A delação premiada de Mauro Cid, revelada por Elio Gaspari, expõe o plano de golpe articulado por Michelle Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e outros membros da extrema direita, com o apoio de figuras chave do governo Bolsonaro

Delação de Mauro Cid revela plano golpista envolvendo familiares e aliados de Bolsonaro
Mauro Cid Foto: Lula Marques/Agência Brasil

De acordo com o jornalista Elio Gaspari, as revelações da delação premiada de Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, colocam em evidência o risco que o Brasil correu no final de 2022, quando um grupo radical buscava um golpe de Estado. O núcleo mais extremista dessa trama incluía Michelle Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro e outros aliados próximos do ex-presidente, como o presidente do PL Valdemar da Costa Neto, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, e o ex-assessor para Assuntos Internacionais Felipe Martins.

A delação revela que, no final de 2022, esse grupo se encontrou com Jair Bolsonaro para instigá-lo a dar um golpe de Estado, com a justificativa de que havia apoio popular para tal medida. Em uma reunião ocorrida em 2 de novembro de 2022, Cid relatou que Bolsonaro estava dividido entre duas hipóteses: uma tentativa de fraudar as eleições e uma alternativa mais radical, que envolvia convencer as Forças Armadas a apoiar um golpe militar.

Dentro desse núcleo radical, existiam duas alas distintas. Uma ala, a “menos radical”, tentava encontrar evidências de fraudes nas urnas, enquanto a ala mais extremista defendia um “braço armado” para a execução do golpe. Cid relatou que, apesar da falta de organização formal, membros como Michelle e Eduardo Bolsonaro mantinham contato constante com Bolsonaro, pressionando-o para tomar medidas mais drásticas.

Outros grupos: caminhos para oposição e resistência

Além do grupo radical, havia outros dois grupos formados por figuras próximas ao ex-presidente. Um deles, incluindo Flávio Bolsonaro e o ministro Ciro Nogueira, tentava convencer Bolsonaro a reconhecer sua derrota e se tornar o “grande líder da oposição”. O outro grupo, composto pelos generais Freire Gomes e Paulo Sérgio Nogueira, era contra qualquer ação golpista e acreditava que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições de 2022.

Cid ainda relatou que, após o segundo turno das eleições de 2022, Filipe Martins, assessor de Bolsonaro, levou um jurista para encontros com o ex-presidente. O objetivo era criar um “documento” com páginas de considerandos que anulava a eleição, prendia ministros como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e ainda faria com que Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, fosse também responsabilizado. Esse documento fazia parte de uma tentativa concreta de implementar um golpe que, felizmente, não se concretizou.

Essas novas revelações, publicadas por Elio Gaspari no jornal O Globo, reforçam o risco que o Brasil enfrentou em 2022 e colocam em destaque a atuação de figuras centrais dentro do círculo bolsonarista, que tentaram usar o poder de forma ilegítima para invalidar um processo eleitoral legítimo.