Os vivandeiros do golpe e o fiasco das ruas, por Alberto Cantalice
Mesmo com forte mobilização, a manifestação bolsonarista em Copacabana ficou aquém das expectativas, evidenciando a perda de fôlego da extrema direita nas ruas. Artigo de Alberto Cantalice, diretor de comunicação da FPA

Vivendo sob a perspectiva da incriminação pelo Supremo Tribunal Federal por atividades atentatórias ao Estado Democrático de Direito, Jair Bolsonaro protagonizou uma das páginas mais hilariantes do atual cenário político.
Nem o peso do Partido Liberal, nem a presença de governadores, parlamentares e lideranças evangélicas foram suficientes para transformar o ato do último domingo (16/3), em Copacabana, no Rio de Janeiro, em uma grande mobilização.
A expectativa dos golpistas era reunir um milhão de pessoas, mas o evento contou com apenas 18.500 manifestantes, segundo a USP, e 30 mil, de acordo com o Datafolha.
A nota dissonante veio da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que, segundo a imprensa, a mando do governador Cláudio Castro, inflou os números e afirmou que o ato reuniu 400 mil pessoas. Um blefe.
A cada dia, aumenta para as forças progressistas a necessidade de combater o discurso pró-anistia dos golpistas do 8 de janeiro e seus líderes. Apesar do fiasco das expectativas, a presença da extrema direita nas ruas tem sido recorrente.
A esquerda brasileira enfrenta hoje um grande dilema: sofre um cerco nas redes sociais por parte da extrema direita e da mídia tradicional, enquanto lida com a carência de pautas capazes de mobilizar as ruas. A recente campanha contra a jornada de trabalho de escala 6×1 teve um impacto significativo no meio digital, impulsionando a coleta de assinaturas na Câmara dos Deputados.
Outra frente que se abre é a campanha pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a alíquota reduzida para rendas de até R$ 7,5 mil. No entanto, garantir que a compensação desse benefício venha das altas rendas será uma batalha difícil no Parlamento. Apesar de numericamente reduzido, o “andar de cima” tem grande poder de pressão sobre a institucionalidade brasileira.
A tradição de combatividade do campo progressista tem sido constantemente testada. Desde as marchas de junho de 2013 e a razia da Lava Jato, as esquerdas perderam o monopólio das reivindicações. Recuperar esse ímpeto exigirá um esforço significativo para compreender as novas dinâmicas comunicacionais, especialmente entre a juventude.
É um cenário desafiador. Mas vale a pena!