Cadê o Magrão?, por Val Carvalho
Em artigo, o militante Val Carvalho relembra encontros e memórias de militância ao lado do camarada “Magrão”, figura emblemática do PCB nos anos 1970

Conheci o Magrão, ou melhor, o camarada Lima ou Montenegro no primeiro semestre de 1972, em São Paulo. Em setembro do ano anterior eu tinha chegado em Sergipe do curso de dois anos que fiz em Moscou na escola de quadros que o PCUS oferecia aos partidos comunistas dos países capitalistas. Lá defendi a tese da organização da juventude comunista e cheguei cheio de gás para realizar essa ideia, pois estava com apenas 22 anos.
Fui para São Paulo pensando ajudar no então desafio histórico colocado pelo PCB de organizar o partido nas grandes empresas sem abandonar, porém, a ideia da juventude comunista. Não consegui entrar em duas grandes fábricas metalúrgicas que contactei, mas continuei em São Paulo ligado ao partido. Foi então que (não me lembro bem como), entrei em contato com o camarada Magrão, a quem chamava de Lima. Ele articulava o trabalho na juventude do partido e compartilhava comigo da mesma ideia da organização da juventude comunista.
Ficamos muito animados para realizar essa ideia e traçamos vários planos nesse sentido. Chegamos até a alugar uma casinha de fundos na Vila Matilde, que nunca ocupamos devido a um problema de segurança que ocorreu comigo ao ajudar um companheiro bancário.
Diante disso saí vim para o Rio de Janeiro e daqui para o Rio Grande do Sul e não tive mais contato com Magrão. No segundo semestre do ano seguinte, já ligado ao partido do Rio de Janeiro, Magrão me procura de madrugada no aparelho onde vivia para me avisar que alguns brasileiros que conhecíamos tinham sido presos em Buenos Aires, durante um curso de formação política realizado pelo Partido Comunista Argentino. Ele passou pela capital argentina vindo do Chile. Na mesma noite eu saí do aparelho e encontrei um lugar desconhecido para continuar o meu trabalho no partido.
Esse foi o meu último contato direto com o sempre alegre e otimista camarada Magrão.
É oportuno registrar aqui que atuei no Partidão em Sergipe, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro (sendo que nesses três últimos estados de forma clandestina) e em todos esses lugares conheci militantes comunistas de alto valor revolucionário como o camarada Magrão. Afastei-me do partido no começo de 1980 mas nem por isso deixo de sentir muito orgulho de ter militado em suas fileiras.
Val Carvalho é militante do PT do Rio de Janeiro