Velha Guarda do Camisa Verde e Branco participa da abertura em 26 de fevereiro, às 20h, no Espaço de Arte e Cultura Bananal 

Exposição Bambas, na Barra Funda, resgata memória e representação negra no território
Simone Tobias – Foto: Divulgação


A Iniciativa Negra abre em 26 de fevereiro a exposição Bambas da Barra Funda, que apresenta registros de entrevistas históricas de personalidades do samba. A curadoria alcança também articuladores culturais, personagens essenciais para o aquilombamento da população negra do território, localizado na Zona Oeste da capital paulista. 

A mostra será aberta ao público dias antes do Carnaval (26/2), no Bananal – espaço de arte e cultura, localizado à Rua Lavradio, 237, na Barra Funda, e ficará em cartaz até 29 de março. A Velha Guarda do Camisa Verde e Branco se apresenta na abertura, às 20h.

Ailton Mesquita, músico da Velha Guarda Musical do Camisa Verde e Branco - Foto: Divulgação
Ailton Mesquita, músico da Velha Guarda Musical do Camisa Verde e Branco – Foto: Divulgação

A exposição reúne imagens e depoimentos de grandes nomes do samba, tais como Ailton Mesquita, músico da Velha Guarda do Camisa Verde e Branco, Simone Tobias, compositora e importante figura do samba paulistano, além de Zelão, Seu Ideval e Tia Neide.

A ação é parte do projeto Cartografias de Bambas, cujo objetivo é o resgate da memória e do protagonismo negro na formação cultural do bairro da Barra Funda por meio de uma investigação multidisciplinar. Além da exposição, o projeto prevê futuramente que o conjunto de entrevistas com os bambas faça parte de um repositório virtual de história oral, além de outros estudos.  

Segundo a curadora Lorraine Mendes, existe uma demanda crescente pelo reconhecimento do legado negro na região e por sinais de resistência contra processos que afetam diretamente a população negra nos dias atuais. 

“O bairro vive atualmente um processo de verticalização que afeta suas dinâmicas econômicas, sociais e culturais. Assim, é essencial lembrar o que a Barra Funda ofereceu e continua oferecendo a São Paulo: a criatividade negra expressa na música, dança, poesia, ritmo, festas carnavalescas, espetáculos do Carnaval, bailes e rodas de samba”, afirma.

Exposição Bambas, na Barra Funda, resgata memória e representação negra no território
Tia Neide e Zelão Foto: Divulgação

De acordo com o coordenador-executivo do projeto, Paulo César Ramos, a Barra Funda passou por várias ondas de transformação e desenvolvimento, desde o século 20, mas a população negra continuou lá. Hoje, contudo, uma nova onda de investimentos econômicos que coloca o bairro em segundo lugar no ranking de verticalização ameaça sua presença.

 “Esse tipo de construção é predatória do ponto de vista social, porque  drena muitos recursos econômicos, de infraestrutura e também de transporte. E causa um impacto econômico indireto, que é o da gentrificação, pois os terrenos começam a encarecer, as incorporadoras começam a ter interesse nos lugares, e as pessoas pobres, que em geral acabam sendo a população negra, tendem a deixar o território”, afirma. 

A pesquisa mostra que a presença negra resiste por causa do samba. “Isso tem muito a ver com os espaços da cultura negra, especialmente aqueles ligados ao samba, puxados, como se percebe, pela sociabilidade que se produziu em torno do Camisa Verde, dos bailes”, pontua. 

Para Ramos, o grande problema do processo de gentrificação não está apenas na expropriação econômica, mas também na expropriação simbólica, na interrupção de laços afetivos que constroem a nossa subjetividade. “É por isso que a Barra Funda se destaca no contexto, pois, diferentemente de outros bairros, as coisas ainda estão ali. O esforço que estamos fazendo agora é para tudo isso  continuar como está, para que essa expropriação simbólica não aconteça”, diz.