Excesso de ortodoxia do Banco Central encarece a dívida e atrapalha crescimento
Alberto Cantalice, diretor da Fundação Perseu Abramo, analisa os avanços e desafios do governo Lula, destacando conquistas sociais e econômicas rumo a 2026
O presidente Lula, em uma fala no final de 2024, afirmou que os dois primeiros anos de seu governo de União e Reconstrução foram dedicados à semeadura e reconstrução, enquanto os próximos anos de seu mandato (2025/2026) serão a hora de colher os resultados.
Muito já foi realizado nesses anos iniciais. O principal destaque foi o desnudamento e a completa elucidação da tentativa de golpe de Estado, levado a cabo por militares e civis, cujo objetivo era anular os resultados das urnas de 2022 e assassinar Lula, Alexandre de Moraes e Geraldo Alckmin.
Outro marco significativo foi a recuperação da economia, com a aprovação da PEC dos Pobres, que viabilizou a inclusão no orçamento da União do auxílio emergencial de R$ 600, posteriormente transformado no Bolsa Família, com o acréscimo de R$ 120 por criança de até seis anos.
O não provisionamento orçamentário para esses valores durante o governo anterior evidencia duas possíveis alternativas: caso Bolsonaro tivesse sido reeleito, o programa seria extinto ou o valor seria reduzido para R$ 200, como propunha originalmente Paulo Guedes durante a pandemia. Vale lembrar que o aumento para R$ 600 foi fruto de intensa pressão da oposição à época.
O crescimento econômico e a robustez do PIB nesses dois primeiros anos desacreditaram as previsões do mercado, que errou seguidamente e surpreendeu os “analistas” da mídia empresarial e os porta-vozes do neoliberalismo. Mesmo com os desafios impostos pela crise climática — que inundou o Rio Grande do Sul, provocou seca na Amazônia e incêndios no Pantanal —, e com o suporte bilionário do governo federal para mitigar esses impactos, a economia manteve-se resiliente.
Naturalmente, essas condições climáticas afetaram a safra e a produção de carnes e derivados, já que as regiões impactadas são grandes polos produtores. Ainda assim, o mercado foi aquecido pelo aumento do emprego, pela eliminação da fila no INSS e pela ampliação de programas sociais, que injetaram recursos significativos na economia. Essa movimentação gerou um leve aumento na inflação. Já no final do ano, a realização de lucros por empresas transnacionais e certa especulação com a moeda contribuíram para a desvalorização do real e a alta do dólar.
O “remédio” aplicado pelo Banco Central — o aumento da taxa de juros —, além de excessivamente ortodoxo, encarece a dívida pública e amplia o desembolso necessário para sua rolagem pelo Tesouro Nacional. Trata-se de uma solução inadequada que contrai investimentos e dificulta o crescimento econômico.
O compromisso com o novo arcabouço fiscal, como ressaltou o presidente Lula em um evento recente ao lado do ministro Fernando Haddad, será determinante para o sucesso do governo até 2026.
Esse é o caminho!