Aumento de tarifas imposto por Donald Trump atinge setores estratégicos e já provoca retração nas exportações, queda de receita, risco para produtores rurais e ameaça a 150 mil empregos no Brasil; MST fala em ataque à soberania e indústria cobra reação imediata

Tarifaço de Trump já afeta exportações e acende alerta no campo
Agronegócio brasileiro sob pressão: tarifaço de Trump atinge produtos como carne, milho e etanol, afetando exportações de até US$ 4,2 bilhões por ano e colocando 150 mil empregos em risco, segundo estimativas da AEB e da CNI. Foto: CNA/Wenderson Araujo

As novas tarifas impostas pelo governo de Donald Trump contra produtos brasileiros já começam a provocar impactos imediatos na economia. O tarifaço, anunciado na semana passada, atinge setores estratégicos como aço, alumínio, carne bovina, milho e etanol. As alíquotas, que chegaram a até 60% em alguns casos, foram classificadas por especialistas como uma retaliação política e comercial, com forte efeito sobre o agronegócio e a indústria nacional.

De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as tarifas podem gerar perdas de até US$ 4,2 bilhões por ano nas exportações brasileiras. Só o setor de siderurgia estima uma retração de 30% nas vendas aos EUA, segundo o Instituto Aço Brasil.

“Com essa medida, Trump mira diretamente na competitividade brasileira. Os embarques de aço e alumínio já estão sendo revistos por empresas que não conseguem absorver o custo adicional”, explica José Carlos Martins, presidente da AEB.

Exportações ameaçadas e impacto no campo

O setor agropecuário também começa a sentir os reflexos. Segundo a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), os EUA representam 12% das exportações brasileiras de carne bovina in natura – e as novas tarifas podem provocar uma queda de até US$ 1 bilhão por ano.

Além disso, há risco de desestabilização nos preços internos. “Com a dificuldade de escoamento para o exterior, há tendência de excesso de oferta no mercado interno, o que pode desvalorizar produtos e afetar pequenos e médios produtores”, explica Lígia Dutra, economista da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Movimentos sociais reagem

Organizações populares e movimentos sociais reagiram com críticas à ofensiva norte-americana. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota afirmando que o tarifaço é um “ataque à soberania nacional” e cobra do governo brasileiro uma resposta firme.

“Essas tarifas punem o povo brasileiro e beneficiam grandes corporações dos EUA. O Brasil não pode se submeter a chantagens de uma potência que, historicamente, explora os países do Sul global”, diz trecho da nota assinada pela direção nacional do movimento.

Em áreas de assentamento no Mato Grosso e no Paraná, cooperativas ligadas ao MST já relatam dificuldade para escoar a produção de milho e feijão destinados a contratos indiretos com exportadores.

Governo e indústria articulam resposta

O governo brasileiro, por meio dos ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores, anunciou que irá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e está estudando a adoção de medidas de reciprocidade. Técnicos do Itamaraty falam em possíveis sanções a produtos norte-americanos ou realinhamento de acordos com outros países, como China e Índia.

Enquanto isso, lideranças do Congresso defendem um pacto nacional para proteger os setores atingidos. “Precisamos defender o Brasil. A soberania econômica é parte da nossa soberania nacional”, afirmou o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se mantidas, as tarifas podem derrubar em 0,3 ponto percentual o PIB brasileiro de 2025, com efeitos mais graves sobre as regiões Norte e Centro-Oeste, onde se concentram a produção agropecuária e parte das indústrias de transformação.

Resposta do mercado

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou forte preocupação com os efeitos imediatos do tarifaço e cobrou uma resposta “rápida, proporcional e estratégica” do governo. Em nota oficial, a entidade afirmou que o aumento das tarifas “compromete a previsibilidade das exportações e afeta diretamente a cadeia produtiva da indústria nacional”, especialmente nos segmentos de siderurgia, metalurgia, papel e celulose, alimentos processados e químicos.

A CNI estima que os impactos podem ameaçar cerca de 150 mil empregos diretos e indiretos nas regiões Sul e Sudeste, onde se concentram os principais polos industriais afetados. A confederação também defendeu a ampliação de acordos comerciais com mercados alternativos, como China, União Europeia e países africanos, para reduzir a dependência do mercado norte-americano.