Paulo Okamotto: 'O futuro é feito de esperança e ação'; leia entrevista
Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo, na abertura do Seminário nacional do PT
Foto:Sergio Silva/FPA

Em entrevista à Focus Brasil, Okamotto destacou o papel do seminário nacional “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”, organizado pelo PT e pela FPA, na última semana em Brasília, como um momento crucial para o PT revisitar suas práticas, analisar as mudanças profundas na sociedade brasileira e projetar um futuro que atenda às novas demandas do país. “O Brasil mudou muito, e o partido precisa acompanhar essas transformações”, afirmou.

Sob a liderança de Paulo Okamotto, a Fundação Perseu Abramo desempenha um papel fundamental na reflexão e no planejamento estratégico do Partido dos Trabalhadores. 

Para Okamotto, o seminário foi mais do que uma discussão conjuntural: foi um chamado à ação para atualizar as bandeiras do PT e fortalecer o diálogo com os trabalhadores, especialmente diante das mudanças no mercado de trabalho e nas dinâmicas sociais impostas pela tecnologia. “Hoje, temos um cenário que exige novas respostas, desde os trabalhadores de aplicativos até as demandas por sustentabilidade e justiça climática”, pontuou.

Com uma visão otimista, mas ancorada na responsabilidade, Okamotto também abordou o desafio de comunicar as ideias do partido em um ambiente polarizado e fragmentado. “A comunicação é estratégica. Sem ela, ficamos falando sozinhos. Precisamos encantar e mobilizar a sociedade com propostas que tenham um impacto real na vida das pessoas”, concluiu, reiterando o compromisso da Fundação em liderar essas discussões com profundidade e visão de futuro.

Presidente, qual sua avaliação do seminário?

De alguma forma nós pautamos politicamente uma revisitação mais conjuntural. Uma revisitação ou uma análise mais majoritária do partido sobre como é que o PT vê a sociedade brasileira, como é que o partido está vendo o Brasil hoje. O Brasil mudou muito nos últimos vinte, trinta anos.

Novas tecnologias, novas formas de trabalhar, novos problemas, problemas climáticos, enfim, acho que é um conjunto de coisas que acontece nesse país. Entendi que era importante o PT, coletivamente, tomar consciência. Então, acho que o seminário começa a abrir essa possibilidade. O partido vai repensar um pouco como atua, como dialoga com as pessoas, com os trabalhadores, como é que ele dialoga com a sociedade brasileira.

Então, a primeira coisa que considero muito importante é a tomada de consciência e a discussão específica sobre a questão internacional. No mundo também houve grandes alterações e lamentavelmente enfrenta guerras perigosíssimas, Ucrânia com a Rússia, no Oriente Médio, há uma certa conturbação política no mundo que apresenta pela primeira vez, nos últimos anos, realmente um perigo muito grande para a humanidade.

E o Brasil está dentro desse contexto. Joga um papel importante pela presença do Lula, pela sua posição pacifista. É uma preocupação que, enquanto partido político, enquanto sociedade, temos que ter. Começamos a discutir melhor a questão do mundo do trabalho. Hoje, os trabalhadores mudaram. Não só a ação dos trabalhadores celetistas, tanto do comércio, serviços, da indústria. Mas também existem ainda muitos trabalhadores informais, muitos trabalhadores que trabalham por conta própria, em aplicativos, são trabalhadores autônomos. Mesmo o autônomo de classe média, que tinha no passado, acho que mudou, virou um autor mais. Mas vamos chamar assim, mais assalariado entre aspas e, portanto, acho que o partido tem que ter consciência dessa parcela importante da força de trabalho para poder representar. Ver as dificuldades e as suas dores até para, do ponto de vista político, construir soluções para essas pessoas. 

Comunicação foi um tema importante no evento?

A comunicação de um partido político como o nosso é muito estratégica. Acho que a comunicação tem a grande tarefa de levar a mensagem de um partido político. Ele tem a tarefa de convencer as pessoas sobre a sua proposta, sobre a sua ideologia. E se você não tiver capacidade de fazer uma boa comunicação, que tenha esse resultado, então você praticamente está falando sozinho, não está falando para ninguém. É importante ter essa consciência e saber que com as novas tecnologias a constituição de redes possibilita uma comunicação mais rápida, mas também em bolhas. Hoje a gente se comunica mais com a família, com os amigos, com o setor onde você trabalha, com aescola que você estuda, enfim, você está muito mais interligado, mais socializado. 

Um partido político, de tempos em tempos, precisa discutir os grandes problemas para produzir grandes mobilizações, para chamar a atenção dos problemas do país ou então construir um futuro. Senão, fica com mais dificuldade, então precisamos quebrar a cabeça para descobrir como é que vamos fazer isso.

 E o futuro? Qual sua esperança?

O futuro é a gente. Acho que precisamos ainda discutir os problemas, discutir a questão da educação, o que a educação de hoje está possibilitando para as nossas crianças, para os nossos jovens, para o pessoal que está frequentando a universidade, será uma formação capaz de suprir as novas empresas e precisamos ter empresas mais promissoras.

Empresa que cria emprego de maior qualidade é capaz de produzir produtos e serviços melhores para pagar salários mais altos e desenvolver o país. Temos que pensar que tipo de empresa vamos ter, tanto nas indústrias como serviços e no comércio, que sejam mais inovadoras, que levem em consideração a questão do meio ambiente e as mudanças que estão acontecendo hoje.

Do ponto de vista do consumo de energia, temos que pensar sobre o papel que o Brasil vai desempenhar na questão climática, e o país tem sido líder nesse processo. Mas como é que vamos liderar? Ao mesmo tempo que a gente está liderando o debate internacionalmente, temos que oferecer soluções para as comunidades que moram nessa região e para a população que mora lá, como no caso da Amazônia brasileira: mais de trinta milhões de pessoas e que engloba todo o pessoal que mora na região amazônica, a Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru. É um continente muito grande, precisamos também enxergar na esquerda propostas críveis, que criem futuro e oportunidades. Acho que esse também é um debate que está a ser feito, para criar condições de a gente continuar sendo ouvido, levado a sério por essas pessoas.

Temos que fazer debates de posição partidária. O nosso partido tem uma forma de trabalhar e funcionar já há muitos anos. É uma prática de como são feitas as coisas, como funciona o diretório, como fazer resoluções, como dar sua direção, a sustentação financeiramente, os seus programas. Precisamos revisitar cada vez mais o interesse da população pelas ideias do partido, como o partido pensa. Temos que capacitar mais os nossos dirigentes e filiados a defenderem as bandeiras do partido. E essas bandeiras tem que encantar o povo brasileiro.