Presidente participou da reunião ampliada do G7 no Canadá, defendeu a COP 30, criticou os gastos militares e cobrou mais representatividade para o Sul Global

Lula no G7: “É hora de devolver à ONU o protagonismo pela paz”
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, no dia 17 de junho, da reunião ampliada da Cúpula do G7, realizada em Kananaskis, no Canadá. O convite partiu diretamente do primeiro-ministro canadense, Mark Carney, que telefonou pessoalmente ao chefe de Estado brasileiro para formalizar a participação. Também estiveram presentes representantes da África do Sul, Índia (ambos membros do BRICS), Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos e México.

Durante as intervenções, Lula defendeu a realização da COP 30 no Brasil, reafirmou a urgência climática, cobrou reforma nas instituições multilaterais e propôs que o FMI atue com mais atenção às necessidades dos países do Sul Global.

A pauta ambiental como prioridade

Na abertura de sua fala, Lula lembrou que a mudança do clima exige ação imediata e coletiva. “O G7 nasceu em reação às crises do petróleo. Os choques dos anos setenta mostraram que a dependência de combustíveis fósseis condena o planeta a um futuro incerto. Mas o mundo resiste em aceitar que a diversificação é chave para a segurança energética”, afirmou.

O presidente ressaltou que o Brasil é referência global em energias renováveis. “Fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. Noventa por cento da nossa matriz elétrica provém de fontes limpas. Somos hoje o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis.”

O anfitrião da Cúpula, Mark Carney, elogiou o papel do Brasil e destacou a importância da COP 30, que será realizada em Belém (PA). “Será a reunião mais importante do ano, e não há ninguém melhor para liderar esse esforço que você”, declarou, dirigindo-se a Lula.

Lula no G7: “É hora de devolver à ONU o protagonismo pela paz”
Foto: Ricardo Stuckert/PR

ONU precisa recuperar protagonismo

O presidente brasileiro também cobrou o resgate do papel da ONU como espaço legítimo para o diálogo e a mediação de conflitos. “Estão sentados em torno desta mesa três membros permanentes do Conselho de Segurança e outras nações com tradição na defesa da paz. É o momento de devolver o protagonismo à ONU.”

Lula sugeriu que o Secretário-Geral da organização convoque um grupo representativo de países comprometidos com a paz. “É preciso restituir à ONU a prerrogativa de ser a casa do entendimento e do diálogo”, afirmou.

Ele também criticou o uso da guerra como instrumento de política internacional. “Ano após ano, guerras e conflitos se acumulam, gastos militares consomem anualmente o equivalente ao PIB da Itália. São 2,7 trilhões de dólares que poderiam ser investidos no combate à fome e na transição justa.”

Sobre a guerra na Ucrânia, Lula reiterou que não haverá vitória pela via militar. “Só o diálogo entre as partes pode conduzir a um cessar-fogo e pavimentar o caminho para uma paz duradoura.” E sobre Gaza, foi enfático: “Nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças e o uso da fome como arma de guerra.”

Por um FMI mais justo

A agenda econômica também teve espaço no discurso brasileiro. Lula destacou a concentração de poder nas instituições financeiras multilaterais e cobrou mais representatividade para os países em desenvolvimento. “Os membros do G7 detêm mais de 40% do poder de voto no Banco Mundial e no FMI. Tornar essas instituições mais representativas é crucial para aproximá-las das necessidades do Sul Global.”

Ele lembrou que muitos países endividados não têm meios para implementar transições energéticas. “Instrumentos como a troca de dívida por desenvolvimento e a emissão de direitos especiais de saque podem mobilizar recursos valiosos”, sugeriu.

50 anos de G7

Criado há 50 anos, o G7 surgiu por iniciativa do então presidente francês Valéry Giscard d’Estaing, com o objetivo de reunir os países mais industrializados do mundo para tratar de temas econômicos globais. Atualmente, o grupo é formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da União Europeia como convidada permanente.