Balanço: um período de gestão de alinhamento com os desafios do PT, por Paulo Okamotto
Estamos vivendo um momento de instabilidade mundial em um mundo pós crise da globalização que está mais fragmentado, individualista e com o enfraquecimento dos organismos multilaterais. Neste cenário, os movimentos conservadores e da ultra direita tendem a predominar como podemos ver na eleição de Trump nos Estados Unidos e no resultado da eleição na Alemanha.
Do ponto de vista geral, as guerras (entre Rússia e Ucrânia e o massacre desumano por parte de Israel na Faixa de Gaza e Líbano; as turbulências políticas na Coréia do Sul e a disputa da Síria) soma-se ao aumento da concentração de renda mundial, a ampliação do capital monopolista e seu ímpeto de renovação por mais lucro que tem transformado o mundo trabalho, as formas de sociabilidade, a cultura, entre outras áreas.
Aqui no nosso país, apesar de o presidente Lula resgatar todos os programas de governos anteriores, a valorização do salário mínimo e fazer o Brasil voltar a crescer, isso não tem sido suficiente para encantar a maioria da sociedade brasileira. Esta é a nossa principal preocupação para o projeto de 2026.
Como muitos de nós já apontamos, ganhar a eleição e o governo federal não pode ser considerado o nosso ponto de chegada. Após vencer por mais de 2 milhões de votos, ficou ainda mais nítido que precisamos estar permanentemente aptos à disputa de opinião pública e, principalmente, à necessidade de ter um projeto para o Brasil que seja claro e que dialogue com as expectativas e necessidades do povo brasileiro. É neste contexto em que a Fundação Perseu Abramo tem uma missão muito importante que é produzir conhecimento para transformar a realidade a partir da qualificação de seus dirigentes e militantes, quer seja, nacional, estadual e/ou municipal.
Para envolver cada vez mais o conjunto do Partido, durante este primeiro período de nossa gestão estivemos alinhados com os desafios definidos pela direção do PT e nossos esforços foram direcionados para capacitar os dirigentes e militantes seja com produções de conteúdo na comunicação; edições de livros e outras publicações, como a Teoria e Debate especial sobre a ditadura militar e cursos de formação que vão desde temas internacionais até sobre fé, política e democracia.
Através do nosso Núcleo de Pesquisas (Noppe), identificamos as principais debilidades que o Partido enfrenta quanto ao diálogo com o povo e sobre qual é o entendimento que o povo tem da imagem do PT. Realizamos uma pesquisa a respeito das percepções das camadas simpatizantes do PT e as razões dos setores da população que tem sinalizado a desaprovação do governo Lula. Neste final de ano estão em curso as entrevistas sobre as razões do voto nas eleições municipais de 2024.
Com as Fundações Maurício Grabois, Lauro Campos/Marielle Franco, Rosa Luxemburgo, investigamos sobre as classes trabalhadoras no Brasil. A pesquisa procurou dimensionar aspectos da realidade do trabalho, o impacto das recentes reformas neoliberais e elementos da consciência de classe.
Para melhor compreender a realidade das mulheres, o Noppe concluiu, com o Sesc SP, a pesquisa sobre Mulheres no Brasil que revela novos dados de realidade e de consciência sobre o que é ser mulher no Brasil. Serão realizadas apresentações públicas em unidades do Sesc em SP, devendo ser estendidas a outros estados.
Terminamos o ano com a Editora lançando a coleção completa das resoluções dos congressos e encontros do Partido dos Trabalhadores (PT), reunindo os documentos fundamentais de 44 anos de história. Também lançamos”Democracia versus Neoliberalismo” que inicia uma coleção voltada para o avanço da crítica e da superação do neoliberalismo.
Sob coordenação da companheira Eleonora Menicucci apresentamos “Feminismo e o PT” condensando uma história coletiva fundamental. Também lançamos o quinto volume da coleção de Paul Singer, “Lições de Economia”, que reúne seu curso na Maria Antônia nos anos 1968 e o embate teórico com o neoliberalismo.
O Centro de Altos Estudos (CAE) esteve empenhado na elaboração de um caderno de subsídios e contribuições para os programas de governo e plataformas legislativas dos candidatos do PT às eleições municipais. Com a participação dos militantes que constroem os NAPP’s (Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas) elaboramos um caderno com propostas programáticas e, a partir dele, uma série de 25 (vinte e cinco vídeos) com resumo de cada eixo. Também colocamos em prática “o modo petista de fazer campanha” com a iniciativa de “Mentoria” para apoiar as candidaturas. Destas ações, fica o aprendizado de que devemos iniciar o preparo de nossos candidatos e candidatas com mais planejamento e antecedência.
Ainda sobre a capacitação para a batalha eleitoral, fizemos o curso para os candidatos e candidatas composto por temas variados e um curso sobre comunicação política que devem ser aperfeiçoados e continuados.
Buscamos chamar a atenção dos dirigentes, militantes e filiados para três temas que aprendemos do quadro composto pelas nossas pesquisas: religião; segurança-pública e a economia do Governo Lula e sua relação com os empresários de pequenos negócios.
Fizemos dois ciclos do curso “Fé, democracia e política”; constituímos um Grupo Temático sobre Religião; elaboramos uma Cartilha para apoiar os nossos candidatos com o diálogo com os evangélicos e fizemos uma série com depoimentos de lideranças que praticam a sua fé. Embora a esquerda tenha uma tradição de não refletir muito sobre o papel da religião na vida das pessoas, chamamos a atenção para a importância da religião para povo brasileiro, que é um povo eminentemente cristão e, por isso, a sua prática de fé constitui a sua identidade, sendo uma referência de valores e para a vida.
O debate acerca da segurança pública também foi tema de um conjunto de iniciativas como: discussão no Napp com gestores, especialistas, trabalhadores da área e o setorial do PT; elaboração da Cartilha com proposta da área para as cidades; série de vídeos com lideranças da área e outra sobre o conteúdo através do mote “Família Segura. Essas ações fazem parte do trabalho de construção de uma proposta sobre segurança pública nacional que deve persistir para o próximo período de nossa gestão.
Isto porque muitas vezes tratamos a questão da segurança econômica, como bolsa família, acesso ao mercado de trabalho, mas a própria segurança física também tem uma importância grande para o povo pobre que mora em locais com muita violência. Quem mais sofre são as mulheres e os jovens negros. Portanto, é importante ter um discurso não só de denúncia, mas também de diálogo e proposições concretas e claras.
Iniciamos a elaboração de uma linha de diálogo com empresários de pequenos e médios empresários para demonstrar que a política de Lula faz com que o negócio e a vida dele prospere e evolua.
Vamos continuar ampliando a nossa compreensão sobre os trabalhadores por conta própria e os empresários de pequenos negócios; como entendem seu trabalho; como se vêem, como constituem os seus valores; como fazemos para dialogar com esse público e convidá-los para ingressar no PT e construí-lo como espaço privilegiado de consciência e luta. Esse esforço deve contar com o apoio do Noppe, com a continuidade das pesquisas sobre a classe trabalhadora.
Estimulamos o Grupo Temático sobre Trabalho de Base que reuniu militantes de diferentes áreas que exercem esta metodologia em sua prática cotidiana. O GT elaborou uma cartilha intitulada “Passo a passo para o Trabalho de Base” e também iniciou a formação de formadores. O próximo passo é a realização de um Programa de Mentoria e o lançamento de uma série de vídeos sobre o tema que já estão agendados para o início do ano.
Na formação, fizemos cursos para tratar temas como os desafios e soluções para o Desenvolvimento Nacional: Reconstrução e Transformação e organizamos o curso de extensão em parceria com a Universidade de Campinas. Ainda nesta área, ENFPT concentrou esforços na continuidade do Projeto Nova Primavera, que na jornada deste ano inscreveu 5085 participantes dos quais 2891 participaram das oficinas nacionais realizadas por meio do Zoom e 1927 participaram nas Plenárias estaduais também realizadas pelo Zoom. A grande inovação deste ano foi a ênfase nas ações territoriais que alcançaram 1050 agendamentos com mais de 300 relatos computados por participantes em todo o Brasil. A outra iniciativa formativa de peso foi o curso de dirigentes do PT que começou a ser implantado em 2023 e no ano de 2024 acelerou muito com 1975 inscritos em todo o Brasil e a participação efetiva de 1.629 dirigentes de 12 Estados do País.
Também iniciamos o processo de formação das mulheres do PT que tem como ponto de partida uma pesquisa em que queremos saber qual é a necessidade de capacitação que elas mesmo julgam. Precisamos mudar a nossa postura e deixar de uma instituição “ofertante” de cursos sem levar em consideração as necessidades do nosso público, mas sim saber as demandas reais das dirigentes e militantes mulheres do PT para formular e massificar os processos de formação.
O Centro Sérgio Buarque de Holanda – Documentação e Memória Política da Fundação Perseu Abramo (CSBH/FPA) implementou seu planejamento nas áreas de Preservação do Acervo e Difusão da Memória. Essas duas frentes de trabalho se desenvolveram com a missão principal de organizar e divulgar a memória da luta do Partido dos Trabalhadores e da esquerda brasileira.
Com o objetivo de enriquecer as discussões políticas e oferecer conteúdo histórico contra hegemônico à militância petista, continuamos a promover atividades que contribuem para os debates sobre as efemérides da história contemporânea brasileira. O 60° aniversário do golpe militar foi a efeméride de destaque deste ano, e nossa abordagem procurou relembrar a luta por democracia, os crimes e os prejuízos da ditadura militar. Consolidamos uma agenda diversificada, incluindo ciclos de debates, seminários, exposições, produção de textos, notícias, #tbt’s (expressão usada na internet que relembra fatos e acontecimentos às quintas-feira) e outras ações voltadas à Difusão da Memória, abordando temas políticos cruciais que marcaram a trajetória de nossa história.
Em relação ao acervo, houve a continuidade dos trabalhos de preservação e digitalização, incluindo a recepção e organização do acervo de Luiz Gushiken e do Foro de São Paulo. Foi finalizado o projeto de cooperação com o Iberoarchivos, que resultou na digitalização de 3.000 documentos e na realização de 10 entrevistas de história oral de militantes que construíram a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, além da organização do acervo da Secretaria. Entre os projetos em andamento, destacam-se a Política de Desenvolvimento de Acervos e a elaboração do Guia do Acervo, previsto para 2025.
O projeto Reconexão com as Periferias realizou 4 (quatro) atividades voltadas ao debate sobre territorialização nas periferias e para contribuir com a difusão de conhecimento lançou dois livros abordando temas como violência, chacinas e a politização das mortes no Brasil e a difusão do livro Periferias no Plural. Além disso, estabeleceu uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Friedrich Ebert (FES) e a Universidade de São Paulo (USP) para a edição do livro Periferias na Pandemia. Buscando ampliar a difusão de suas produções, apresentou o projeto para atores institucionais.
Já na área de cooperação internacional, promovemos atividades voltadas a debater a situação mundial, a política externa do governo brasileiro e a política de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores. Entre estas atividades, destacamos as reuniões semanais do Grupo de Conjuntura, as edições também semanais do programa televisivo Janela Internacional, as notícias e informações divulgadas na página da FPA, o diálogo permanente com Fundações de partidos políticos amigos e outras entidades internacionais, a colaboração com atividades do Diretório Nacional do PT, da Secretaria de Relações Internacionais do PT, a Secretaria Executiva do Foro de São Paulo e os Núcleos do PT no exterior.
Do ponto de vista político, enfatizamos atividades relativas a América Latina e Caribe, em particular relativas a Cuba, Venezuela, México, Argentina, Uruguai e Equador; atividades relativas a China e aos Estados Unidos; a Formação de Internacionalistas; o acompanhamento do G20, dos BRICS, da COP 30; e o apoio ao movimento de solidariedade à Palestina”.
Por falar em COP 30, reunimos no Napp Amazônia lideranças políticas, sociais e acadêmicas da região para iniciar a elaboração de subsídios da FPA e PT para a COP 30, importante momento para que possamos discutir o desenvolvimento sustentável, a geração de emprego e renda na região dentro da perspectiva do projeto nacional que defendemos.
Como podemos constatar, fizemos muitas atividades neste primeiro período de nossa gestão que buscam apoiar e capacitar nossos dirigentes e militantes. Entretanto, é preciso aprimorar nossa gestão e buscar conectar ainda mais as áreas para nos aproximar dos resultados que esperamos, formar ainda mais pessoas e ampliar a consciência do conjunto do PT.
Perspectivas: apoiar a construção de um PT que encante e mobilize acerca do nosso projeto de Brasil
O próximo período será especial e decisivo para os rumos do nosso Partido. Ano que vem vai acontecer a eleição da nova direção do PT, logo após este processo eleitoral municipal. Teremos como desafio ajudar a elevar a qualidade da discussão e eleição dos diretórios para elegermos uma direção forte e preparada para crescer o PT em número de filiados, militantes e lideranças das mais variadas áreas da sociedade e para dar conta dos grandes embates que teremos em 2026.
Também temos que nos preparar desde já para formar muitas pessoas, dirigentes que podem ser bons organizadores de campanha, bons candidatos, bons estrategistas, bons comunicadores, entre outras áreas essenciais para o nosso trabalho político.
Neste percurso será muito importante continuar os trabalhos que iniciamos, mas abrir processos de discussões sobre temas como o financiamento do Partido e o financiamento eleitoral; como podemos aprimorar a nossa democracia interna para que a gente tenha um PT mais democrático em que a base possa ter mais voz do que tem hoje e que possa participar dos processos decisórios, seja em nível nacional, estadual ou municipal.
Serão temas fundamentais que podem contribuir com o vigor e futuro do nosso Partido também: o papel dos portadores de mandatos na condução partidária; a gestão e transparência do PT; a questão de nossa ética política, a questão das tendências no fortalecimento e crescimento do Partido e a importância da comunicação e mobilização partidária.
Precisamos discutir melhor sobre como podemos contribuir com as lutas sociais e como podemos fazer para que o Partido também reflita quais são as práticas políticas que fazem com que o PT seja reconhecido pela vanguarda do povo brasileiro e dos militantes que atuam no movimento social.
Após a eleição da direção do PT, esperamos que a direção discuta o papel das suas instâncias, inclusive da Fundação Perseu Abramo, sobre as renovações necessárias do Estatuto, assim como a governança e a sua missão, fazendo com que tenhamos mais foco em nossos objetivos para os próximos anos.
Sobre os temas mais gerais, vamos buscar aprofundar as discussões estratégicas que compõem o nosso projeto nacional como: melhorar e ampliar o sistema de educação; fortalecer a nossa democracia; o aperfeiçoamento do sistema político brasileiro; o financiamento partidário brasileiro; a questão do clima e transição energética; os gargalos e soluções do desenvolvimento nacional; a proposição de Nova Indústria Brasileira; os desafios do combate à pobreza e miséria, entre outros temas.
Em 2025 teremos uma oportunidade para tratar alguns destes temas dentro da agenda da COP 30. Devemos aproveitar o evento para fazer debates públicos e elaborar uma proposta de desenvolvimento sustentável, geração de emprego e renda e apresentar perspectiva de futuro digno para os 30 milhões que vivem na região.
Como podemos ver, 2025 será um ano cheio de desafios que vão definir como entraremos em campo em 2026. Em meio a este cenário que vamos descortinar o nosso futuro sabemos que não podem faltar: conhecimento, debate, coesão, unidade e disposição política para construir um Partido que encante e mobilize o nosso Projeto Nacional e que esteja à altura dos desafios futuros do Brasil.
A seguir listamos as atividades planejadas pelas as áreas da FPA para o próximo ano que será de muito trabalho.
Vamos juntos!
Um forte abraço
Paulo Okamotto
Presidente da Fundação Perseu Abramo