Em 1978, Rafael foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU), criado como resposta contundente ao caso de discriminação contra quatro jovens em um clube paulistano e à prisão, tortura e morte de Robson da Luz, acusado de roubar frutas em uma feira. Durante a Ditadura, negras e negros organizados tinham como objetivo combater o autoritarismo, desmascarar o mito da democracia racial e enfrentar o racismo estrutural que permeava a sociedade

Fundador do MNU, Rafael Pinto defende avanços para cidadania plena
Nego Júnior/Divulgação

Um dos mais importantes representantes da luta antiracista no Brasil, Rafael Pinto é  nascido do Bixiga e criado no Ipiranga, em São Paulo. Sua mãe foi empregada doméstica e o pai, pedreiro. Rafael foi o primeiro da família a ingressar em uma universidade, em 1974. Em meio à repressão da ditadura Médici, entrou para o curso de Ciências Sociais na USP.

Sua história reflete o impacto das lutas dos anos 1960, especialmente contra a ditadura, em conscientizar e motivar jovens a se organizarem na luta por mudanças sociais. Foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado na escadaria do Teatro Municipal em São Paulo, em 1978. 

Atuou na antiga Febem durante alguns anos antes de iniciar a carreira no extinto Banco Banespa, privatizado por Fernando Henrique Cardoso no ano 2000. Na virada do século, a sanha liberal tomava conta do mundo e varria do território nacional bancos, empresas e serviços essenciais. 

Rafael considera que “devido às próprias desigualdades socioeconômicas e raciais existentes em nosso país, ainda não conseguimos alcançar uma cidadania plena”. 

Conviveu com outros símbolos do movimento negro local e nacional. Entre eles, está 

Abdias do Nascimento que se destacou nesse contexto, realizando uma crítica contundente ao racismo no Brasil e sendo uma figura central na discussão sobre identidade e resistência. 

“Suas contribuições intelectuais foram fundamentais para a conscientização sobre as questões raciais. Ele não só denunciou a marginalização da população negra, mas também articulou uma luta que buscava interligar a cultura afro-brasileira com outras lutas anticoloniais”, aponta Rafael.

Atuando há pelo menos cinco décadas, em sua avaliação, o direito à cidadania da população negra, que é também a maioria da classe trabalhadora, ainda é um processo em construção.

Sua fala pausada e didática cria uma conexão imediata com o interlocutor. Sua passagem pela diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo e mais tarde pela Afubesp deram a Rafael a convicção de que foi o “fortalecimento e organização dos trabalhadores nos permitiram acessar direitos sociais, culturais, econômicos e políticos”.  

“A classe trabalhadora no Brasil é majoritariamente negra, mas sua situação histórica de exploração e exclusão racial exige ações emancipatórias, mais do que meras inclusões. Os sindicatos, como o dos bancários, têm sido espaços importantes para essa luta, elegendo líderes negros e promovendo debates relevantes”, explica.

Ao considerar as discussões sobre cidadania, o sociólogo destaca que elas devem incluir vozes de diferentes raças e gêneros, pois “é importante que movimentos progressistas tratem a questão racial com a seriedade necessária, permitindo que setores oprimidos assumam papéis de liderança”.

“A construção da cidadania no Brasil é complexa e requer esforços unificados para enfrentar as muitas desigualdades persistentes. A educação e a representação política são ferramentas cruciais para avançar nesse caminho. Devemos continuar promovendo debate e ação para reverter as marcas do colonialismo e garantir um futuro mais justo e inclusivo para todos”, propõe. 

Embora ele reconheça que houveram avanços, devido às próprias desigualdades socioeconômicas e raciais, sua compreensão é que “não conseguimos efetivar uma plena cidadania em nosso país, já que a questão da cidadania é um processo em construção, e é evidente que o fortalecimento e organização dos trabalhadores nos permite acessar os direitos sociais, culturais, econômicos e políticos”.

Rafael Pinto acompanha com entusiasmo a discussão que tomou conta das redes sociais sobre a jornada de trabalho 6×1. Para o ex-sindicalista, “é necessário abordar a emancipação da classe trabalhadora com seriedade e profundidade. Não buscamos apenas inclusão, mas sim emancipação, o que significa que setores oprimidos devem estar à frente dos processos decisórios”. 

Ele acredita que seja necessária uma redução da jornada de trabalho, até mesmo para manter o trabalho  “em função do próprio desenvolvimento do conhecimento, da tecnologia. Hoje as formas de produção são outras e não podemos mais permitir a uberização dos trabalhadores”.