Papa Francisco e a defesa dos pobres, por Alberto Cantalice
“Não há caminho fora da solidariedade e da justiça social. Era isso que pregava Francisco”, escreve Alberto Cantalice sobre o legado do Papa que enfrentou a miséria, o preconceito e o neoliberalismo

Ao escolher o nome Francisco para exercer seu papado, Jorge Bergoglio dava mostras claras de seus compromissos com os pobres e desfavorecidos — compromisso sólido que assumira desde o início de sua atividade pastoral, nas décadas de 1960 e 1970, em sua terra natal, a Argentina.
Comandando uma instituição que perdura há dois mil anos, Francisco, buscando as heranças de João XXIII e Paulo VI, vocacionou seu ministério às lutas contra as iniquidades da miséria e do desprezo que vitimam os pobres e desvalidos do mundo. Buscou uma relação mais profícua com outras religiões, pregando a concórdia e o ecumenismo mundo afora.
Incansável, foi considerado um papa profundamente workaholic. Nem nas fases de doença, muito pela idade avançada, deixou de comandar missas e homilias nos mais diversos quadrantes. Sua compreensão mais acurada das questões das minorias abriu uma janela de oportunidade para a Igreja romper preconceitos e serviu de alento para esses segmentos, vítimas das mais vis perseguições.
Ao questionar o consumismo exagerado e a ganância por benesses por parte dos poderosos, atraiu para si a ira dos mercadores da religiosidade. Foi chamado de comunista por ignorantes e estigmatizado por aqueles presos à lógica dos seus mundos paralelos.
Num século XXI marcado pela distopia e pelas notícias falsas, Francisco, como portador de sua verdade, fará muita falta.
O processo de renovação empreendido por ele na Igreja Católica não retrocederá. Em um mundo que cada vez mais necessita de lucidez e tranquilidade, os católicos podem ser um dos vetores de bom senso.
O legado do Papa Francisco atravessará gerações. Poderá contribuir para que a generosidade e a esperança pairem sobre a humanidade. Pode ser o fio de esperança que ajude a romper com a barbárie instaurada pela superexploração dos seres humanos e pela falta de perspectivas trazida pela avalanche neoliberal que persiste.
Não há caminho fora da solidariedade e da justiça social. Era isso que pregava Francisco!