A ofensiva israelense contra a Palestina deixa um rastro de destruição, fome e deslocamento em massa, enquanto planos de reconstrução e diplomacia tentam redefinir o futuro da região

Terra arrasada: dois anos da guerra em Gaza e um rastro de destruição, fome e mortes
Foto: Wikicommons

Dois anos após o início da guerra entre Israel e Hamas, a Faixa de Gaza está devastada, com mais de 67 mil mortos e 90% dos domicílios destruídos ou danificados. A situação de fome aguda e o colapso humanitário levaram a África do Sul a processar Israel na Corte Internacional de Justiça, enquanto um plano chamado “Riviera Gaza” propõe transformar a região em um polo de megacidades tecnológicas.

Terra arrasada: duas palavras que descrevem a Faixa de Gaza dois anos após o início dos ataques israelenses. Em 7 de outubro de 2023, membros do Hamas e outros grupos militantes atravessaram a fronteira protegida e lançaram um ataque a Israel, resultando na morte de aproximadamente 1.200 pessoas e no sequestro de 251 reféns levados para o pequeno território palestino.

A resposta veio no dia seguinte, com uma ofensiva militar massiva. Já são mais de 67 mil mortos em Gaza, a maioria civis – metade mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde local.

Mais de 67 mil palestinos foram mortos desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023

Ao anunciar a ofensiva contra o Hamas, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que os objetivos eram “destruir o Hamas, retornar os reféns e garantir que Israel não possa ser ameaçado no futuro”.

Relatório da Organização Internacional para Migrações (OIM) indica que 90% dos domicílios da região foram destruídos ou danificados, deixando 1,9 milhão de pessoas deslocadas internamente entre uma população de cerca de 2,1 milhões. Do lado israelense, o Exército contabiliza 460 soldados mortos.

Jornalismo sob fogo

Segundo relatório da UNESCO, a guerra em Gaza já vitimou pelo menos 62 jornalistas e profissionais de mídia mortos no exercício de suas funções desde outubro de 2023.

Em levantamento separado, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (OHCHR) contabiliza 242 jornalistas palestinos mortos no mesmo período. A discrepância entre os números refletem metodologias diferentes sobre o que constitui uma morte no exercício profissional.

Os dados revelam que o conflito tornou-se um dos mais letais para jornalistas na história recente, superando em poucos meses o total de profissionais mortos em vários anos de guerras combinadas.

Cerca de 90% dos domicílios da Faixa de Gaza foram destruídos ou danificados, segundo a OIM

Fome aguda e genocídio

O bloqueio total imposto por Israel teria criado condições de fome aguda em extensas áreas de Gaza. Estimativas apontam que a escassez de alimentos e de assistência médica causou a morte de pelo menos 450 pessoas por inanição, incluindo 150 crianças.

Agências humanitárias descrevem o cenário como uma das piores crises do século XXI, com a população civil enfrentando falta de água potável, medicamentos e alimentos básicos. Israel afirma facilitar a entrada de ajuda humanitária por corredores estabelecidos e acusa o Hamas de desviar recursos.

Em 29 de dezembro de 2023, a África do Sul ingressou com uma ação contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), alegando violações da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio. O caso tornou-se o primeiro desafio legal de grande escala contra as operações israelenses em Gaza perante a principal corte da ONU.

Terra arrasada: dois anos da guerra em Gaza e um rastro de destruição, fome e mortes
Foto: Reprodução

O Brasil também assumiu posição ativa no processo: em 17 de setembro de 2025, o governo brasileiro apresentou uma declaração de intervenção com base no Artigo 63 do Estatuto da Corte, juntando-se à África do Sul e refletindo o posicionamento diplomático do país no conflito.

O governo israelense rejeitou as acusações, classificando-as como “distorcidas e sem fundamento jurídico”, e afirmou que suas operações visam exclusivamente o Hamas, com medidas para proteger civis.

Plano de reconstrução “Riviera Gaza”

A estreita relação entre Donald Trump e Benjamin Netanyahu pode ir além da resposta militar. No início de setembro, um plano vazado à Casa Branca, chamado “Riviera Gaza”, prevê transformar a Faixa de Gaza em um polo de megacidades tecnológicas. O projeto envolveria indiretamente Elon Musk e Trump, segundo o Washington Post.

A proposta inclui um parque de manufatura com o nome de Elon Musk, localizado nas ruínas da zona industrial de Erez, e busca associar a imagem do bilionário ao discurso de “reconstrução tecnológica”.



Terra arrasada: dois anos da guerra em Gaza e um rastro de destruição, fome e mortes
Foto: Reprodução (The Guardian)

O plano prevê ainda que uma futura “entidade política palestina” – e não um Estado soberano – adira aos Acordos de Abraham, iniciativa diplomática liderada por Trump durante seu primeiro mandato.

Movimento de Resistência Islâmica – Hamas

O Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) surgiu em 1987 como dissidência da Irmandade Muçulmana durante a Primeira Intifada palestina. O grupo, que assumiu o controle da Faixa de Gaza após conflito interno com o Fatah em 2007, é considerado uma organização terrorista por Israel e Estados Unidos, entre outros.

A carta fundamental do Hamas, que segundo estudiosos ainda rege suas ações, se opõe à existência do Estado de Israel em terras que considera historicamente palestinas. Seu objetivo declarado é a criação de um Estado islâmico em todo o território que inclui a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

O grupo difere da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que controla partes da Cisjordânia e defende a solução de dois Estados por meio de negociações.

Pelo menos 1,9 milhão de pessoas estão deslocadas internamente entre uma população de 2,1 milhões

Planos e interesses dos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou um plano de paz de 20 pontos para Gaza que prevê a libertação de todos os reféns e o desarmamento completo do Hamas. A proposta concede anistia a militantes que “se comprometam com a coexistência pacífica” com Israel, o que significaria o fim do grupo como milícia armada.

O plano, anunciado como “a última oportunidade para uma solução pacífica”, representa a primeira iniciativa abrangente da atual administração norte-americana para encerrar o conflito.