um Brasil antirracista e ambiental é aquele que garante saneamento, acesso à água, regularização fundiária, agroecologia e proteção dos territórios quilombolas e indígenas. É o país que transforma seus guardiões da floresta em protagonistas do futuro.

Reconstruir o Estado ambiental brasileiro

Superar o negacionismo exige reconstruir o Estado ambiental — não apenas com instituições fortes, mas com novas formas de governança participativa.

O Brasil precisa retomar seu papel de liderança internacional com políticas exemplares: desmatamento zero até 2030, reindustrialização verde, fortalecimento do Fundo Amazônia, reorientação da Petrobras para energia limpa e um programa nacional de educação ambiental em todas as escolas.

Essas medidas são o núcleo da transição justa e popular, conceito que o Partido dos Trabalhadores tem construído como resposta civilizatória à crise climática. Uma transição que não se limita a mudar a matriz energética, mas transforma a base da economia e a cultura política do país.

A dimensão política da verdade

Combater o negacionismo é mais do que defender a ciência — é defender a democracia. Negar a crise climática é negar o direito à vida, e negar o direito à vida é negar a cidadania.

Por isso, o enfrentamento ao negacionismo deve ser pedagógico e popular. É preciso construir uma cultura ambiental de massa, onde a consciência ecológica se forme desde a infância, nas escolas, nas igrejas, nas redes comunitárias e na arte.

O Partido dos Trabalhadores propõe a criação de um Pacto Nacional pela Verdade Climática e Ambiental, articulando universidades, movimentos sociais, coletivos culturais e meios de comunicação públicos para reconstruir a confiança social na ciência e disseminar o conhecimento ambiental como bem comum.

A disputa pela verdade climática é também a disputa pelo futuro do Brasil.

A COP 30 e a virada civilizatória

A COP 30, em Belém, será o palco simbólico dessa virada. A Amazônia não pode mais ser tratada como fronteira de exploração, mas como coração da nova civilização ecológica. A floresta é potência viva, fonte de ciência, cultura e esperança.

O Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que o combate ao negacionismo e o combate à desigualdade são a mesma luta. Que a transição justa não é um luxo dos países ricos, mas um direito dos povos que cuidam da vida.

Belém será a capital global de um novo tempo — o tempo da reconstrução, da esperança e da solidariedade.

Transição justa começa pela verdade

O negacionismo ambiental tenta nos paralisar pelo medo e pela mentira. Mas o Brasil de 2025 é outro: é o Brasil que voltou a acreditar na ciência, que refloresta a esperança e que resiste com arte, trabalho e fé.

A luta contra o negacionismo é a luta por um país que escolhe a vida.

O Brasil que queremos é antirracista, ecológico e popular. Um Brasil que educa para a paz com a natureza, que combate a desigualdade e que faz da transição ecológica a base de uma nova democracia.

O tempo da reconstrução é agora — e a verdade é a nossa principal arma. 

Saulo Dias Kalunga é Secretário Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores