A geopolítica do Século XXI: a queda do império ianque, por Sibá Machado
Análise crítica de Sibá Machado sobre o declínio da hegemonia dos Estados Unidos, o avanço da China e da Rússia, e o papel do BRICS na nova ordem mundial

O século XX foi marcado pela tomada do poder e liderança mundial pelos Estados Unidos da América das mãos de seu antecessor, a Inglaterra, utilizando-se de fatores como investimentos pesados na infraestrutura, na indústria, no poderio militar e principalmente nos resultados da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A Europa destruída pela guerra teve que pedir financiamento dos EUA, que ganhou muito dinheiro nesta reconstrução, repetindo-se o cenário após a Segunda Guerra Mundial.
Toda crise no sistema capitalista é planejada e controlada pela extrema direita. Neste caso, o centro empresarial norte-americano promoveu uma bolha econômica que estourou em 1929, arrastando o mundo inteiro para o fundo do poço. Como se não bastasse, permitiram a ascensão de Adolf Hitler ao comando da Alemanha. A Alemanha, responsabilizada pela Primeira Guerra Mundial, deu início à Segunda Guerra Mundial, sob a concessão e complacência dos EUA.
Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o mundo recebeu com alvoroço a notícia da Revolução Socialista na Rússia em 1917, que levou os bolcheviques ao poder. Isso marcou o início da Guerra Fria, que se instalou oficialmente em 1946, após o término da Segunda Guerra Mundial.
É importante lembrar que os russos chegaram primeiro em Berlim, tomaram o controle de vários países do Leste Europeu e, ao final, dividiram a Alemanha.
Mostrando as garras e os dentes
Os EUA passaram a controlar o lado ocidental do mundo com rédeas curtas. Para demonstrar quem mandaria no pedaço, tomaram ações como: lançaram duas bombas atômicas no Japão, para mostrar sua poderosa tecnologia de guerra ao mundo e enviar um duríssimo recado aos russos; criaram a OTAN como uma organização militar de autodefesa contra a Rússia; estabeleceram organismos internacionais como a ONU, a OMC, o FMI e o Banco Mundial, todos sob seu total controle; permitiram a criação da União Europeia, com o intuito de frear a Rússia; impuseram o dólar como moeda única para o comércio internacional; promoveram ataques contra países que não aceitaram sua política de dominação, criando ditaduras militares na América Latina, África e Sul da Ásia; estabeleceram a indústria da aculturação dos povos na música, artes, moda, cinema, imprensa e religião; forçaram países dominados a aceitarem a instalação de bases militares em seus territórios; criaram agências de espionagem como a CIA; e cooptaram cientistas, políticos, jornalistas, economistas e religiosos para garantir sua linha de pensamento nos países sob sua influência.
Por outro lado, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se colocou como uma força de polarização no cenário da Guerra Fria. A URSS investiu bilhões em armas e poderio militar, alcançando paridade com os EUA na corrida por armamentos nucleares no final da década de 1950. Também iniciou a corrida tecnológica aeroespacial, obrigando os EUA a enviar a primeira missão tripulada à Lua. A URSS passou a apoiar movimentos revolucionários no mundo inteiro, incluindo a Nicarágua e Cuba na América Latina. Criou o Pacto de Varsóvia como contraponto à OTAN, e a Guerra Fria durou até o final da década de 1980, com o fim da URSS e sua transformação na Rússia.
O fim da Guerra Fria e o início do neoliberalismo
Com o fim da URSS, os EUA assumiram o controle total do mundo. Sem concorrentes, sem nada que os atrapalhasse, o terreno estava fértil para implantar o neoliberalismo, uma grande aldeia global. Nas décadas de 1960 e 1970, os EUA dominaram a América Latina através de ditaduras militares, com extrema crueldade, tortura, deportações e assassinatos. Na década de 1990, substituíram as ditaduras por governos “eleitos” pelo voto popular, como o governo de Fernando Collor de Melo no Brasil. Esses governantes tinham, e ainda têm, o papel de desmontar os Estados Nacionais, entregar as riquezas, privatizar empresas, pauperizar a população, liberar a corrupção generalizada e fazer “acordos comerciais” draconianos, como a ALCA, que Lula conseguiu desmontar em 2003. O Chile foi o primeiro país da América do Sul a aderir ao neoliberalismo e à ALCA, mas se arrependeu amargamente.
As décadas de 1980 e 1990 foram consideradas perdidas para o Brasil e para os países latino-americanos. O povo enfrentou evasão fiscal, sonegação, corrupção, desemprego, inflação, carestia, fome e miséria.
Nasce o século XXI: surge um dragão no cenário
A China passou as décadas de 1980 e 1990 aprendendo sobre tecnologia, industrialização e gestão de empresas. O governo chinês atraiu empresas do mundo inteiro, estabelecendo condições favoráveis. No primeiro ano, as empresas tinham 95% de executivos de seu país de origem e 5% de chineses; no décimo ano, a direção dessas empresas era formada por 95% de chineses e 5% de executivos estrangeiros, além de um observador indicado pelo Partido Comunista Chinês. Assim, a China deu um passo largo para seu desenvolvimento.
Enquanto os EUA gastam “zilhões” de dólares em guerras, a China investe “zilhões” em alta tecnologia. A partir do início do século XXI, a China decidiu se tornar uma grande potência mundial, com a Rússia retomando seu papel no cenário.
Nasce o BRICS
Em 2001, um economista do Goldman Sachs mencionou a sigla BRIC, se referindo aos países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China. Esses países passaram a negociar entre si e, em 2009, o bloco foi oficialmente formado, com a África do Sul se juntando em 2011, criando a sigla BRICS. O bloco já conta com 11 países membros e várias solicitações em análise.
O BRICS entrou na disputa pela multipolaridade, defendendo regras comerciais, políticas e econômicas mais justas. Criou o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) como alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, apoiou países sob risco de ataques dos EUA, apoiou a descolonização da África e, principalmente, entrou na campanha pela desdolarização do comércio mundial, tornando-se um novo foco de conflitos globais.
China e Rússia: pedra no sapato do Imperialismo
A China e a Rússia se tornaram a grande pedra no sapato do imperialismo dos EUA. Os EUA tiveram que abrir várias frentes de combate para manter sua supremacia, como atacar o BRICS e tentar evitar a desdolarização do comércio mundial. Sob o governo Biden, os EUA atacaram a Rússia por meio da OTAN/Ucrânia, impuseram sanções econômicas, confiscaram o dinheiro da Rússia depositado em bancos aliados dos EUA e criaram uma forte campanha de desinformação contra a Rússia.
Donald Trump, após uma fracassada tentativa de golpe em 2018, retomou o poder nos EUA. Seus objetivos ficaram claros: derrotar e acabar com a China, isolar a Rússia e destroçar o BRICS. Buscou desmontar organizações internacionais e locais para instaurar uma ditadura, destruir o comércio mundial com guerras de tarifas e criar instabilidade em seu próprio país. Trump também minou a confiança nos países aliados e subservientes. A grande pergunta que fica é: até quando?
Parece que a China e a Rússia estão bem preparadas para o embate. A Rússia tem lidado com a guerra na Ucrânia de maneira eficaz. As sanções econômicas impostas à Rússia tiveram efeitos positivos, e, diante das ameaças feitas pelos países da OTAN, Putin afirmou que possui armas capazes de destruir o planeta em poucas horas. A Europa deixou de comprar petróleo e gás da Rússia e, por um preço mais elevado, passou a comprá-los dos EUA, colocando sua população e suas indústrias em risco de falência.
A China se tornou a segunda potência econômica do mundo e, segundo Xi Jinping, será a maior potência até 2049, ano do centenário da Revolução Socialista Chinesa. A China investe pesadamente em tecnologia, abrindo suas portas para empresas de alta tecnologia, como a Tesla, cuja maior fábrica está na China. O país também é líder em várias corridas tecnológicas e já opera mercados sem o uso do dólar. A dúvida que persiste é sobre seu sistema militar.
A China, que criou a Rota da Seda nos séculos passados, reeditou essa política no século XXI e está financiando a construção de infraestrutura pesada na África, Ásia e América Latina. Enquanto os EUA financiam guerras e ditaduras, a China e a Rússia estão levando dinheiro e investimento para esses países.
É possível uma escalada para uma Terceira Guerra Mundial? Tudo é possível na mente de um líder imprudente até que ele encontre seu destino. Se Putin não estiver blefando sobre seu potencial bélico, se a China já tiver um arsenal militar de alta destruição escondido, e se uma terceira guerra mundial for inevitável, o uso de armas nucleares seria quase certo. Se essas armas forem tão poderosas quanto Putin afirma, em uma guerra com tal capacidade de destruição, após o conflito, não haverá um avô para contar a história da humanidade, nem um neto ou neta para ouvi-la!
Será que isso tudo é apenas bravata? Tomara que sim. Porém, é uma situação cruel e real para os mais fracos. O fascismo e o nazismo são males profundos que afligem aqueles que comungam da extrema direita. Se conseguirmos erradicar o fascismo, o mundo poderá se tornar um paraíso. Sem Anistia para Bandido Golpista, Cadeia Já para Todos os Traidores do Brasil!
Sibá Machado é geógrafo e militante do Partido dos Trabalhadores