O evento que aconteceu nos dias 15 e 16, em Brasília, reuniu representantes de entidades partidárias e sindicais do Brasil e de outros nove países

O seminário “Justiça Climática e transição social e ecológica rumo a COP 30” nasceu de uma iniciativa da fundação Friedrich Ebert, ligada ao partido social-democrata alemão SPD, que convidou a Fundação Perseu Abramo para uma parceria. O objetivo foi incentivar o intercâmbio de informações para que partidos progressistas do Norte e do Sul globais possam tentar encontrar argumentos para se alinharem com relação a temas como política climática e energética, transição justa e financiamento climático. Participaram das atividades representantes de 10 países: Alemanha, Brasil, Chile, Honduras, Costa Rica, Gana, Argentina, Uruguai, Perú e Venezuela. 

A atividade foi realizada em um momento de grande tensão internacional e muitas incertezas sobre o futuro. Os presidentes das instituições que convocaram o seminário, Paulo Okamotto e Jan Souverein, falaram já na abertura, sobre as dificuldades desse momento em que não é possível saber como ficarão as relações entre os países, mas fizeram enfáticas defesas do multilateralismo e da soberania dos povos. 

Na mesa de abertura, “Rumo à COP30: situação atual, preparação e expectativas do Brasil”,  Edinho Silva, presidente do Partido dos Trabalhadores, falou sobre a oportunidade histórica para a região amazônica com a realização da cúpula em Manaus, “enfrentar o desmatamento e todas as formas de exploração ilegal da fauna, flora e dos minérios da região da Amazônia Legal é fundamental. Porém, é importante defender o que nós queremos como forma de desenvolvimento dessa região”. Ele ainda mencionou algumas iniciativas para tentar unir diferentes grupos em prol dessa discussão e lembrou do imenso potencial biotecnológico que existe na Amazônia. Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT, que também foi um dos expositores também defendeu a importância de inserir os trabalhadores locais na discussão sobre soluções de desenvolvimento inclusivo para a região amazônica. 

Os outros participantes do primeiro painel foram Mario Mottin, ministro chefe da Divisão Climática do Ministério das Relações Exteriores, e Delara Burkhardt, eurodeputada pelo partido alemão SPD. Delara falou sobre os retrocessos que vêm ocorrendo na política ambiental europeia, o motivo é a ascensão da extrema-direita nos parlamentos dos diferentes países. “Essa nova correlação de forças faz com que seja muito difícil termos novos avanços em políticas e metas ambientais”, afirmou. Já o diplomata Mario Mottin, reconheceu as dificuldades em função da conjuntura internacional, mas afirmou que todas as propostas que o Brasil vai apresentar na COP têm como ponto de partida somente propostas já defendidas pelas principais nações do mundo. Além disso, Mottin afirmou que o Brasil vai propor uma dinâmica diferente, “não estamos convidando ninguém a apresentar metas, mas sim resultados já obtidos que tenham critério de avaliação”, disse. O diplomata também falou sobre o negacionismo ambiental que é uma bandeira do atual governo dos EUA. Apesar da posição de Donald Trump e do seu entorno, governos locais, a sociedade civil e empresários têm implementado uma série de medidas que são ambientalmente avançadas e que têm como objetivo reduzir a crise climática.

O segundo painel, “Transição Justa: uma resposta social à crise climática global”, contou com a apresentação de Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX). Viana que governou o Acre e também foi senador pelo estado, falou sobre uma série de iniciativas econômicas que podem mudar a realidade da população amazônica sem prejudicar a floresta. O presidente da APEX afirmou que o Brasil representa apenas 0,2% no mercado de produtos compatíveis com a floresta, que são castanha-do-Brasil, açaí, palmito, pimenta do reino, entre outros. O produto mais exportado na região amazônica é a soja. Ele defendeu as ações do governo Lula e mencionou que essa questão está no radar e vem sendo trabalhada para gerar desenvolvimento inclusivo. 

O último painel do primeiro dia de atividades foi “Financiamento da transição: repartição justa e novos modelos”. A exposição inicial foi feita pela coordenadora-geral da Estrutura Produtiva e Sustentabilidade do Ministério da Fazenda, Júlia Mascarello. Ela falou sobre o trabalho que o governo brasileiro vem realizando para o fomento de iniciativas e atividades que sejam benéficos para a sustentabilidade. Um dos pontos é a capacitação da população local para atender a essas novas demandas. Júlia afirmou que a manutenção das florestas preservadas prescinde de muito investimento da União e que boa parte do trabalho tem sido buscar recursos. Uma das formas é através de créditos de carbono. “O Ministério da Fazenda está na vanguarda desse assunto. Somente investindo na transição ecológica conseguiremos uma nova economia”, afirmou Júlia. 

No segundo dia de atividades foi realizado o painel nº4: Enfrentando o negacionismo climático e a extrema-direita. O expositor foi Frederico Assis, enviado especial da COP30 para a Integridade da Informação. Ele explicou como funciona o árduo trabalho de tentar combater o negacionismo climáticos a circulação de informação falsa, principalmente, nas redes sociais. Um dado muito preocupante foi apresentado: de acordo com levantamento feito pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), as informações falsas têm 70% a mais de chances de circularem nas redes, o que significa, pela lógica de funcionamento dessas plataformas, que as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de conteúdo são exatamente as que vão recebê-lo. “Um dos grandes avanços que tivemos é a incorporação da integridade da informação na agenda da COP”, informou o enviado especial. Ele disse ainda que vem buscando o apoio de diferentes organismos da sociedade para tentar incentivar a discussão sobre o negacionismo climático. 

O painel 5 “combate à crise climática e comércio” contou com a exposição do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Pedro Silva Barros. O pesquisador falou sobre sustentabilidade nas cadeias globais de valor, barreiras comerciais, mercado de carbono e impactos das transições energéticas sobre países exportadores de commodities fósseis e minerais. Durante o painel, Silva Barros chamou a atenção para os planos de longo prazo dos países e como é necessário ter atenção a esse tipo de planejamento. O exemplo mencionado foi a China, “Os chineses optaram por não produzirem soja e celulose e importar daqui da América do Sul. E eles respondem por mais da metade das importações desses produtos no mundo. Essa escolha leva em consideração que estas produções são muito intensas em uso de água e utilizam grande extensões de terra. Mas não é algo que seja sustentável no longo prazo”, afirmou.  

No último painel, “Construção de iniciativas conjuntas dos partidos progressistas para a transição justa”, os representantes das diferentes organizações debateram o que é possível fazer conjuntamente para tentar elaborar uma agenda política mais convergente. A exposição inicial foi feita pelo diretor de Cooperação Internacional da Fundação Perseu Abramo, Valter Pomar. De maneira geral, os participantes apresentaram as dificuldades que enfrentam para implementar agendas que fazem a defesa do meio ambiente junto a comunidades que dependem de atividades econômicas ligadas à indústria mineral e/ou extrativista. 

No encerramento, o presidente da FES afirmou que a Alemanha é um exemplo de como a realidade e a luta pelo clima estão complicadas. “Estamos retrocedendo em muitas metas ambientais que tínhamos antes. Essa agenda não está encontrando apoio na população. E a importância desse tipo de encontro é de buscar respostas para essas dificuldades”, afirmou Jan Souverein. Já o presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto, afirmou que “para termos um mundo preservado, transição climática e o mundo que sonhamos, precisamos combater a pobreza. Sem isso, não seremos exitosos. Temos que pensar qual alternativa daremos a essas pessoas que dependem de atividades que geram poluição e quem vai bancar isso. Ficou claro para mim que precisamos fazer um forte trabalho de base. Divulgar os valores do clima, do meio ambiente e do desenvolvimento inclusivo. No chamado ‘mundo liberal’, só conseguiremos ter conquistas para a classe trabalhadora dependendo da opinião pública. É a pressão da sociedade que permite evitar retrocessos”.     

FES e FPA promovem seminário internacional para discutir justiça climática e a COP30