O Equador vive um momento de intensa polarização política, agravada por uma série de controvérsias envolvendo o Estado, questões ambientais e a disputa eleitoral que definirá o próximo presidente do país. A invasão da embaixada mexicana pelo governo equatoriano e a polêmica liberação da exploração de petróleo em áreas ambientalmente sensíveis são alguns dos eventos que têm chamado a atenção internacional e gerado debates acalorados no cenário doméstico. Como Martin Luther King Jr. destacou, “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”, em sua famosa “Letter from Birmingham Jail” de 1963.

A invasão da embaixada mexicana: um ato sem precedentes

Conjuntura do Equador: crise política, ambiental e social em evidência, por Pedro Henrichs
Imagem de satélite da NASA – Vista do Equador/Wickcommons

No início de 2023, o governo equatoriano, liderado pelo presidente Guillermo Lasso, ordenou a invasão da embaixada do México em Quito para prender um político opositor que havia solicitado asilo. O ato foi amplamente criticado por violar normas internacionais de soberania e diplomacia, estabelecidas pela Convenção de Viena. A justificativa do governo foi a necessidade de combater a corrupção e garantir a aplicação da lei, mas a ação foi vista como um excesso autoritário por parte de Lasso, que já enfrentava baixa popularidade e acusações de perseguição política.

A comunidade internacional reagiu com duras críticas, e o México rompeu relações diplomáticas com o Equador. O episódio manchou a imagem do país e levantou questões sobre o respeito ao Estado de direito e aos direitos humanos sob o atual governo.

Exploração de petróleo e desastres ambientais

Outro ponto de tensão é a decisão do governo de liberar a exploração de petróleo em áreas da Amazônia equatoriana, onde já ocorreram desastres ambientais no passado, além de um vazamento que está acontecendo neste momento. Em 2020, um derramamento de petróleo no rio Coca afetou milhares de pessoas e causou danos irreparáveis ao ecossistema local. Apesar disso, o governo argumenta que a exploração é necessária para impulsionar a economia, que enfrenta dificuldades desde a pandemia de COVID-19 e a queda nos preços do petróleo.

Ambientalistas e comunidades indígenas têm protestado veementemente contra a medida, acusando o governo de priorizar interesses econômicos em detrimento da preservação ambiental e dos direitos dos povos tradicionais. A tensão entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade continua a ser um dos principais desafios do país.

A disputa eleitoral e o segundo turno

A polarização política no Equador se reflete na disputa eleitoral que definirá o próximo presidente. No primeiro turno, realizado em agosto de 2023, os candidatos Luisa González, da esquerda representada pelo movimento Revolução Cidadã, e Daniel Noboa, um empresário de centro-direita, se destacaram e avançaram para o segundo

turno, marcado para outubro.

Luisa González: Representando o legado do ex-presidente Rafael Correa, González promete fortalecer o Estado de bem-estar social, aumentar o controle sobre setores estratégicos da economia e revisar as políticas de exploração de recursos naturais. Seus críticos, no entanto, a acusam de autoritarismo e de representar um retorno ao modelo de Correa, que foi marcado por controvérsias e acusações de corrupção.

Daniel Noboa: Com um discurso mais moderado, Noboa busca atrair eleitores cansados da polarização entre esquerda e direita. Ele defende uma economia de mercado com medidas sociais pontuais e promete atrair investimentos estrangeiros para modernizar o país. No entanto, sua falta de experiência política e ligações com elites empresariais geram desconfiança entre setores mais progressistas.

Expectativas para o segundo turno

O segundo turno reflete a divisão profunda no eleitorado equatoriano. De um lado, González representa a esperança de retomada de políticas sociais e maior intervenção estatal, enquanto Noboa aposta em uma agenda mais liberal e pró-mercado. As expectativas variam conforme o espectro político:

Se González vencer, espera-se uma reorientação das políticas econômicas e ambientais, com possíveis tensões com setores empresariais e a comunidade internacional. Seu governo também pode enfrentar desafios para reconstruir a imagem do país após a crise diplomática com o México.

Caso Noboa seja eleito, a expectativa é de maior abertura ao capital estrangeiro e uma agenda de reformas liberalizantes, mas ele precisará lidar com a insatisfação popular em relação às desigualdades sociais e aos impactos ambientais das políticas de exploração de recursos.

O Equador está em uma encruzilhada, com desafios que vão desde a reconstrução de sua imagem internacional até a necessidade de equilibrar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. O resultado das eleições definirá não apenas o rumo político do país, mas também seu papel em um cenário global cada vez mais complexo. Enquanto isso, a população equatoriana aguarda ansiosamente por mudanças que possam trazer estabilidade e justiça social. Barack Obama, ao discursar sobre as mudanças climáticas em 2015, destacou que “Não há um desafio que represente uma ameaça maior para nosso futuro do que as mudanças climáticas”, e que “Somos a primeira geração que sente as consequências das mudanças climáticas e a última que tem a oportunidade de fazer algo para deter isso”, em uma cerimônia na Casa Branca.

Mestrando em Relações Internacionais no IDP (Instituto Brasileiro de ensino Desenvolvimento e Pesquisa), gestor Público, CEO da Henrichs Consultoria, Sec. Executivo Regenera Brasil, Ex-presidente do Fórum de Juventude dos BRICS, Observador eleitoral há 15 anos, 18 países na América, 4 países na Europa, 1 na África, e 3 na Ásia.