Lula defende reconstrução nacional com base na soberania e cobra unidade no PT
No 17º Encontro Nacional do PT, o presidente destacou o papel histórico do partido, criticou o golpismo da extrema direita e reafirmou que o Brasil não aceitará submissão a interesses estrangeiros

No encerramento do 17º Encontro Nacional do PT, realizado em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso direto, político e carregado de simbolismo histórico. Diante da nova direção partidária, Lula resgatou os fundamentos do PT, cobrou disciplina interna, alertou para os desafios eleitorais e reafirmou o papel do partido na reconstrução do Brasil.
“O PT, com todos os defeitos que a gente acha que tem, ainda é a melhor coisa que nós fomos capazes de criar em 500 anos de país”, afirmou, diante de uma plateia repleta de quadros históricos da legenda.
Em seu discurso, o presidente Lula traçou um panorama da trajetória do PT desde sua fundação e apontou a necessidade de retomada dos princípios que orientaram sua criação. “Se a gente mantiver os sonhos que nos levaram a criar o PT, a gente não estaria reclamando nunca do PT”, disse.
O presidente fez referência, ainda, aos fundadores do partido e alertou para o risco de despolitização interna: “Era importante que cada companheiro lesse o manifesto do PT e colocasse esse manifesto em um lugar bem visível”.
Citando a votação parlamentar da esquerda nas últimas eleições, Lula reforçou a importância de pensar o partido de forma estratégica. “Se nós fôssemos bons como pensamos que somos, a gente teria elegido pelo menos 140 ou 150 [deputados]”, apontou. “Nós precisamos agora fazer uma eleição de 2026 e eleger uma maioria de senadores.”
Unidade e responsabilidade partidária
Dirigindo-se diretamente aos delegados e dirigentes eleitos, Lula criticou personalismos, divisionismos e práticas locais que contradizem a linha nacional. “O PT está precisando, nesse instante, de uma direção mais exigente do que nós fomos até agora”, afirmou. “É importante as pessoas, de vez em quando, perguntarem se o partido quer que seja ele.”
Sobre os desafios da governabilidade, o presidente destacou a necessidade de negociação e articulação institucional.
“A arte da política é você convencer quem não pensa igual a gente a votar nas coisas que nós mandamos.” E reforçou: “A gente pode ser pessimista quando é candidato, mas quando você ganha, você tem que cair na real. Se não, você não governa.”
Fundação Perseu Abramo e o papel da formação
Em sua fala, Lula destacou o papel da Fundação Perseu Abramo e dirigiu-se ao presidente da entidade, Paulo Okamotto, para reforçar a necessidade de ampliação do debate sobre democracia e soberania popular.
“Falta muita coisa para a gente fazer. Seria preciso fazer com que o povo compreenda uma narrativa sobre o que é democracia”, afirmou. “A democracia tem que dar para o povo alguma coisa prática, material.”
Ao relembrar os cursos e espaços de formação promovidos pela Fundação, Lula reforçou que é papel do partido e de suas entidades mobilizarem a consciência política da base.
“Eu queria, Paulo Okamotto, que nos cursos que você faz na fundação, na política que você faz hoje, Edinho, ressaltar que é preciso, além da democracia, a gente colocar uma palavra muito forte, que é a palavra soberania”, pontuou o presidente, que elogiou o trabalho desenvolvido pela FPA.
A instituição marcou presença na organização do encontro e na promoção do Seminário “A realidade brasileira e os desafios do PT”, com dois encontros que discutiram justiça climática, a COP 30 e a justiça tributária.
Soberania, extrema direita e política internacional
No trecho mais contundente do discurso, Lula fez duras críticas à extrema direita, denunciou traições ao interesse nacional e reafirmou a soberania como princípio inegociável.
“Não é possível que fascistas, nazistas fiquem desfilando com as coisas nacionais, contando mentira e traindo a pátria”, disse. Sem citar nomes, condenou os ataques ao Brasil em solo estrangeiro.
“Renunciar ao mandato de deputado para ir lá ficar lambendo as botas do Trump e pedindo para ele taxar o Brasil mais alto é a excrescência da excrescência política.”
Lula reafirmou que o Brasil não aceitará ataques à sua autonomia. “Nós queremos ser respeitados pelo nosso tamanho. Nós temos interesses econômicos, temos interesses estratégicos. Nós queremos crescer e nós não somos uma republiqueta.”
O presidente também lembrou o esforço do governo em abrir novos mercados, fechar acordos multilaterais e retomar o protagonismo internacional do país. “Em apenas dois anos: 398 novos mercados para os produtos brasileiros”, destacou.
Compromisso com o povo e com o futuro
Ao longo do discurso, Lula voltou a destacar as conquistas sociais do governo. “Sair do mapa da fome em apenas 2 anos e meio de governo é uma proeza.” E lembrou sua fala de 2003: “Se ao terminar o meu mandato eu tivesse conquistado o direito de cada mulher, de cada homem e de cada criança, tivesse almoçado, tomado café e jantado, eu teria realizado a missão da minha vida.”
Sem cravar candidatura, o presidente acenou com disposição para 2026, cobrando planejamento e foco na vitória da extrema direita.
“Se eu for candidato, eu não vou disputar. Eu vou ser candidato para ganhar as eleições.” E arrematou: “Se eles não estão contentes com o que a gente está fazendo em apenas três mandatos, se preparem, porque pode ter o quarto mandato.”