Presidente e outros 12 líderes sindicais foram presos por participarem dos atos nos primeiros meses daquele ano

A greve geral de 1980 e a luta pela liberdade de Lula
Assembleia da Greve em São Bernardo do Campo em 1980 Foto: Silvestre Silva/Acervo CSBH

Logo após ser fundado, em fevereiro de 1980, numa iniciativa que reuniu representantes de diversas categorias, da sociedade civil e da classe artística, o Partido dos Trabalhadores já encampava uma das maiores lutas por direitos em plena ditadura militar.

Em março daquele ano, com a legenda cada vez mais organizada e ainda tentando buscar o seu registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral, a primeira greve geral em 19 anos seria convocada. Entre as pautas, estavam a campanha salarial, o fim do arrocho, a reconquista de direitos civis, além de temas relacionados à reforma agrária.

Uma assembleia declarou a greve sem necessidade de piquetes, ou seja, sem impedir a entrada dos demais colegas nas fábricas. A paralisação se estendeu por todo o ABC e por mais 17 cidades do interior de São Paulo.

O governo do general Figueiredo não aceitou a situação e se sobrepôs ao governador Paulo Maluf e à Fiesp, impondo uma intervenção em São Paulo.

A ação de repressão contou com 8 mil soldados, 40 viaturas e 3 helicópteros do Exército, que faziam frequentes voos rasantes sobre as assembleias. O Tribunal Regional do Trabalho, pressionado pelo governo federal, decretou, de forma arbitrária e contrária aos anseios do povo, a ilegalidade da greve.

O Partido dos Trabalhadores denunciou em nota oficial, após o julgamento à revelia, as verdadeiras razões da condenação dos líderes metalúrgicos e de seu presidente nacional, Luiz Inácio da Silva. E afirmou que “a melhor resposta às ameaças e violências continua a ser a organização dos trabalhadores, sua mobilização e arregimentação, a unidade de ação de todas as forças em torno da luta contra a política econômica em curso e por uma democracia vinculada aos interesses populares”.

A greve geral de 1980 e a luta pela liberdade de Lula
Fotografia oficial e prontuário preenchido por Lula quando preso no Dops de São Paulo, em abril de 1980. Imagem: DEOPS-SP/Reprodução

Lula preso, a greve continua

Até que, em 19 de abril, Lula e outros 12 sindicalistas seriam levados pelos agentes do golpe, justamente por estarem à frente das greves que aconteciam no país.

Um cartaz espalhado pelas manifestações dias depois deixava claro qual seria a postura dos trabalhadores: “Com ou sem Lula, a greve continua”. E ela, de fato, continuou.

Segundo documentos obtidos pelo Centro de Documentação e Memória Política Sérgio Buarque de Holanda, da Fundação Perseu Abramo (CSBH/FPA), e pelo site Memórias da Ditadura, no final de abril a paralisação já atingia 90% dos trabalhadores em São Bernardo. “Furar a greve é trair Lula e os outros companheiros presos”, diziam os manifestantes.

Àquela altura, a greve se tornava um confronto da classe operária contra a ditadura, com o apoio de lideranças religiosas, como o bispo de Santo André, dom Cláudio Hummes. Diversos políticos ligados ao campo progressista também se uniam aos grevistas.

No 1º de Maio de 1980, há 45 anos, mais de 100 mil pessoas saíram às ruas de São Bernardo do Campo, furando o bloqueio policial. Mas, após 41 dias, pressionada pelas retaliações, cortes de salários e uma série de outros ataques, a greve não tinha mais como se sustentar.

No dia 12 de maio, Lula conseguiria deixar a prisão para o velório da mãe, dona Lindu. Centenas de trabalhadores e trabalhadoras pediam sua liberdade durante a cerimônia, mas o clima já era de desmobilização diante da enorme pressão do governo militar.

Ainda assim, o movimento colaborou para que, no dia 19 de maio, Lula e seus companheiros conseguissem o alvará de soltura emitido pelo governo de João Figueiredo, dando início a uma nova fase da luta sindical no país. “Se eu tiver de ser preso pelos mesmos motivos, por representar os anseios da minha categoria, eles podem me prender mais 500 vezes”, disse em entrevista na época a Ricardo Kotscho.

Lula foi liberado do Dops por volta das 20h do dia seguinte. O juiz Nelson da Silva Machado Guimarães considerou que não era mais necessário manter a prisão dos sindicalistas depois do fim da greve. “A ordem pública não se acha mais perturbada”, afirmou o magistrado no despacho.

Seus efeitos, no entanto, reverberam até hoje. “As greves do movimento operário haviam produzido uma vitória política irreversível: a mudança do cenário político nacional, já que as forças de oposição cresceram e a ditadura ficou sem condições de levar adiante seu projeto de institucionalização do regime. As eleições de 1982, com importantes vitórias da oposição, já refletiram essa nova correlação de forças”, define nota do site Memórias da Ditadura.