Um olhar do sertão baiano sobre a cultura, resistência e transformação

Histórias e movimento das feiras do sertão baiano inspiram artista Emilly Reis
Arquivo Pessoal

Uma das representantes da novíssima geração de Feira de Santana (BA) é a artista visual, arte-educadora, ilustradora e atelierista Emilly Reis, que, aos 27 anos, vê a arte como ferramenta para educar e transformar realidades e olhares. Suas inspirações partem das lutas sociais cotidianas, vivências e resistências locais.

“Feira de Santana é conhecida como um portal do sertão, por onde tudo passa no sentido comercial. Daí vem o nome da cidade. Nas feiras populares estão o movimento, as pessoas, as cores, a vida, a espiritualidade. Tudo o que eu busco e trago em uma obra passa por ali”, afirma.

Emilly destaca o grande potencial artístico de seu território, onde se formam muitos cantores, atores, atrizes, artistas plásticos e visuais. E pontua que seu desenvolvimento e amadurecimento profissional foi pautado pela história e referências assimiladas quando trabalhou nos dois principais museus da cidade. “Isso me possibilitou entender questões do passado, aprimorar meu olhar para o presente e o futuro. Sempre tento trazer esse pertencimento aos meus trabalhos e narrativas”, diz.

Ela reconhece os estímulos que recebeu na infância, na escola, como determinantes para o trabalho que realiza hoje. “A infância trouxe essa ascendência da arte na minha vida como forma de expressão. Sempre participei de atividades interdisciplinares envolvendo práticas artísticas, sobretudo arte visual. Depois passei a me reunir com amigos para pintar. O desenho e a pintura me acompanharam por muito tempo, da infância até a adolescência”, lembra.

Seu processo de criação é autodidata e intuitivo, influenciado pelo avô, que era um fotógrafo de olhar sensível, e do pai, arquiteto, que sempre gostou muito de desenhar em momentos íntimos e de afetividade.

“Com o passar dos anos, eu comecei a considerar a realidade social como motivação artística e passei a ver a arte como ferramenta de transformação e comunicação. Isso se realçou a partir da minha adolescência e ainda mais na minha atual fase de jovem adulta, pois a arte me possibilita comunicar coisas da minha espiritualidade, feminilidade e ancestralidade”, afirma.

Trajetória

Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), ela iniciou sua jornada profissional em 2018, militando em um coletivo de mulheres e no movimento estudantil da universidade, onde utilizava a arte como ferramenta de denúncia e transformação social.

A partir da inserção em feiras, passou a comercializar suas pinturas e artesanatos. Idealizou projetos culturais que buscavam tornar mais acessíveis a arte, cultura e educação para a comunidade local. Participou de curadorias de exposições artísticas no Museu de Arte Contemporânea em Feira de Santana (2023). Expôs seus trabalhos em exposições como “Carolinas” no Sesc Feira de Santana (2024).

Em 2022, recebeu o Prêmio José Jerônimo de Morais: Arte, Ciência e Humanidades nas categorias “Melhor Trabalho Artístico” com a obra “Feira de Lutas e Encantos” e “Artista do Ano”.