“O Brasil reitera sua posição histórica em favor do uso exclusivo da energia nuclear para fins pacíficos”, diz nota do Itamaraty

Trump e Netanyahu reacendem guerra no Oriente Médio com ataque ao Irã
Foto: Casa Branca


O ataque coordenado dos Estados Unidos e de Israel contra instalações nucleares no Irã deflagrou uma escalada bélica que pôs a geopolítica em suspensão à espreita dos próximos passos. 

Em apenas doze dias de conflito, desde o ataque de Israel ao Irã, mais de 600 iranianos foram mortos, entre eles, 49 mulheres e 13 crianças, e ao menos 28 civis israelenses também perderam a vida. As ofensivas cruzadas entre Teerã e Tel Aviv mergulharam o Oriente Médio em um novo ciclo de tensão, expondo o esgotamento das vias diplomáticas e o avanço da lógica belicista como instrumento de poder geopolítico.

A operação começou em 13 de junho, com o bombardeio israelense de alvos nucleares e militares em território iraniano. Rapidamente, Teerã retaliou com mísseis sobre Tel Aviv, Haifa e Jerusalém. Em seguida, Donald Trump anunciou pessoalmente a entrada dos EUA na guerra, lançando bombas GBU-57, capazes de atravessar bunkers, sobre as instalações de Fordow, Esfahan e Natanz. As ações, coordenadas com Israel, foram apresentadas como um esforço para “remover a maior ameaça do mundo livre”, nas palavras do embaixador israelense na ONU.

A guerra e seus nomes próprios
Enquanto Israel usava o pretexto do “direito à autodefesa” para justificar os ataques, cresciam os indícios de que a escalada tinha também um objetivo político: sustentar a frágil popularidade de Benjamin Netanyahu. Acusado internacionalmente pelo genocídio em Gaza e cada vez mais pressionado internamente, o primeiro-ministro israelense encontrou no conflito uma tábua de salvação, e Trump, um aliado disposto a apertar o gatilho.

O apoio dos EUA, no entanto, não foi unânime. Dentro do próprio Partido Republicano, vozes da extrema direita como Steve Bannon e Tucker Carlson (apresentador e comentarista de TV norte-americano) criticaram a decisão de Trump de embarcar em “mais uma guerra sem fim”. O movimento MAGA (Make America Great Again) se dividiu, enquanto republicanos e democratas conservadores celebravam a destruição parcial do programa nuclear iraniano.

Reações globais e a resposta do Brasil
No plano internacional, a aliança entre Trump e Netanyahu acendeu alertas vermelhos. Rússia, China e diversas nações latino-americanas, incluindo o Brasil, condenaram veementemente a ofensiva militar e denunciaram a violação da soberania do Irã e do direito internacional.

O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, adotou um tom firme ao condenar os ataques. Em nota oficial, o Brasil afirmou:

“Qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e de normas da Agência Internacional de Energia Atômica. O governo brasileiro reitera sua posição histórica em favor do uso exclusivo da energia nuclear para fins pacíficos e rejeita com firmeza qualquer forma de proliferação nuclear, especialmente em regiões marcadas por instabilidade geopolítica, como o Oriente Médio.”

A posição brasileira reforça o princípio da não proliferação nuclear e denuncia o duplo padrão vigente: enquanto o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação e coopera com inspeções da AIEA, Israel não reconhece o tratado, embora possua um arsenal estimado em 90 ogivas atômicas, um “segredo” ventilado, mas jamais admitido oficialmente.

Trégua sob suspeita
O cessar-fogo anunciado por Trump no dia 24 de junho foi recebido com desconfiança. Horas depois do anúncio, Israel acusou o Irã de violar o acordo ao lançar um míssil sobre seu território, acusação negada por Teerã. Trump, por sua vez, declarou estar “descontente” com os dois lados, afirmando que “lutam tanto que já não sabem o que estão fazendo”.

Apesar da trégua formal, ataques pontuais continuaram sendo registrados. O próprio Trump chegou a pedir, em tom exasperado: “Não despeje essas bombas. Se fizer, será uma grande violação”. No Irã, o presidente Masoud Pezashkian classificou o cessar-fogo como uma vitória da resistência. Já o governo israelense declarou ter atingido “todos os objetivos estratégicos”, ainda que os danos ao programa nuclear iraniano tenham sido considerados limitados por especialistas internacionais.

Trump e Netanyahu reacendem guerra no Oriente Médio com ataque ao Irã
Foto: Wikimedia Commons

A lógica da destruição
O conflito escancarou a fragilidade da arquitetura internacional de segurança. Para o economista Jeffrey Sachs, o ataque americano foi feito sob encomenda de Netanyahu: “Foi Netanyahu quem mandou. Trump apenas seguiu ordens.” Em entrevista recente, Sachs lembrou que, segundo a própria inteligência americana, o Irã não desenvolve armas nucleares desde 2002 e mesmo assim foi atacado.

A ONU, mais uma vez, mostrou-se impotente. Apesar de a maioria dos países condenar a ofensiva, os EUA vetaram qualquer resolução crítica no Conselho de Segurança. O resultado foi a repetição de um padrão: os aliados de Israel agem com impunidade, enquanto o mundo assiste.

A beira do abismo
A guerra aérea entre Teerã e Tel Aviv parece, por ora, contida. Mas o risco de uma escalada terrestre e regional permanece. O petróleo disparou no mercado internacional, e a desestabilização ameaça atingir o Líbano, a Síria e o Iraque. O Catar, que interceptou mísseis iranianos contra bases dos EUA, já alertou para “consequências catastróficas”.

A disputa, como sempre, é travada sob o pretexto da segurança, mas com alvos civis. Entre os mortos estão crianças, mulheres, jornalistas e prisioneiros políticos. O Irã, que já executa quase mil pessoas por ano, transferiu detentos da prisão de Evin após bombardeios israelenses. Em Israel, abrigos lotados e cidades em alerta completam o quadro de pânico.

O papel do Brasil
O que está em curso não é apenas uma guerra: é a reafirmação do poder imperialista em um mundo cada vez mais instável. Ao lado de Netanyahu, Trump tenta mostrar força enquanto se reposiciona na política doméstica dos EUA. O bombardeio ao Irã não interrompeu o programa nuclear, mas reforçou a ideia, entre setores do regime iraniano, de que só a bomba garantiria sua sobrevivência.

Nesse cenário, o posicionamento do Brasil ganha relevância. Ao defender a paz, o uso civil da energia nuclear e o respeito à soberania dos povos, o governo Lula resgata uma tradição histórica da diplomacia brasileira e afirma ao mundo que, mesmo em tempos de barbárie, é possível manter o compromisso com o direito internacional e com a vida.