Operação Contragolpe revela conspiração envolvendo oficiais ligados a Bolsonaro; plano incluía assassinatos, uso de armas de guerra e sequestros

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Mario Fernandes, um dos presos nesta terça-feira (19) pela PF : digitais golpistas estão por toda a trama, afirmam analistas Foto: Isac Nóbrega/Reprodução.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Mario Fernandes, um dos presos nesta terça-feira (19) pela PF : digitais golpistas estão por toda a trama, afirmam analistas Foto: Isac Nóbrega/Reprodução

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta terça-feira (19) quatro militares e um policial federal acusados de tramar o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O plano, intitulado “Punhal Verde e Amarelo”, foi planejado após o resultado das eleições de 2022 e seria executado em 15 de dezembro do mesmo ano.

Entre os presos está o general de brigada da reserva Mário Fernandes, ex-ministro substituto da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro. A PF também identificou a participação de oficiais ligados ao ex-ministro Braga Neto, ex-candidato a vice de Bolsonaro.

O plano “Punhal Verde e Amarelo” previa o emprego dos kids pretos, tropa de elite do Exército da qual os militares presos hoje faziam parte. Kids pretos são militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais, que existe desde 1957 e tem um efetivo de 2.500 homens, segundo o Exército. Segundo a revista Piauí, pelo menos 26 “kids pretos” ocuparam cargos na gestão Bolsonaro, entre eles o tenente-coronel Mauro Cid e o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes.

A investigação

Conforme a PF, os conspiradores usaram técnicas avançadas de operações militares para planejar os assassinatos e pretendiam implementar um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” liderado por membros do grupo para controlar os conflitos que surgissem após as ações. O plano envolvia o uso de armas de guerra, explosivos e até envenenamento. Moraes seria sequestrado antes de ser morto.

O esquema foi descoberto a partir da recuperação de mensagens apagadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, cujos dispositivos eletrônicos foram analisados pela PF. Em depoimento nesta terça-feira, Cid corre o risco de perder benefícios de sua delação premiada por ter omitido informações sobre o caso.

Prisões e buscas

Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e três de busca e apreensão no Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e Distrito Federal. Entre os presos estão, além de Mário Fernandes, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, os majores Rodrigo Bezerra Azevedo e Rafael Martins de Oliveira, e o policial federal Wladimir Matos Soares.

A operação também incluiu medidas cautelares, como entrega de passaportes, proibição de contato entre investigados e suspensão do exercício de funções públicas. O Exército Brasileiro acompanhou as ações.

Conexões  com o Palácio do Planalto

Segundo a PF, o plano foi impresso no Palácio do Planalto e discutido em novembro de 2022 na casa de Braga Neto. Mário Fernandes teria reunido-se com Bolsonaro em 8 de dezembro de 2022 no Palácio da Alvorada, permanecendo por cerca de 40 minutos.

Documentos apreendidos revelaram detalhes logísticos do plano, incluindo recursos bélicos e monitoramento das seguranças de Lula, Alckmin e Moraes. O grupo também chegou a se posicionar nas ruas de Brasília para realizar uma “ação clandestina”, abortada por razões ainda desconhecidas.