Pe. Júlio Lancellotti: ‘Francisco não desaparecerá, ficará o misericordioso’
“Vamos sentir sua falta física, mas seu magistério permanece”, afirmou Padre Júlio em entrevista à Focus Brasil. “O papel do Papa é confirmar a fé, e Francisco fez isso especialmente para os mais fracos e sofridos. Seu legado é esse relacionamento de amor e confiança com os excluídos.”

Em uma conversa exclusiva com a Focus Brasil, o coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, Padre Júlio Lancellotti, lamentou profundamente a morte do Papa Francisco. O vínculo entre o padre, conhecido por seu trabalho em defesa dos direitos humanos e das pessoas em situação de vulnerabilidade, e o Papa, que assumiu o pontificado em 2013, foi marcado por uma relação fraterna e de cumplicidade. Ambos compartilhavam uma visão pastoral focada nos marginalizados e na promoção da justiça social.
“Eu agradeço muito a Deus por ter vivido, eu lembro desde o dia da eleição do Papa Francisco, a emoção que nós tivemos de ouvir a escolha do seu nome, as suas atitudes de despojamento”, recorda Padre Júlio. Em 2013, logo após a eleição do Papa, o sacerdote enviou uma carta ao novo pontífice, expressando seus votos e a esperança de ver mudanças significativas dentro da Igreja.
O padre conta que escreveu várias cartas ao Papa Francisco, que sempre respondeu com carinho. “Eu mandava muitas fotografias da convivência com a população em situação de rua e presentes. O Papa retribuiu o gesto e enviou para a pastoral seu solidéu, aquele ornamento que o Papa usa na cabeça, que quer dizer ‘só de Deus’, como um gesto de carinho para a população de rua e de confiança em todo o trabalho que é desenvolvido, toda a convivência que temos aqui”, explicou.
Apesar de lamentar profundamente a perda do Papa, Padre Júlio ressalta que seu legado permanecerá. “Vamos sentir falta do Papa Francisco fisicamente, mas o seu legado estará presente, seu magistério, tudo aquilo que ele nos ensinou”, afirma. Para ele, o papel do Papa sempre foi o de confirmar a fé das pessoas, especialmente voltada para os mais vulneráveis, os que sofrem.
Em sua avaliação, “ainda levaremos muitos anos para digerir a passagem de Francisco pela Igreja”, mas ele acredita que sua presença “não desaparecerá e ficará para sempre a presença do misericordioso”. Sobre os ataques que o Papa sofreu ao longo de seu pontificado, e também após sua morte, Padre Júlio acredita que Francisco nunca se deixaria abalar. “O Papa Francisco não iria se atingir, ele iria abençoar todos esses e diria: ‘Ô, meus irmãos, eu estou com vocês também, não vou rejeitá-los, mesmo que vocês falem contra mim, eu estou com vocês’”, afirma.
Sobre o futuro sucessor de Francisco, Padre Júlio prefere não especular. “Fazer bolsa de apostas é inaceitável. Acredito que a expectativa é de acolher bem quem o Espírito Santo suscitar, receber com carinho e docilidade, para que sejamos coerentes com o que acreditamos”, comenta, enfatizando que o próximo Papa será acolhido com respeito e reverência. “Eu, como padre católico apostólico romano, devo acolher o papa que vier com todo o respeito, com toda a reverência, porque ele será aquele por quem vou rezar todos os dias”, conclui.