Manifestações contra a anistia e a PEC da Bandidagem ecoaram na imprensa internacional, que destacou a vitalidade democrática, a força popular e o incômodo ao Congresso

Imprensa internacional destaca mobilização do 21 de setembro contra anistia no Brasil
Multidão em frente ao Masp, em São Paulo, em 21 de setembro: ato ganhou repercussão internacional na luta contra a anistia e a “PEC da Bandidagem” Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Colaborou Kriska Carvalho

Protestos contra a anistia e a PEC da Bandidagem ganharam espaço na imprensa internacional. Analistas destacam a força da mobilização popular, a participação da juventude e o incômodo causado ao Congresso e à direita brasileira.

As manifestações do dia 21 de setembro não ficaram restritas ao território brasileiro. O mundo acompanhou com atenção o movimento que levou centenas de milhares às ruas, em todas as capitais e diversas cidades do interior, para protestar contra a chamada “PEC da Bandidagem”, contra a anistia a golpistas e pela urgência da isenção do Imposto de Renda.

Manchetes lá fora: democracia em xeque

Veículos internacionais como Reuters, Associated Press e The Guardian deram destaque às mobilizações, tratando-as como uma reação direta do povo brasileiro a iniciativas que poderiam fragilizar a responsabilização de políticos e ex-presidentes. Para a Reuters, tratou-se de um recado claro ao Congresso e às forças políticas que buscam blindar Jair Bolsonaro e aliados.

A Associated Press ressaltou o caráter nacional dos protestos, com adesão em estados sem histórico de grandes mobilizações progressistas, como Goiânia e Curitiba. Já o The Guardian apontou a presença marcante de artistas e intelectuais, entre eles Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, que deram um tom cultural e simbólico à defesa da democracia.

Vitalidade democrática e riscos institucionais

Especialistas estrangeiros chamaram atenção para a vitalidade democrática expressa nos atos. O professor Mark Weisbrot, colunista em Washington, afirmou que a mobilização “mostra que a sociedade brasileira não apenas vota, mas cobra e pressiona seus representantes de forma ativa, um sinal de maturidade democrática”.

Por outro lado, jornais europeus como El País alertaram para os riscos institucionais que pairam sobre o Brasil caso avancem propostas de anistia ou blindagem parlamentar. “Não se trata apenas de um debate interno, mas de um teste sobre até onde pode ir o compromisso brasileiro com os direitos humanos e com o Estado de Direito”, escreveu o jornal espanhol.

O desconforto da direita e da mídia tradicional

Assim como no Brasil, parte da imprensa internacional percebeu a tentativa de setores da direita de minimizar a força das manifestações. “Os jornalões brasileiros reconheceram os protestos, mas não sem relativizá-los, numa evidente demonstração de incômodo”, avaliou o cientista político argentino Ricardo Forster em entrevista à Página/12.

Uma mensagem que atravessa fronteiras

O gesto simbólico de estender a bandeira do Brasil no lugar onde bolsonaristas exibiram a dos Estados Unidos também repercutiu fora do país. Para o jurista português José Manuel Pureza, “foi um ato de soberania e de reapropriação da identidade nacional, um recado não apenas para dentro, mas para o mundo: o Brasil é do seu povo, não de projetos autoritários”.

Um Brasil de novo no mapa político global

A repercussão internacional reforça que o dia 21 não foi apenas mais um protesto, mas um episódio que recoloca o Brasil como protagonista no debate sobre democracia e instituições. Se, internamente, os atos deram novo fôlego à esquerda e à juventude, externamente projetaram a imagem de um país cuja sociedade civil não aceita retrocessos em silêncio.

“Políticos temem eleições, mas também temem o olhar do mundo”, resumiu um colunista do The Guardian. No domingo, ficou claro que as ruas brasileiras falaram alto — e o mundo escutou.