Conclave: filme retorna às telas em meio à eleição do novo Papa, agendada para o dia 7
Em meio à expectativa pela escolha do sucessor de Francisco, suspense com Ralph Fiennes volta aos cinemas e ao streaming com atuações marcantes e clima de bastidor e mistério

O filme Conclave, lançado em outubro de 2024 e estrelado por Ralph Fiennes, faz jus à frase de Oscar Wilde: “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Com a proximidade da eleição do novo Papa, o longa volta aos cinemas e também está disponível em streaming. A produção agrada tanto aos não católicos quanto às carolas, com reviravoltas e atuações notáveis. A trilha sonora e a cenografia, com detalhes impressionantes da Capela Sistina, merecem destaque.
Baseado no romance de 2016 do jornalista britânico Robert Harris, Conclave teve um orçamento de US$ 20 milhões e foi bem recebido pela crítica. Arrecadou US$ 58,7 milhões globalmente e figurou na lista dos dez melhores filmes de 2024 pelo National Board of Review e pelo American Film Institute. Entre diversas premiações, o filme recebeu oito indicações ao Oscar 2025, incluindo a categoria de melhor filme, e venceu na categoria de melhor roteiro adaptado. Também obteve seis indicações ao Globo de Ouro 2025, incluindo melhor filme de drama, e venceu por melhor roteiro, além de 12 indicações ao BAFTA 2025, conquistando os prêmios de melhor filme e melhor roteiro adaptado. Os parágrafos seguintes revelam detalhes sobre o filme. Para aqueles que ainda não o assistiram, recomenda-se interromper a leitura aqui.

Após a morte do Papa, o Cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), Reitor do Colégio de Cardeais, assume a responsabilidade de conduzir o Conclave. No dia 7 de maio, quando se inicia o processo de escolha do sucessor do Papa Francisco, a tarefa caberá ao Cardeal Carmelengo Kevin Farrell, administrador dos bens e receitas da Santa Sé. Na última semana, como mostrado no filme, circularam nas redes sociais imagens do Camerlengo Farrell selando as portas do antigo quarto de Francisco, simbolizando o fim de seu papado.
Intrigas, bastidores e candidatos improváveis
A atmosfera de conspiração e manipulação nos bastidores da Cúria se evidencia já nos primeiros cinco minutos da trama, no diálogo entre o Cardeal Lawrence, atormentado por uma crise de fé, e o papável Aldo Bellini (Stanley Tucci), que debatem as causas da morte do Papa: uma doença mantida em segredo para evitar rumores de uma possível renúncia.

Reunidos os cardeais para iniciar a eleição do novo líder da Igreja, durante o primeiro almoço coletivo chega de última hora o mexicano Cardeal Vincent Benitez (Carlos Diehz), ordenado in pectore. Atuando no Afeganistão, sua ascensão a Arcebispo de Cabul ainda não era conhecida pelo colegiado. Na realidade, se um cardeal in pectore não tiver sua nomeação tornada pública antes da morte do Papa, ela perde o valor.
Em um gesto de boas-vindas, o mexicano é convidado a fazer a oração antes da refeição. Usando sua língua materna para agradecer pelo alimento, ele faz questão de mencionar o trabalho das irmãs que o prepararam.
Além de Bellini, favorito dos progressistas que aparentemente não deseja o posto, almejam ocupar a cadeira o nigeriano Cardeal Joshua Adeyemi (Lucian Msamati), o canadense Cardeal Joseph Tremblay (John Lithgow) e o ultraconservador italiano Goffredo Tedesco (Sergio Castellitto), personagens centrais dos conflitos pela disputa do trono de Pedro.
A votação retratada no filme é bastante fiel: os eleitores escolhem seu candidato, dirigem-se a uma urna especial, fazem uma oração e depositam seus votos. São realizadas quatro rodadas de votação por dia até que um candidato obtenha a maioria de dois terços. Os votos são queimados após cada rodada com produtos químicos que produzem fumaça colorida para indicar se um Papa foi eleito – fumaça preta significa que ninguém foi eleito e fumaça branca indica que a Igreja tem um novo Papa. Ao final do primeiro dia de votação, Adeyemi surge como favorito, enquanto uma fumaça escura aparece nos telhados do Vaticano.
O cardeal canadense arma contra seu principal rival, levando para dentro da clausura uma freira que teria sido amante de Adeyemi no passado, desestabilizando o nigeriano. É revelada a existência de um filho do cardeal, na melhor versão da Eva que desvirtua Adão. A renúncia de Adeyemi torna-se inevitável, favorecendo Tremblay, que já contava com certo número de apoiadores.
Disputas morais, reviravoltas e um desfecho simbólico
Em meio aos conflitos de vaidade e ambições, Lawrence recebe a informação sobre um problema de saúde com o recém-chegado Benitez, a quem o Papa anterior teria ajudado de forma privada a receber tratamento médico em Genebra, na Suíça. Discreto e de hábitos contidos, Benitez conquista a simpatia de outros cardeais e aparece nas listas de escolhidos.
Tremblay teria sido o último a estar com o Papa antes de sua morte. Desconfiado dos termos da última conversa e após invadir o quarto do falecido, Lawrence encontra documentos que comprovam compra de votos dentro da Cúria. Com a ajuda da Irmã Agnes (Isabella Rossellini), que tudo ouve e tudo vê, Tremblay é desmascarado e fica de fora da disputa.
Com um passado considerado menos controverso que o de outros, marcado apenas por um pedido de renúncia ao Papa, Lawrence se vê como um gerente e não um pastor. Diante da falta de um candidato forte e da polarização causada pelo conservador cardeal Tedesco, o Cardeal Thomas Lawrence aceita sua indicação para liderar a Igreja Católica.
Um atentado a bomba danifica a capela e interrompe a votação no terceiro dia. Diante da reação histérica e odiosa de Tedesco, Benitez se destaca como conciliador, com um discurso humanista. Ele menciona sua experiência em conflitos de guerra para questionar a pequenez de espírito daqueles homens. Benitez os convoca à consciência, pois a luta é interior e não está fora, e a Igreja não é o passado, mas sim o que queremos para o futuro.
Benitez recebe a maioria dos votos e é eleito Papa. Os 15 minutos finais do filme são surpreendentes e nos levam à cena final: a metáfora da tríade pai, filho e espírito santo, representada na figura de três freiras vestidas de branco, cruzando os jardins do Vaticano.