Policial federal que vazava informações sobre a agenda do presidente Lula segue preso
O julgamento do núcleo 3 do plano de golpe de Jair Bolsonaro começa no dia 20 de maio, na 1ª Turma do STF. O relator, ministro Alexandre de Moraes, mantém policial federal em detenção para “resguardar a ordem pública”

Começa na terça-feira, dia 20 de maio, na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, o julgamento dos envolvidos na operação denominada Punhal Verde Amarelo, que planejou o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. Um quarto alvo, identificado como Juca, segundo divulgou a Folha de S.Paulo, seria o ex-ministro e ex-presidente do PT, José Dirceu.
De acordo com a PGR, os denunciados fazem parte do núcleo 3 e são acusados de planejar “ações táticas” para efetivar o plano golpista. O grupo é formado por 11 militares do Exército e um policial federal.
Segurança do presidente Lula
O policial federal Wladimir Matos Soares, com 22 anos de carreira na PF, anunciava em mensagens que estaria pronto para “matar meio mundo”. Sua participação no plano do golpe consistia em repassar informações sobre a segurança do presidente Lula. Ele fez parte da equipe de segurança durante a transição de governo, em 2022, e compartilhou detalhes sobre as rotas da comitiva presidencial.
A Polícia Federal conseguiu recuperar as conversas de WhatsApp no computador do agente. O relatório com a transcrição foi apensado ao processo. Em áudios trocados com comparsas, o agente federal declara que estava “preparado” para prender o ministro Alexandre de Moraes e que integraria o grupo responsável pela ação. “A gente estava preparado para isso, inclusive. Para ir prender o Alexandre Moraes. Eu ia estar na equipe”, disse ele, em conversa datada de 2 de janeiro de 2023.
O agente ainda menciona que, caso o plano fosse executado, haveria um grande número de vítimas: “A gente ia com muita vontade, a gente ia empurrar meio mundo de gente. Matar meio mundo de gente. Estava nem aí já, cara”, disse.
Em outra mensagem, Soares afirma que a posse de Lula não ocorreria porque eles “não permitiriam”. Segundo ele, a estratégia não avançou porque Bolsonaro não concordou em agir apenas com coronéis do Exército, já que os generais se opunham.
Em outro trecho, ele teria dito: “O povo aqui está desolado, ninguém entende. O próprio MRE, velho, os caras não entendiam, não se prepararam para essa posse, porque não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar. Mas aconteceu. E Bolsonaro faltou um pulso para dizer: não tem um general, tem um coronel. Vamos com os coronéis, porque a tropa toda queria. Toda. 100%. Só os generais que não deixavam”, declarou.
Wladimir Matos Soares é acusado dos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado. Ele está preso desde novembro de 2024. Antes do vazamento dos áudios, a defesa do acusado pediu sua liberdade. Em decisão datada de 12 de maio, o ministro Moraes manteve a prisão preventiva do agente, alegando que ele “atuou como elemento auxiliar do núcleo vinculado à tentativa de golpe de Estado, fornecendo informações relativas à segurança do candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva, fato que se enquadra no contexto do planejamento operacional Punhal Verde Amarelo, que descreveu a possibilidade de assassinar o presidente eleito”.
Começam os depoimentos das testemunhas sobre o plano de golpe de Bolsonaro
O Supremo Tribunal Federal iniciou, na segunda-feira, 19, a fase de oitivas no processo sobre a trama golpista investigada pela Corte. Ao longo das próximas duas semanas, o tribunal ouvirá mais de 80 testemunhas, indicadas tanto pela acusação quanto pelas defesas dos investigados considerados centrais no suposto plano de golpe.
Um dos depoimentos mais aguardados foi o do ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes. Durante seu depoimento, o general declarou que apenas informou o ex-presidente Jair Bolsonaro de que ele poderia ser “enquadrado juridicamente” caso tomasse uma medida ilegal, ressaltando que o Exército “não iria atuar em algo que extrapolasse nossa competência constitucional”, negando que tenha dado voz de prisão a Bolsonaro durante uma reunião no Palácio.
Segundo Freire Gomes, o ex-presidente teria apresentado ao grupo um texto com uma série de considerações e fundamentação jurídica para um golpe, sugerindo o uso das Forças Armadas em medidas como Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa ou estado de sítio após o resultado das eleições de outubro.
O objetivo seria intervir no TSE, que estava sob o comando de Moraes, anular o resultado do pleito e evitar a posse de Lula (PT). Freire Gomes disse que essa primeira versão do documento não surpreendeu os chefes militares.
O ministro do STF Alexandre de Moraes interrompeu o testemunho, advertindo o militar, que estava sob juramento. “A testemunha não pode omitir o que sabe. Vou dar uma chance para que fale a verdade. Se mentiu para a Polícia Federal, tem que admitir que mentiu”, afirmou Moraes.
O general rebateu as acusações, declarando que, após “50 anos de Exército, jamais mentiria”. Ele também mencionou o almirante Garnier, afirmando que o militar “tomou a postura de ficar com o presidente”, mas que não caberia a ele interpretar as intenções por trás daquela afirmação. “Eu sei exatamente o que falei e afirmo: ele disse que estava com o presidente. O que ele quis dizer com isso não me cabe inferir”, afirmou.