Tecnologia social nas periferias pode alavancar transição ecológica
Roda de conversa da Fundação Perseu Abramo debateu sustentabilidade, trabalho e participação comunitária em territórios vulneráveis
A Fundação Perseu Abramo (FPA), por meio do programa Reconexão Periferias, promoveu no dia 18 de agosto a roda de conversa “Transição ecológica, trabalho, meio ambiente e participação social nas periferias”.
O encontro online reuniu representantes do governo federal, organizações sociais e técnicos para discutir práticas e políticas públicas que integrem justiça social e sustentabilidade. O resultado do debate será publicado em um caderno com subsídios para a formulação de ações voltadas às periferias.
O vice-presidente da FPA, Brenno Almeida, destacou que a candidatura do Brasil para sediar a COP30 reflete a autoridade do país para conduzir o debate sobre transição ecológica.
“Tudo isso nos credencia a ter esse olhar da participação social nas periferias, na perspectiva da transição ecológica. E dialoga com a necessidade de levarmos essa reflexão até as bases”, disse.
Crise climática e desigualdades
O secretário Nacional de Periferias do Ministério das Cidades, Guilherme Simões, ressaltou a necessidade de integrar a agenda climática ao combate às desigualdades.
Segundo ele, moradores de regiões vulneráveis são até quinze vezes mais afetados por enchentes, secas e tempestades do que populações em áreas com infraestrutura adequada.
“Na periferia de São Paulo, há ilhas de calor de até dez graus a mais do que no centro expandido. É preciso pensar a relação entre precariedade urbana e os efeitos das mudanças climáticas”, afirmou.
Simões também destacou o potencial de inovação das comunidades. “A ausência e as contradições do Estado ajudaram a construir o que chamamos de economia da sobrevivência. As cozinhas solidárias são um exemplo que chegou ao governo e se transformou em política pública”, disse.
Poluição e governança
O secretário Nacional de Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Adalberto Maluf, afirmou que periferias têm “o dobro e até três vezes mais poluição e mortes associadas” do que bairros mais ricos e arborizados. Para ele, é urgente criar mecanismos de governança que considerem o recorte territorial. “As periferias são espaços de criatividade e tecnologias sociais, fundamentais para a economia verde”, disse.
Maluf informou que a pasta concluiu uma plataforma com 44 indicadores de saúde ambiental para orientar políticas públicas, com atenção especial à primeira infância e aos adolescentes.
“O meio ambiente é a agenda mais transversal do governo Lula, presente em 29 ministérios. Isso garante execução na ponta e priorização da qualidade de vida”, afirmou.
Participação comunitária
O gerente de Projetos Estratégicos da Fundação Tide Setúbal, Marcelo Ribeiro, apresentou experiências do bairro Jardim Lapenna, no extremo leste de São Paulo.
A comunidade estruturou um plano de bairro, com nove grupos temáticos e comitês culturais formados por dezenas de artistas locais. Durante a pandemia, surgiram iniciativas de acolhimento às vítimas de violência de gênero, lideradas por cerca de 200 mulheres.
Para Ribeiro, a diversidade das periferias, quilombos, comunidades indígenas e ribeirinhas deve estar no centro do debate climático. “Esses grupos não são apenas vítimas. Eles têm produzido soluções de mitigação e adaptação que podem ser inseridas em políticas públicas”, afirmou.