17ª Plenária Nacional da CUT define agenda de lutas
Evento em São Paulo reuniu dirigentes sindicais, movimentos sociais e lideranças políticas; Sérgio Nobre anunciou plano de mobilização nacional, defesa da jornada de 40 horas e isenção do IR até R$ 5 mil

A Central Única dos Trabalhadores realizou a 17ª Plenária Nacional entre os dias 14 e 17 de outubro, em São Paulo. O evento, marcado por emoção e espírito de luta, prestou homenagem póstuma ao ex-diretor João Batista Gomes (Joãozinho) e reuniu lideranças sindicais, movimentos sociais e representantes de partidos políticos.
O presidente da central, Sérgio Nobre, destacou que esta será lembrada “por ter sido a primeira realizada de forma híbrida, com participantes presenciais em São Paulo e outros acompanhando virtualmente de todo o país”.
A CUT reafirmou sua posição em defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos sociais e trabalhistas. O evento, que lotou o salão do Sindicato dos Bancários, serviu como espaço de formulação de respostas às transformações no mundo do trabalho e de articulação política com vistas às eleições de 2026.
Reestruturação sindical e novas diretrizes
Durante os quatro dias do encontro, os delegados aprovaram diretrizes para a modernização do modelo sindical brasileiro. Para Nobre, o sistema atual — que representa majoritariamente servidores públicos e trabalhadores com carteira assinada — deixou de fora metade da classe trabalhadora. A plenária debateu estratégias para incluir essa parcela na organização sindical.
O evento também marcou o lançamento do Protocolo de Prevenção e Ação em Casos de Discriminação, Assédio e Violência, criado para fortalecer a cultura de respeito mútuo e garantir ambientes de trabalho e convivência livres de qualquer forma de violência.
Além disso, foi aprovado um calendário de mobilizações que inclui atos contra a reforma administrativa, a Marcha das Mulheres Negras e a marcação do 8 de janeiro como data para alertar sobre os riscos à democracia, evitando que a tentativa de golpe de 2023 seja esquecida.
A central também planeja um seminário internacional em Brasília para discutir o cenário mundial da classe trabalhadora, a ascensão da extrema direita e o contexto de guerras. Está prevista ainda uma grande marcha nacional para apresentar uma pauta de reivindicações atualizada aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
As mobilizações culminarão em um 1º de Maio descentralizado, com atos não apenas nas capitais, mas também em cidades do interior. O objetivo é destacar a importância das eleições municipais — vistas como decisivas para os rumos políticos dos próximos anos — e consolidar as mudanças promovidas pelo governo Lula, além de reforçar a defesa da democracia.
Luta pelo fim da escala 6×1
Sérgio Nobre explicou à Focus Brasil que a CUT definiu como prioridades em sua agenda institucional no Congresso Nacional a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, com o fim da escala 6×1.
Segundo ele, a isenção tributária representa para a maioria dos trabalhadores “praticamente um 14º salário”, medida que, em sua avaliação, impulsionaria o consumo e a geração de empregos.
Nobre afirmou que a proposta só terá chance de avançar “se houver mobilização popular”. A central realizou um plebiscito sobre o tema, cujo resultado foi classificado como “espetacular” e já entregue às Casas Legislativas.
Outro ponto de atenção é o debate no Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo o dirigente, pode permitir a “pejotização ilimitada”. Ele alertou para o risco de “destruição do trabalho formal no Brasil”, destacando que a manutenção dos vínculos empregatícios é fundamental para financiar a Previdência Social, o sistema de saúde e a educação pública. A estratégia da CUT será atuar “nas ruas e nas redes” para pressionar por essas pautas e conscientizar a sociedade sobre sua importância.
Presença e apoio do Partido dos Trabalhadores
O presidente nacional do PT, Edinho Silva, participou da abertura da 17ª Plenária e destacou dois pontos principais: o papel histórico da Central e o atual cenário político.
Ele ressaltou que é impossível conceber a redemocratização, os avanços sociais e a eleição do presidente Lula sem reconhecer o papel da CUT. “A CUT é um patrimônio do povo brasileiro”, afirmou. Silva descreveu a plenária como um espaço fundamental de escuta e formulação para enfrentar os novos desafios da classe trabalhadora.
Já o presidente do Diretório Municipal do PT de São Paulo, Hélio Rodrigues, afirmou à Focus que a 17ª Plenária “foi um espaço de construção coletiva que reafirma o papel histórico da CUT na defesa dos direitos trabalhistas e na luta por um projeto de país mais justo e democrático”.
O vereador, ex-coordenador do Sindicato dos Químicos de São Paulo, avaliou que este é um “momento decisivo, quando o movimento sindical lidera o debate de pautas centrais, como a redução da jornada de trabalho 6×1, a taxação das grandes fortunas e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil — medidas que dialogam diretamente com o cotidiano da classe trabalhadora e com o compromisso de reconstruir o Brasil”.
Rodrigues destacou ainda a mobilização prevista para 29 de outubro, em Brasília, contra a reforma administrativa, “que ameaça desmontar o serviço público e retirar direitos históricos dos servidores”.
Eixos centrais da plenária
Os principais eixos da 17ª Plenária foram:
• Atualizar a reflexão sobre a conjuntura nacional e internacional;
• Fortalecer o sindicalismo cutista;
• Reforçar o protagonismo da CUT na reconstrução do Brasil, da democracia, dos direitos e da soberania;
• Ampliar a intervenção na retomada do desenvolvimento econômico sustentável e no combate às desigualdades;
• Deliberar sobre alterações estatutárias;
• Elaborar a estratégia e o plano de lutas para o próximo período.
A Plenária Nacional da CUT é realizada a cada dois anos, após o Congresso Nacional da Central. Durante os quatro dias do evento, foram debatidos temas de interesse da classe trabalhadora, como a precarização do trabalho, o aumento da pejotização, a crise climática, a defesa da democracia e da soberania nacional.
(Com informações da CUT)



