Mídia internacional reverencia legado de Mujica e destaca sua simplicidade, coerência política e impacto progressista no Uruguai e no mundo

Morte de Pepe Mujica é destaque nos principais veículos da Europa
Ricardo Stuckert

A morte de Pepe Mujica, ocupou o obituário das principais agências de notícia e jornais do mundo, no último dia 13 de maio. A informação manteve-se nas páginas dos principais veículos durante boa parte do dia e destacaram a inestimável contribuição política de José Mujica. O The Guardian iniciou a matéria apresentando uma entrevista final de Mujica onde ele teria dito que “estamos muito focados na riqueza e não na felicidade… Antes que você perceba, a vida passou”. O ex-presidente do Uruguai foi apresentado como um “ex-guerrilheiro marxista e floricultor cuja marca radical de democracia, filosofia simples e estilo de vida singelo fascinaram pessoas ao redor do mundo”.

A estatal France 24 destacou que a América Latina homenageou o uruguaio Mujica, o “presidente mais pobre” do mundo, um ícone da esquerda conhecido por sua humildade e políticas progressistas, “o ex-guerrilheiro, que passou 12 anos preso por atividades revolucionárias, sucumbiu a um câncer”. O France 24 destacou que Mujica dizia não ser pobre, mas que sua vida era de “austeridade”. “Preciso de pouco para viver”, disse ele à jornalistas franceses. O veículo salientou que Mujica transformou o Uruguai, um país próspero de 3,4 milhões de habitantes, em uma das sociedades mais progressistas da América Latina.

Para a All Jazeera, ele se tornou um ícone além das fronteiras do Uruguai, liderando seu país na busca por reformas ambientais, legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e flexibilização das restrições à maconha. Ele também foi celebrado por manter seu estilo de vida simples mesmo durante sua presidência, quando evitou o palácio presidencial em favor da fazenda onde cultivava flores dizendo ao site que a opulência pode “divorciar” os presidentes de seu povo. “Acredito que os políticos deveriam viver como a maioria de seu povo, não como a minoria privilegiada vive”, disse o líder latino-americano.

A Al Jazeera também destacou as manifestações da presidente do México, Claudia Sheinbaum, do presidente do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro.

O Jornal Público, de Portugal, destacou frases de Mujica em uma entrevista de abril de 2024, onde ele teria dito que “é fácil ter respeito por quem pensa de forma semelhante, mas é preciso aprender que a base da democracia é ter respeito por quem pensa diferente”. 

Em uma bela sequência de fotos de Pepe Mujica com seu Fusca azul, explicou que ele foi impedido pela Constituição uruguaia de concorrer a um segundo mandato e que deixou o cargo com grande popularidade, liderando um país com indicadores econômicos e sociais superiores aos de seus vizinhos sul-americanos. 

O Global Times, da China, também noticiou a morte de Pepe Mujica, com nota para a manifestação do Ministério de Assuntos Exteriores de “profundas condolências”.

Na Espanha, o El País apresentou um editorial onde destacou a trajetória e liderança de um político coerente com prática e discurso que apesar dos anos de cárcere, tortura e clandestinidade, não cultivou o ódio. “A morte de José Mujica aos 89 anos põe fim a uma vida que foi, em si, uma lição de política. Política não entendida como cálculo, estratégia ou mero exercício de poder, mas como compromisso e coerência. Em uma época marcada pela desconfiança pública em relação aos líderes políticos, Mujica representou, até o fim, uma forma rara de autoridade: uma que não é imposta, mas conquistada. Aquela que não precisa levantar a voz para ser ouvida. Uma que seja construída com base no exemplo pessoal, não em espetáculo partidário”, disse o editorial.