“Não dá para comparar o preço dos alimentos nos governos Lula e Bolsonaro”, afirma Gerson Teixeira
Economista explica por que era muito mais caro comer na gestão anterior do que agora 

 A imagem política da semana tem como símbolo um simples adereço, mas que explica com maestria os métodos utilizados pela oposição para enfraquecer o governo Lula. Em meio ao debate sobre o preço dos alimentos, parlamentares de extrema-direita entraram no plenário usando bonés com os dizeres “comida barata novamente, Bolsonaro 2026”. A resposta do governo veio na mesma moeda: bonés com a frase “o Brasil é dos brasileiros”. 

A guerra narrativa trouxe à tona uma enxurrada de reportagens para saber, de fato, se o preço dos alimentos era mais barato até 2022. A resposta é não. Quem garante é o economista e ex-coordenador do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas (Napp) Agrícola, Gerson Teixeira. 

“Não dá para comparar a gestão anterior com a de agora. O governo Bolsonaro não tinha estratégia nenhuma e, de certa forma, entregou a população à própria sorte não só em função da pandemia, mas também pela alta dos alimentos.  A inflação era tão grande naquela época que o país voltou a ser ameaçado pela pobreza extrema, agora reduzida à menor taxa da história pelo atual governo”.  

De fato, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos dois primeiros anos de Bolsonaro, a Inflação da Alimentação no Domicílio chegou a 27,4%. Já nos dois primeiros anos do governo Lula, tal montante ficou na casa dos 7,6%. A diferença é tamanha que faz a comparação (e o uso do boné) parecerem absurdas. 

O que de fato está acontecendo?

Ainda que as gestões sejam incomparáveis, a alta de alguns alimentos como café, arroz e carne é considerada um dos grandes problemas a serem resolvidos pelo atual governo. A crise, prossegue Teixeira, vem justamente do fato de a gestão Lula 3 ter realizado diversas melhorias. 

“O que está acontecendo é que o governo tem sido vítima da própria virtude, já que colocou em prática uma série de medidas que ampliaram o consumo da população brasileira. O combate à pobreza extrema, a geração recorde de empregos e o aumento no poder de compra geraram um novo contingente de consumidores, aumentando a demanda por alimentos sem que houvesse oferta à altura”. 

Para frear o problema, Teixeira sugere duas medidas: tributação da exportação e a criação de estoques públicos de alimentos. “Com um agronegócio voltado em grande parte para o mercado externo, fica difícil garantir que a produção de alimentos atenda à demanda da população. Para se ter ideia, o Brasil exporta 26% da carne que produz, enquanto os Estados Unidos exportam apenas 7%” 

Além do aumento da demanda, com desemprego na casa dos 6%, o aumento dos preços dos alimentos no Brasil envolve múltiplos fatores. Um deles está no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação do país, que encerrou 2024 em 4,83%, acima do teto da meta estipulada pelo governo, de 3%, com tolerância de até 4,5%.

Também é importante levar em conta fatores climáticos como o fenômeno El Niño, que  impulsionou o aumento das temperaturas globais e as condições meteorológicas adversas no mundo. No Brasil, eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, encareceram os alimentos.

Lula se pronuncia

Em entrevista às emissoras de rádio Metrópole e Sociedade, da Bahia, concedida no dia 6 de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que o Governo Federal trabalha intensamente para diminuir os preços dos alimentos no Brasil. “Nós estamos trabalhando, conversando com empresários, utilizando muito a competência da Fazenda, a competência do Ministério da Agricultura, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, para que a gente encontre uma solução sobre como reduzir o preço. Nós vamos encontrar uma solução para os preços”, assegurou o presidente.

Lula adiantou que na próxima semana deverá se reunir com representantes de setores do agronegócio para discutir medidas que possam ser tomadas nesse sentido. “Nós estamos trabalhando com muito afinco. Na semana que vem eu vou ter uma reunião com os produtores de carne desse país. Vou ter com os produtores de arroz. Ou seja: vou ter com todos os segmentos para saber como é que a gente faz para fazer com que os preços sejam compatíveis com a necessidade de compra do povo brasileiro. Comida barata na mesa do trabalhador é uma coisa que nós estamos perseguindo. E eu tenho toda a certeza do mundo de que, da mesma forma que nós fizemos isso no primeiro ano, nós vamos fazer isso daqui para frente”.