Popularidade de Milei em queda livre e helicóptero na Casa Rosada no horizonte, por Rogério Tomaz Jr
A queda de popularidade de Javier Milei e a crise econômica colocam seu governo em risco, com resistência crescente e um futuro político incerto

Na marcha pelo Dia da Memória por Verdade e Justiça, na última segunda-feira (24), em Buenos Aires, a música que as 400 mil pessoas presentes cantaram com mais vontade, sendo repetida a todo instante, em todos os lugares da mobilização, sintetiza bem o tipo de sentimento que boa parte população tem em relação ao presidente Javier Milei. “Como a los nazis, les va a passar, a donde vayan, los iremos a buscar” [como aconteceu com os nazistas, vai acontecer com vocês… aonde quer que vão, nós iremos buscá-los].
Em outras palavras, o povo argentino está ciente de que a punição para os crimes de Javier Milei não virá de imediato e que ainda é preciso resistir muito diante de todas as maldades que ele tentará impor. Ao mesmo tempo, a sensação corrente é a certeza de que ele não escapará impune.
Esta semana foi divulgada uma nova pesquisa de opinião da consultora Zuban Córdoba sobre o nível de aprovação do governo e a imagem pessoal de Milei, entre outros temas. Do universo entrevistado, 58,4% dizem que desaprovam a gestão atual, enquanto 41,6% aprovam. Em novembro, a desaprovação era de “apenas” 52,7% e a aprovação estava em 47,3%.
A imagem pessoal do chefe do Executivo apresenta números semelhantes (58,5% dizem que é “Negativa” e 41,1% falam que é “Positiva”) e tanto a desaprovação quanto a imagem negativa deram um considerável salto em fevereiro, quando estourou o escândalo da criptomoeda $Libra, que teve Javier Milei como garoto-propaganda e evaporou em poucos minutos cerca de 250 milhões de dólares, deixando mais de 40 mil pessoas no prejuízo e um punhado de investidores “bem-informados” com lucros excepcionais. Além da Argentina, o episódio já está sendo investigado pela Justiça dos Estados Unidos e o mesmo deve ocorrer na Espanha.
Economia não arranca e pires na mão para o FMI
Para além do desgaste do presidente e do governo por conta dos escândalos, das contradições nas políticas públicas e do estilo truculento (que não se restringe a Milei), a economia não se sustenta mais – perante a opinião pública – com dados macroeconômicos que não têm relação direta com o cotidiano das pessoas. Propagandear superávits primários, por exemplo, não serve mais para esconder que o consumo das famílias caiu pelo 15º mês consecutivo. Explicar que o método de medição da inflação funciona assim ou assado não consegue mais segurar a angústia das pessoas ao verem os alimentos continuarem aumentando todos os meses bem acima dos índices oficiais.
Com o dólar sendo mantido artificialmente baixo pela intervenção recorrente do governo – que chegou a vender mais de 700 milhões da moeda americana há duas semanas (com recorde de 474 milhões num único dia) – no mercado, a última esperança para evitar uma forte desvalorização do peso, o que dispararia um novo ciclo inflacionário, é um empréstimo robusto do FMI. O acordo foi aprovado de uma forma inusitada: por decreto do governo, que recebeu aval da Câmara sem que os deputados soubessem o valor, as condições e prazos de pagamento e tampouco as contrapartidas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional.
O grande objetivo do governo no momento é manter o dólar baixo até as eleições legislativas de outubro, que serão uma espécie de plebiscito para avaliar o governo. Mesmo com o empréstimo do FMI, não está garantido que isso seja possível, inclusive porque a cada semana o presidente abre uma nova frente de batalha.
A verdade é que a imagem do helicóptero na Casa Rosada, que o então presidente Fernando de La Rúa usou para fugir dos protestos em dezembro de 2001, já atormenta Milei e vários de seus funcionários. Como a los nazis, les va a pasar…
Rogério Tomaz Jr., jornalista e assessor parlamentar, acompanha e escreve sobre America Latina.