Pesquisas indicam ligação entre partículas plásticas e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer

Microplásticos no cérebro: estudos revelam impactos na saúde humana
Foto: Getty Images

Os microplásticos já foram encontrados em praticamente todos os ambientes do planeta — da Antártida ao fundo dos oceanos — e agora há evidências concretas de que também circulam no corpo humano, incluindo o cérebro. Novos estudos apontam que essas partículas podem estar associadas a doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e disfunções hormonais.

O toxicologista Matthew Campen, da Universidade do Novo México, desenvolveu uma técnica inovadora para rastrear microplásticos e nanoplásticos em amostras de tecido cerebral humano. Em artigo publicado na revista Nature, ele descreve o uso de hidróxido de sódio para dissolver os neurônios e vasos sanguíneos, isolando os plásticos presentes no tecido. A estimativa do pesquisador é que seja possível extrair até 10 gramas de microplásticos de um cérebro humano doado — o equivalente ao peso de um giz de cera novo.

Riscos dos microplásticos à saúde

Os impactos dos microplásticos no organismo ainda não são totalmente compreendidos, mas estudos sugerem que sua presença pode estar associada a estresse oxidativo, problemas cardiovasculares, desregulação endócrina e imunológica, além de comprometimento da memória e do aprendizado.

O pesquisador Leonardo Trasande, da Universidade de Nova York, destacou em entrevista ao The Guardian que os efeitos de substâncias químicas presentes nos plásticos, como os ftalatos, são amplamente documentados. Um estudo do qual Trasande participou revelou que a exposição a esses compostos elevou o risco de doenças cardiovascularesnos EUA, causando perdas econômicas devido à redução da produtividade.

Já uma pesquisa conduzida pelos cientistas Y. Liang, D. Liu, J. Zhan, X. Liu, P. Li, X. Ma, H. Hou e P. Wang indica que a exposição aos microplásticos de poliestireno — material presente em brinquedos, copos e talheres descartáveis, embalagens e peças eletrônicas — pode agravar a doença de Alzheimer. Atualmente, cerca de 50 milhões de pessoasno mundo vivem com a doença, número que pode saltar para 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, segundo a Alzheimer’s Disease International. No Brasil, a Biblioteca Virtual em Saúde estimou que, em 2021, 1,2 milhão de pessoas viviam com a condição.

Plásticos e política ambiental

Enquanto cientistas alertam sobre os riscos dos microplásticos à saúde e ao meio ambiente, algumas decisões políticas vão na contramão das iniciativas sustentáveis. O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto que autoriza a volta do uso de canudos plásticos, revertendo um plano do governo Biden que previa a eliminação gradual dos plásticos descartáveis nos serviços federais até 2035.

A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente já trabalha na construção de um tratado global para reduzir a poluição plástica, reforçando a necessidade de políticas públicas mais eficazes na contenção desse problema.