Espetáculo gratuito da cantora reuniu 2,1 milhões de pessoas no Rio de Janeiro e entrou para a história

Lady Gaga no Rio: quando o palco é também plateia
A cantora Lady Gaga e seus bailarinos vestidos com as cores e a camiseta da CBF
Foto: Reprodução TV Globo

Três dias se passaram desde o histórico show de Lady Gaga em Copacabana, no Rio de Janeiro, apresentação que marcou o retorno da cantora ao Brasil após dez anos, com a nova turnê, Mayhem, no último 3 de maio. Ainda assim, o espetáculo continua reverberando em imagens compartilhadas por fãs e na emoção visível da própria artista ao lado da equipe no palco, que parecia não acreditar no que via ao encerrar a presentação.

Uma verdadeira consagração de Gaga nas areias cariocas, diante de um público estimado em 2,1 milhões de pessoas, segundo a Riotur e a Polícia Militar — o maior da carreira da cantora e o maior já registrado por uma artista solo feminina.

Antes de deixar o Brasil, Gaga publicou a única menção ao show em suas redes sociais. No Instagram, escreveu: “Nada poderia ter me preparado para o sentimento que tive durante o show de ontem à noite – o orgulho e a alegria absolutos que senti ao cantar para o povo do Brasil. Obrigada, Rio, por esperar que eu voltasse. Eu amo você. Jamais esquecerei esse momento.”

Lady Gaga no Rio: quando o palco é também plateia
A praia de Copacabana lotada: público estimado em 2,1 milhões de pessoas Foto: Prefeitura do Rio

Todo mundo no Rio

Em 2024, foi Madonna quem inaugurou o que já se desenha como uma festa oficial do calendário carioca. A rainha do pop se apresentou no mesmo palco, também em Copacabana, em 4 de maio do ano passado, levando 1,6 milhão de pessoas a cantar seus clássicos, um evento que misturou gerações e também marcou a cidade e a memória dos fãs.

Agora, sob o selo “Todo mundo no Rio”, o show de Gaga deu continuidade ao novo calendário cultural da cidade. Segundo a prefeitura, mais de 500 mil turistas desembarcaram entre os dias 1º e 3 de maio, segundo dados da Rodoviária Novo Rio e do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão). A estimativa oficial é de que o evento injete R$ 600 milhões na economia carioca.

Multidão colorida, animada e viva

A turnê Mayhem, homônima ao novo álbum da popstar, tem sido apontada pela crítica como um retorno ao pop estranho, ousado e provocador que lançou Lady Gaga ao estrelato duas décadas atrás. Até chegar ao Brasil, o show havia passado apenas pelo festival Coachella, nos Estados Unidos, e pela Cidade do México.

A escolha do Rio como estreia global não foi por acaso. Gaga tinha uma “dívida” com o Brasil desde 2017, quando cancelou sua participação no Rock in Rio devido às dores causadas pela fibromialgia, condição neurológica crônica que enfrenta. Na ocasião, ela escreveu: “Brazil, I’m devastated.”

Lady Gaga no Rio: quando o palco é também plateia
Lady Gaga com bandeira do Brasil no cenário do show em Copacabana Foto: Reprodução TV Globo

Sete anos depois, o acerto de contas veio com juros e emoção. Um dia antes da apresentação, a artista apareceu no ensaio e foi ovacionada por centenas de fãs. “Parece o show de verdade pra mim”, disse, tocada pela recepção calorosa.

No palco, Gaga gritava “Brasil!” como quem se anunciava de volta. O primeiro ato da noite veio arrebatador, embalado pela energia de um público que a aguardava há mais de uma década. Logo depois, segurando uma bandeira do Brasil, a cantora leu uma carta de agradecimento aos fãs — acompanhada por um funcionário do hotel onde estava hospedada, que traduziu o texto para o português.

A abertura com Abracadabra, faixa do novo álbum, levou a multidão ao delírio. O momento viralizou nas redes, com milhões de vozes entoando cada verso em coro. Durante a performance, Gaga trocou figurinos, exibindo modelagens com as cores da bandeira brasileira. Ao se desfazer de um imenso casaco vermelho, revelou um traje verde-amarelo e exclamou: “Brasil, eu senti sua falta!”

Em How Bad Do U Want Me, seus dançarinos surgiram com camisas da Seleção Brasileira. A cada troca de ato, a estética brasileira reaparecia em cores, sons e gestos — não como artifício, mas como homenagem.

Um dos pontos altos veio com Born This Way, canção que inspirou uma geração LGBTQIA+ a se aceitar como é. O momento foi de comunhão. Como se o show fosse também um ritual coletivo de libertação, os fãs expressavam aquilo que tantas vezes lhes é negado: suas cores, seus gestos, seus corpos. Leques se agitavam no ar como bandeiras de resistência — não apenas cantavam, mas gritavam cada letra da cantora.

O encerramento veio com Bad Romance, um dos maiores sucessos da carreira de Gaga, lançado em 2009 e com quase 1 bilhão de visualizações no YouTube. “Ra-ra-ah-ah-ah / Roma-roma-ma / Gaga, ooh la-la” foi entoado por 2,1 milhões de pessoas. Por um instante, o palco virou plateia: Gaga e seus bailarinos, em estado de encantamento, desfilaram pela passarela absorvendo a potência daquele coro.

Quando os fogos de artifício iluminaram o céu de Copacabana, a emoção tomou conta também do palco. Os artistas sentaram-se, como o público, para assistir. Cantaram, sorriram, aplaudiram. Depois de apresentar um espetáculo que rodou o mundo em vídeos, imagens e manchetes, foi essa cena — Gaga sentada, como fã, olhando para a multidão — que ficou como símbolo da noite.