Seminário debate avanços no setor empresarial com Nova Indústria Brasil
Com financiamento do BNDES, a política pública para o desenvolvimento industrial apresenta bons resultados, segundo governo, empresários e trabalhadores

Com realização da Fundação Perseu Abramo e apoio do Instituto Lula, o evento “Nova Indústria Brasil e o futuro dos empregos” ocorreu nesta segunda-feira (14) no Hotel InterContinental, em São Paulo, com a participação de sindicalistas, representantes do setor empresarial e da política.
O presidente da fundação, Paulo Okamotto, ao recepcionar os convidados, explicou a iniciativa de organização do debate tendo como horizonte a formação política, um pilar central das atividades da FPA. “A esquerda precisa ter argumentos para a defesa do que estamos fazendo em todas as áreas”, diz Okamotto.
Participaram da discussão: Uallace Moreira Lima, secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Marília Bassetti, professora da UFRJ e assessora do BNDES; Reginaldo Arcuri, representante do setor empresarial farmacêutico; Aroaldo Oliveira da Silva, presidente da IndustriALL Brasil e diretor do sindicato dos metalúrgicos do ABC.

O programa
Como tema do evento, a principal política pública do governo Lula 3 para o setor, o programa Nova Indústria Brasil, foi destrinchado pelo Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC, Uallace Moreira, que destacou como ponto fundamental a participação e escuta dos principais atores envolvidos no assunto.
O secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços lembrou que o Nova Indústria Brasil é resultado dos debates que foram realizados ainda no âmbito do programa de governo e que seu funcionamento é articulado com outras políticas como o Novo PAC, coordenado pela Casa Civil, e o Plano de Transição Ecológica, puxado pelo Ministério da Fazenda.
Além disso, as ações são dialogadas no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, o CNDI, que tem a participação do BNDES, 24 ministérios e 25 representantes da sociedade civil.
O desenvolvimento do programa vislumbra o ano de 2033, tendo em vista que os resultados no setor precisam de tempo para serem medidos, mas alguns objetivos devem ser alcançados até 2026, uma meta intermediária, ao fim da atual gestão do presidente Lula.
Segundo Moreira, em uma perspectiva da política industrial moderna, a NIB possui seis missões, organizadas a partir de metas concretas. Os eixos são: 1.Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais; 2. Complexo econômico industrial da saúde resiliente; 3. Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis; 4. Transformação digital da indústria; 5. Bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas; 6. Tecnologias de interesse para a soberania e defesa nacionais.
O secretário do MDIC deu como exemplo a importância do Plano Safra para o crescimento e a previsibilidade do agronegócio, apontando os subsídios e as linhas de crédito como um caminho interessante para o desenvolvimento. Para impulsionar a indústria, o braço financeiro da NIB, o Plano Mais Produção, já investiu até agora em mais de 168 mil projetos.
Além da injeção de recursos, para destravar o setor, há um esforço de identificação das redes e ecossistemas das cadeias produtivas com parcerias com as universidades e pólos tecnológicos, em um Grupo de Trabalho criado na pasta.
“É importante falar que encontramos terra arrasada quando chegamos, as pessoas realmente não têm ideia. A destruição é muito fácil, o reconstruir é que é mais difícil”, diz Moreira.
No ano passado, o crescimento do setor foi bastante expressivo, com alta de 5,6%, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria, o melhor índice dos últimos 14 anos. “Isso ocorreu graças às políticas públicas”, defende o secretário, que emenda: “a NIB precisa ser transformada em uma política de Estado, não só desse governo, ela precisa ficar no futuro”.
BNDES
Assessora do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, e professora no Instituto de Economia da UFRJ, Marília Bassetti trouxe a informação de que os investimentos do banco para o setor industrial superaram o aporte ao agronegócio, o que não ocorria desde 2017.
O investimento total do BNDES no Nova Indústria Brasil foi recentemente ampliado para R$ 300 bilhões, o maior da história. Até agora, o banco já investiu R$ 208 bilhões, 80% da meta prevista para 2026.
De acordo com a assessora do banco, somente a partir do impulsionamento com o NIB, o Brasil já criou 307 mil empregos formais na cadeia industrial. Bassetti disse que “tudo o que o Brasil produz é importante” e pontuou a relevância da diversificação e sofisticação produtivas. “É preciso deixar o viralatismo de lado e entender o tamanho da nossa indústria”, opina.
A economista afirmou que os investimentos têm por objetivo deixar a indústria brasileira mais inovadora, digital e verde, e que as metas estratégicas são importantes, mas, sem os instrumentos, não é possível alcançar os resultados.

Empresários e trabalhadores
Reginaldo Arcuri, presidente do grupo FarmaBrasil, relatou o avanço da indústria farmacêutica no Brasil ao longo dos anos, em especial com a criação da Anvisa no final dos anos 90 e a aprovação da Lei dos Genéricos, além da grande demanda a partir do fortalecimento do SUS com os governos progressistas e o aumento da renda da população.
Arcuri afirmou que, apesar dos avanços estruturais no setor, o país ainda tem o desafio do déficit em Insumos Farmacêuticos Ativos, os IFAs, que são importados de uma série de países, após a destruição da cadeia de químicos finos promovida na gestão de Fernando Collor.
Nas seis grandes indústrias farmacêuticas instaladas no país, “o setor está superaquecido, há melhores salários, paridade de gênero e maior qualificação da força de trabalho”, comenta o representante do setor empresarial.
Aroaldo Oliveira da Silva, presidente do IndustriALL Brasil, uma articulação de representações sindicais de trabalhadores dos setores de metalurgia, química, mineração, têxtil, alimentação, construção civil e energia, e diretor do sindicato dos metalúrgicos do ABC, apontou o poder multiplicador, onde a cada um real investido na indústria, 2,44 são injetados na economia.
Ele afirmou a necessidade de que a transição ecológica seja justa sob os aspectos ambiental, social e econômico e mostrou a preocupação dos trabalhadores do setor com o avanço desenfreado do uso da Inteligência Artificial.
Para o sindicalista, é necessário proteger os trabalhadores diante das mudanças impulsionadas por automação, digitalização e descarbonização. “A política industrial tem que ser uma política da sociedade, o motor do desenvolvimento do país, para dar qualidade de vida ao povo brasileiro”, diz.