Em reunião do G20, Brasil é protagonista ao anunciar Aliança Global contra a Fome
Com adesão de 82 países, iniciativa quer combater a insegurança alimentar; pedidos por reforma na ONU também são tema do grupo
Nesta semana, o Rio de Janeiro sediou a reunião da Cúpula do G20, que teve início na segunda-feira (18) e reuniu as principais economias mundiais em sessões gerais e reuniões bilaterais entre chefes de Estado.
Com a adesão de 82 países, foi lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A proposta, idealizada pelo Brasil, tem como objetivo acelerar os esforços globais para erradicar a fome e a pobreza, prioridades centrais nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com a assinatura de todos os países do bloco, a Argentina se destacou por aderir de última hora ao grupo de fundadores.Além dos países, há outros 64 integrantes, entre organizações internacionais e instituições financeiras.
Na sessão de abertura, que ocorreu no Museu de Arte Moderna (MAM), o presidente Luiz Ignácio Lula da Silva declarou que a insegurança alimentar é uma decisão política. “Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível. Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável. A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais”, discursou Lula.
“Foi um ano de trabalho intenso, mas este é apenas um começo. A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global”, disse o presidente, que frisou que, apesar de nascer no interior do bloco, o destino da iniciativa é amplo e não restrito apenas ao grupo.
A adesão começou em julho e segue aberta por meio de uma declaração, que define compromissos gerais e específicos, os quais são alinhados com prioridades e condições específicas de cada signatário. Entre as ações estão os “Sprints 2030”, que são ações colaborativas, em uma tentativa de erradicar a fome e a pobreza extrema por meio de políticas e programas em grande escala.
A Aliança Global espera alcançar 500 milhões de pessoas com programas de transferência de renda em países de baixa e média-baixa renda até 2030, expandir as refeições escolares de qualidade para mais 150 milhões de crianças em países com pobreza infantil e fome endêmicas e arrecadar bilhões em crédito e doações por meio de bancos multilaterais de desenvolvimento para implementar esses e outros programas.
Reforma na Governança Global
Durante a segunda sessão do G20, ainda na segunda-feira, Lula classificou o conselho de segurança das Nações Unidas, a ONU, como “omisso” e fez um chamado para que as lideranças globais presentes no encontro se posicionem para “mudar o curso da humanidade”. Para o líder brasileiro, o uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unidos e Rússia).
“Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita”, disse Lula, que fez críticas às soluções para o pós-crise de 2008.
“Naquele momento, escolheu-se salvar bancos em vez de ajudar pessoas. Optou-se por socorrer o setor privado em vez de fortalecer o Estado. Decidiu-se priorizar economias centrais em vez de apoiar países em desenvolvimento”, afirma Lula.
“O mundo voltou a crescer, mas a riqueza gerada não chegou aos mais necessitados. Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sob ameaça. A globalização neoliberal fracassou”, acrescenta.
Documento final da edição
Antes do Brasil transmitir a presidência do grupo à África do Sul, foi divulgado o documento final da edição, que menciona a “situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e a escalada no Líbano” e a necessidade de proteção dos civis na região.
Outros pontos, além da ênfase no combate à fome no mundo e a importância de uma reformulação do sistema de governança (que foram tratados em discursos do presidente Lula), aparecem no documento: sustentabilidade, transição energética, cooperação internacional para tratar sobre inteligência artificial e a taxação dos super-ricos.
O Brasil manteve na declaração do G20 o apoio à igualdade de gênero, com um chamado ao combate à violência contra as mulheres, e taxação de bilionários, apesar das pressões da Argentina, que apresentou ressalvas à assinatura imediata devido a esses pontos.
Tradicional foto oficial do bloco
Conhecida como a “foto de família”, uma tradição nas reuniões do G20, a foto oficial com os chefes de Estado e líderes regionais foi retomada. A tradição havia sido quebrada nas duas últimas edições do encontro do grupo.
Durante a tarde, na segunda-feira (18), os líderes convidados para a cúpula foram até os jardins do MAM e, com o Pão de Açúcar como cartão postal ao fundo, posaram para o registro oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ficou de fora da foto porque se atrasou enquanto se reunia com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que também não participou do retrato, de acordo com a apuração da Globo News. Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, também se atrasou e ficou de fora do registro.