Com inscrições abertas, serviço da FPA apoia militância para trabalho de base
Podem se inscrever militantes de diferentes áreas de atuação; atendimentos ocorrem via zoom com hora marcada

O ativismo, em especial nas periferias brasileiras, nas mais diferentes frentes de atuação, é muito importante para a construção cotidiana do Partido dos Trabalhadores. Neste sentido, desde o ano passado, a Fundação Perseu Abramo atua mais fortemente sobre o assunto, por meio de um grupo temático sobre trabalho de base.
De acordo com Wellington Souza, monitor do projeto, os trabalhos começaram a partir de um grupo piloto com cerca de 20 pessoas debruçadas sobre o tema em diferentes áreas. “Muitos militantes dentro do partido tem uma causa, uma bandeira a qual defendem, algo pelo o qual lutam, e muitas vezes esses militantes têm dificuldade em começar um trabalho de base, em viabilizar, colocar as ideias em prática”, pondera Souza.
Após o período inicial com testes e encontros presenciais, no início deste ano, o grupo entrou em uma nova fase, colocando em prática um serviço de atendimento ao trabalho de base. “A metodologia é a partir desses formadores que foram selecionados, eles prestam atendimento, tiram as dúvidas das pessoas interessadas que preencheram um formulário que distribuímos online. Algumas já tem um trabalho iniciado, outras ainda vão começar”, explica o monitor.
A ideia, segundo a organização, é que os atendimentos se encaixem na rotina agitada da militância, com encontros rápidos via Zoom, com cerca de 30 minutos de duração. “Os feedbacks que estamos recebendo estão muito positivos porque a militância sente que o partido está olhando para essa questão, se sentem acolhidos”, diz Souza.
As inscrições para o serviço podem ser feitas no site do projeto. Além disso, a página disponibiliza também uma série de vídeos de apoio bastante didáticos com um passo a passo para militantes que queiram iniciar este tipo de trabalho e uma cartilha com orientações.

A força militante
“Eu só juntei tudo o que já acontece na periferia. A cultura dentro da periferia é viva, é orgânica”, diz o idealizador do Muvuca Cultural, evento que reúne apresentações culturais, serviços de beleza afro e brinquedos para as crianças das comunidades em Porto Alegre.
Gaúcho, criado na região da grande Cruzeiro, na zona sul da capital, Agnaldo Munhoz, 48 anos, tem propriedade para falar sobre a importância da realização de atividades culturais na periferia e é um exemplo, dentre tantos, do perfil militante que o programa pretende atrair.
Nos anos 90, vivendo uma realidade na qual imperava a convivência com gangues, responsáveis por furtos e pequenos roubos, o produtor cultural conseguiu escapar das estatísticas, como ele costuma dizer, quando começou a ouvir rap. “A morte sempre foi algo que esteve muito perto de mim”, lembra.
Do rap ao entendimento da vastidão da cultura hip-hop, o jovem Agnaldo viu sua autoestima melhorar até que, em 1998, criou o grupo Dinastia Negra Absoluta, conhecido também como DNA MCs. “Além da música, a gente fazia grupos de estudos com a temática negra, meu letramento racial começou ali”, conta Munhoz.

A partir do estabelecimento do grupo de rap, começaram as apresentações, inicialmente, na periferia, em quermesses, quando, por necessidade, seu talento como produtor cultural aflorou junto com o sucesso na música.
Enquanto o rap da periferia de Porto Alegre ganhava a cidade e outros estados a partir de produções realizadas por seus integrantes, a cultura hip hop local estava engajada na eleição de Olívio Dutra (PT) para o governo do estado. Com a vitória do petista, a TV Educativa abriu um espaço para que a militância cultural desta cena pudesse ter um programa, o “Hip Hop Sul”, que durou 13 anos, com Agnaldo na apresentação.
“O hip hop é uma comunicação de massa”, opina Munhoz. Para ele, uma experiência bastante significativa para o intercâmbio entre a produção cultural e a política foi a do Orçamento Participativo, do qual foi delegado nos anos 90. “Quando eu percebi, eu já era um fomentador cultural da minha quebrada”, diz.
Após uma trajetória de militância no PCdoB na juventude, e a jornada na comunicação e na música no início da fase adulta, Agnaldo Munhoz se filiou ao PT, logo após a prisão do presidente Lula. Na construção do mandato da deputada Maria do Rosário, desde 2022, elaborou o projeto conhecido como “Muvuca Cultural”, citado no início da reportagem.
Para o agente cultural, além de fomentar a cultura periférica, o projeto propicia um intercâmbio com a militância de outras regiões. Com mais de 70 artistas e cerca de 800 pessoas impactadas indiretamente a cada edição, o Muvuca Cultural já foi realizado na Lomba do Pinheiro, Grande Restinga e COHAB Cavalhada.