‘Homem com H’ estreia no streaming após sucesso com mais de 600 mil espectadores nos cinemas
Pesquisa detalhada e acesso a um vasto acervo pessoal de Ney Matogrosso foram fundamentais para a reconstrução fiel da trajetória e dos ambientes em Homem com H

Foto: Marina Vancini/Still oficial
Desde sua estreia, em 1º de maio, Homem com H já levou às salas de cinema mais de 600 mil espectadores e arrecadou mais de R$ 13 milhões. À revelia da onda conservadora que assola a humanidade, o longa, roteirizado e dirigido por Esmir Filho, conquistou a crítica e tocou o coração do grande público. O filme mostra com sensibilidade a determinação do grande ídolo Ney Matogrosso em sua luta pela liberdade de ser quem é. Uma trajetória difícil, iniciada na ditadura militar, e que continua a surpreender pela vitalidade transbordante do artista aos 83 anos, a cada vez que sobe ao palco.
Para Esmir Filho, o filme comove justamente porque não pretende gerar embate. Ao contrário, busca o diálogo e traz uma mensagem muito importante. “Estou falando de um homem que sofreu repressão, queria amar daquela maneira, se relacionou com outros homens e queria se expressar. Se você souber como falar, olha só que legal: tem muita gente gostando. Para transmitir a mensagem e não ficar só falando com os seus iguais, vamos dizer assim, é importantíssimo ter esse atravessamento”, pontua.
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A reconstrução de cenários de várias décadas e os detalhes da ambientação, que levam o espectador a uma viagem no tempo, foram amparados por uma pesquisa primorosa iniciada em 2008 pelo cineasta Rafael Saar, quando trabalhou no documentário Olho Nu, dirigido por Joel Pizzini, a partir de um vasto material de arquivo do próprio Ney. Como já conhecia o trabalho, indicou Saar para a produção de Homem com H.
“Ney sempre teve o costume, quando ia a programas de tevê, de pedir uma cópia. Então, reuniu um acervo enorme de gravações, apresentações, entrevistas, shows. Eu tive contato com esse acervo e transcrevi tudo. Fiz a pesquisa de Olho Nu com a ajuda do Joel, que também é um grande pesquisador, e a gente foi encontrando vários temas aprofundados em Homem com H: a relação do Ney com o pai, por exemplo, a história dele em Mato Grosso do Sul, tudo isso já estava ali anteriormente”, relata.
Esse material foi o ponto de partida sobre o qual a produção se debruçou até entender o percurso do filme. A pesquisa de Saar passou então por temas específicos, como a relação de Ney com Cazuza, por exemplo, e demandas específicas do roteiro. Além das transcrições de entrevistas, trouxe muitas imagens de arquivo, shows, figurinos que foram base importante para a direção de arte na reconstrução dos cenários, inclusive imagens que não existem mais e foram recriadas a partir de fotografias.
Para Saar, Ney acabou sendo um norteador de toda a sua carreira, pois está em quase todos os filmes que fez até hoje. “Fiz o curta Depois de Tudo, no qual ele atua; Yorimatã, sobre a dupla de compositoras Luhli e Lucina, que ele me apresentou e gravou. Luhli é uma das personagens de Homem com H, é quem apresenta o Ney ao João Ricardo, dos Secos e Molhados”, relata.
O ator Jeff Lyrio, que faz o músico Gérson Conrad, um dos integrantes dos Secos e Molhados, lembra que ficou bastante feliz ao receber o roteiro, muito bem escrito, e deparar com o trabalho da equipe de arte e do figurino. “Eles fizeram uma pesquisa muito aprofundada. No espaço de trabalho, dava para observar registros e fotografias de todas as décadas, das roupas e looks da época, várias referências. E na arte, a mesma coisa. Foram minuciosos para tentar reproduzir alguns locais exatamente como eram. No nosso imaginário cultural, de uma maneira muito intensa, essas imagens dos Secos e Molhados, as músicas, estão no universo afetivo brasileiro. Então, foi muito forte fazer o filme”, relata.
Ele afirma que há poucos vídeos e entrevistas dos Secos e Molhados em registros abertos, e a construção do personagem foi baseada no que a história estava contando, nas músicas e no próprio artista, que acompanhou o processo de produção do filme, em contato com o diretor. “Ele nos passava o que o Ney pensava em relação a algo que havia acontecido na vida dele e estávamos reproduzindo em cena”.