É preciso estatizar a Avibras, por Alberto Cantalice
A soberania nacional depende de uma indústria de defesa forte e pública, escreve o diretor de comunicação da Fundação Perseu Abramo, Alberto Cantalice

Toda grande nação precisa de uma indústria de defesa sólida e tecnologicamente avançada, sob risco de depender cronicamente de potências estrangeiras e de seus humores políticos.
Por isso, vem em boa hora a apresentação do PL 2957/24, de autoria do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que tramita na Câmara dos Deputados e propõe a estatização da Avibras Indústria Aeroespacial S.A.
Fundada em 1961, a empresa produziu diversos tipos de armamentos, entre eles o Astros II, sistema de artilharia de saturação e lançador múltiplo de foguetes; o Avibras AV VBL 4×4, veículo blindado de transporte de pessoal; e o Mansup, míssil antinavio com alcance de 180 quilômetros, desenvolvido em parceria com a Marinha do Brasil.
Exportando para vários países, o portfólio da Avibras demonstra sua relevância. É uma das poucas companhias brasileiras com expertise tecnológica e industrial em defesa nacional — deixar que empresas estrangeiras ocupem esse espaço é um contrassenso.
Envolta em grave crise financeira, a empresa ameaça demitir milhares de trabalhadores qualificados, formados ao longo de décadas de experiência na operação e manutenção de suas plantas industriais. Como grande parte da dívida da Avibras é com a União, há espaço para que o governo converta passivos em participação acionária, garantindo controle estatal e viabilidade produtiva.
A questão é fundamental e diz respeito à soberania nacional
“Sem a Avibras, o Brasil terá que importar sistemas de defesa a preços altíssimos. E quem controla a tecnologia, controla a política. Imagine depender dos Estados Unidos para ativar ou desativar um míssil brasileiro. Bastaria desligarem a tomada, e não teríamos a quem recorrer”, afirmou Guilherme Boulos. “A Avibras, afinal, não é apenas uma empresa. É um símbolo da soberania nacional. Defender a Avibras é defender o Brasil.”
O Estado brasileiro precisa pensar no longo prazo. Se não fossem os investimentos públicos, o país não teria Petrobras, Embraer, Embrapa e Fiocruz, nem instituições financeiras de alcance nacional como a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o BNDES, um dos maiores bancos de investimento do mundo.
Desmontar a capacidade do Estado, sobretudo em setores de alta tecnologia, é favorecer interesses que querem manter o Brasil como mero exportador de commodities, sem agregar valor e sem ampliar sua base industrial. Não se trata de opor a força do agronegócio à da indústria, mas de garantir que o país produza e exporte produtos de alto valor agregado, fortalecendo sua economia e seu protagonismo internacional.
O Brasil precisa dar um salto qualitativo. Iniciativas como a estatização da Avibras apontam o caminho do desenvolvimento e reafirmam o papel do Estado como indutor da soberania nacional. As grandes potências do mundo investiram em suas indústrias estratégicas e o Brasil, uma das dez maiores economias globais, não pode ser vanguarda do atraso.
A afirmação da soberania e a garantia da defesa nacional devem permanecer sempre na ordem do dia. É hora de o país dar esse passo.
Alberto Cantalice é diretor de comunicação da Fundação Perseu Abramo