O impacto econômico da guerra na Ucrânia: uma análise global das empresas, por Pedro Henrichs
A guerra na Ucrânia desencadeou mudanças sísmicas no cenário empresarial global, relembrando-nos das palavras do filósofo grego Heráclito: “A mudança é a única constante na vida” (Platão, Crátilo, 402a). Este conflito não apenas redesenhou o mapa geopolítico, mas também reconfigurou drasticamente as dinâmicas econômicas globais. Como observou o economista Joseph Schumpeter, “O processo de destruição criativa é o fato essencial do capitalismo” (Schumpeter, Capitalismo, Socialismo e Democracia, 1942), e esta guerra tem sido um catalisador poderoso desse processo.
Setor de Energia: Transformação e Oportunidades
Vencedores Ocidentais
Cheniere Energy (EUA)
Aumento no valor das ações: +64% (2022)
Valor de mercado: $41,5 bilhões (março 2023)
Equinor (Noruega)
Aumento no valor das ações: +48% (2022)
Valor de mercado: $97,5 bilhões (março 2023)
Sempra Energy (EUA)
Aumento no valor das ações: +27% (2022)
Valor de mercado: $47,8 bilhões (março 2023)
Aker BP (Noruega)
Aumento no valor das ações: +47% (2022)
Valor de mercado: 119,5 bilhões de coroas norueguesas (março 2023)
O crescimento destas empresas ocidentais reflete uma mudança tectônica no mercado energético global. A busca por alternativas ao gás russo levou a um boom no setor de GNL, beneficiando particularmente as empresas americanas e norueguesas. Como disse o Secretário de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, “A crise energética na Europa é uma oportunidade para acelerar a transição para energias limpas” (Conferência de Imprensa do Departamento de Energia dos EUA, 7 de março de 2022).
Perdedores Russos
Gazprom (Rússia)
Queda no valor das ações: -30% (2022)
Valor de mercado: $53,5 bilhões (março 2023)
A queda da Gazprom ilustra o impacto devastador das sanções econômicas na Rússia. O Presidente russo Vladimir Putin admitiu: “As sanções estão criando certas dificuldades para nós… mas não são tão críticas” (Discurso de Putin no Fórum Econômico de São Petersburgo, 17 de junho de 2022).
Beneficiários Asiáticos
China National Petroleum Corporation (China)
Aumento estimado no valor: +20% (2022)
Valor de mercado estimado: $240 bilhões (2023)
Indian Oil Corporation (Índia)
Aumento no valor das ações: +15% (2022)
Valor de mercado: 1,2 trilhão de rúpias indianas (março 2023)
O crescimento destas empresas asiáticas demonstra a reorientação do comércio global de energia. O Primeiro-Ministro indiano Narendra Modi declarou: “A Índia priorizará
seus próprios interesses energéticos” (Discurso de Modi na COP 26, 1 de novembro de 2021), refletindo a postura pragmática de muitos países asiáticos.
Indústria de Defesa: Boom em Tempos de Conflito
Vencedores Ocidentais
Lockheed Martin (EUA)
Aumento no valor das ações: +37% (2022)
Valor de mercado: $120 bilhões (março 2023)
Northrop Grumman (EUA)
Aumento no valor das ações: +40% (2022)
Valor de mercado: $72 bilhões (março 2023)
Rheinmetall (Alemanha)
Aumento no valor das ações: +117% (2022)
Valor de mercado: €10,5 bilhões (março 2023)
O crescimento explosivo destas empresas de defesa reflete o aumento dos gastos militares globais. O Chanceler alemão Olaf Scholz chamou isso de “Zeitenwende” (ponto de virada), declarando: “Precisamos investir mais em nossa segurança para proteger nossa liberdade e democracia” (Discurso de Scholz no Bundestag, 27 de fevereiro de 2022).
Beneficiários Asiáticos
Hindustan Aeronautics Limited (Índia)
Aumento no valor das ações: +90% (2022)
Valor de mercado: 800 bilhões de rúpias indianas (março 2023)
O crescimento da HAL reflete a crescente assertividade militar da Índia. O Ministro da Defesa indiano Rajnath Singh afirmou: “A Índia está pronta para assumir um papel maior na produção global de defesa” (Discurso de Singh na Aero India 2021, 3 de fevereiro de 2021).
Setor de Tecnologia e Cibersegurança
Palantir Technologies (EUA)
Aumento no valor das ações: +31% (2022)
Valor de mercado: $17 bilhões (março 2023)
CrowdStrike (EUA)
Aumento no valor das ações: +45% (2022)
Valor de mercado: $31 bilhões (março 2023)
Darktrace (Reino Unido)
Queda no valor das ações: -50% (2022)
Valor de mercado: £2 bilhões (março 2023)
O crescimento das empresas de cibersegurança sublinha a importância crescente da guerra digital. Como observou o Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg: “Um ataque cibernético pode desencadear o Artigo 5, a cláusula de defesa coletiva da OTAN” (Conferência de Imprensa da OTAN, 14 de junho de 2016).
Setor Agrícola e de Commodities
Archer-Daniels-Midland (EUA)
Aumento no valor das ações: +19% (2022)
Valor de mercado: $42 bilhões (março 2023)
Bunge Limited (EUA)
Aumento no valor das ações: +17% (2022)
Valor de mercado: $15 bilhões (março 2023)
Yara International (Noruega)
Aumento no valor das ações: +30% (2022)
Valor de mercado: 108 bilhões de coroas norueguesas (março 2023)
Beneficiários Asiáticos
Sinofert Holdings (China)
Aumento no valor das ações: +25% (2022)
Valor de mercado: 20 bilhões de dólares de Hong Kong (março 2023)
Em conclusão, vemos que o crescimento destas empresas agrícolas reflete a crescente preocupação com a segurança alimentar global. O Diretor-Geral da FAO, Qu Dongyu, alertou: “A guerra na Ucrânia está criando uma crise de segurança alimentar que pode durar anos” (Declaração de Qu Dongyu à Imprensa, 8 de abril de 2022).
A guerra na Ucrânia teve um impacto profundo e multifacetado no cenário empresarial global, criando vencedores e perdedores em diversos setores e países. Como observou o estrategista militar Sun Tzu, “Em meio ao caos, há também oportunidade” (A Arte da Guerra, Capítulo 5).
Empresas ocidentais, principalmente dos EUA e da Noruega, nos setores de energia e defesa, viram aumentos significativos em seus valores de mercado, beneficiando-se da busca por alternativas ao gás russo e do aumento nos gastos militares.
Simultaneamente, empresas asiáticas, particularmente na China e na Índia, também se beneficiaram do conflito, aproveitando a oportunidade para aumentar suas importações de petróleo russo com desconto e expandir sua influência global. Esta dinâmica reflete as palavras do líder chinês Xi Jinping: “A globalização econômica é uma tendência histórica irreversível” (Discurso de Xi no Fórum de Boao, 20 de abril de 2021).
No setor de defesa, o aumento substancial no valor de mercado de empresas como Rheinmetall e Hindustan Aeronautics Limited reflete não apenas o aumento dos gastos militares, mas também uma mudança na percepção global da segurança. Como disse o Presidente francês Emmanuel Macron, “Estamos vivendo o fim da abundância” (Discurso de Macron ao Conselho de Ministros, 24 de agosto de 2022), referindo-se à nova era de insegurança e competição geopolítica.
O setor agrícola e de commodities também viu ganhos significativos, com empresas se beneficiando da volatilidade dos preços e da reconfiguração das cadeias de suprimentos globais. Isso ressoa com a observação do economista Jeffrey Sachs: “A geopolítica está moldando a geoeconomia de uma maneira que não víamos desde a Guerra Fria”(Entrevista de Sachs à CNBC, 3 de março de 2022).
Esta análise destaca como eventos geopolíticos podem rapidamente remodelar o cenário empresarial global, criando oportunidades para algumas empresas enquanto apresentam desafios para outras. O filósofo Nassim Nicholas Taleb chamaria isso de um evento “Cisne Negro”(Taleb, O Cisne Negro, 2007). – imprevisível, de alto impacto e racionalizado retrospectivamente.
À medida que o conflito continua a evoluir, é provável que vejamos mais mudanças, com as empresas mais adaptáveis e estrategicamente posicionadas continuando a se beneficiar das novas realidades do mercado global, independentemente de sua origem geográfica. Como disse o magnata dos negócios Warren Buffett, “Seja temeroso quando os outros são gananciosos e gananciosos quando os outros são temerosos”(Carta aos Acionistas da Berkshire Hathaway, 2004).
Em última análise, esta guerra nos lembra que, no mundo dos negócios e da geopolítica, a única constante é a mudança. As empresas e nações que prosperarão serão aquelas que, nas palavras do ex-Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, “entendem que a história está sempre em movimento”(Kissinger, Diplomacia, 1994). A capacidade de antecipar, adaptar-se e capitalizar essas mudanças será crucial para o sucesso no novo cenário global que está emergindo deste conflito.
Mestrando em Relações Internacionais no IDP (Instituto Brasileiro de ensino Desenvolvimento e Pesquisa), Gestor Público, CEO da Henrichs Consultoria , Sec. Executivo Regenera Brasil, Ex-presidente do Fórum de Juventude dos BRICS. Observador eleitoral há 14 anos, 18 países na América, 4 países na Europa, 1 na África, e 3 na Ásia.