Saiba o que pensam os sindicalistas sobre a PEC 6×1
Acompanhando o andamento da PEC que propõe o fim da escala 6×1, que tomou conta do país em discussões acaloradas, a redação da Focus Brasil conversou com líderes sindicalistas das principais centrais sindicais para saber o que pensam sobre a PEC 6×1. As demandas não retornadas podem ainda entrar na edição.
Responderam à redação: Sérgio Nobre, Presidente da Central Única dos Trabalhadores, CUT; Nivaldo Santana, Secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, CTB; Eduardo Araujo, Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília e Thiago Tanji, Presidente Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.
Confira abaixo o que disseram os líderes sindicais que responderam nossa pergunta sobre os potenciais benefícios dessa mudança, destacando seu impacto positivo na qualidade de vida dos trabalhadores e no equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Sérgio Nobre, Presidente da Central Única dos Trabalhadores, CUT
“Então, nós defendemos a redução das jornadas de trabalho desde o congresso de fundação da CUT, para 40 horas semanais. Estudos mostram que essa mudança, ao contrário do que dizem os empresários, não prejudica a competitividade nem quebra indústrias; ao contrário, países que adotaram essa carga horária experimentaram melhorias na vida dos trabalhadores e aumento na produtividade e qualidade do trabalho.E o Brasil passou da hora de ter jornada de 40 horas. Agora, com um congresso como esse de centro-direita, hegemonizado por empresários, só tem uma possibilidade de passar, que é com muita pressão popular. Então, são muito bem-vindas as mobilizações em torno da pauta, o engajamento das pessoas, em especial nas redes sociais, que é o que mais impacta hoje deputados e senadores. Toda essa campanha é muito importante. É muito importante e a CUT vai estar empenhada nela. Agora, nós temos na economia brasileira realidades muito diferentes e a distribuição dessas horas de trabalho, tem que ser objeto de acordo coletivo, de negociação coletiva, para que você possa ajustar o funcionamento dos setores econômicos. A jornada de trabalho é objeto de negociação entre o sindicato e as empresas, o que tem que estar na lei e é urgente. A primeira vez que o Movimento Sindical Brasileiro pautou uma redução de jornada foi em 1907, através de uma central sindical de imigrantes italianos que reivindicou a jornada de oito horas. A jornada de oito horas só foi ser realidade muito depois, com Getúlio Vargas. A luta por redução de jornada nunca foi fácil no Brasil, é importante as pessoas saberem disso, e ela não é fácil de ser conquistada, mas tem que estar no nosso horizonte permanentemente.”
Nivaldo Santana, Secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, CTB
“Graças aos fenômenos típicos das redes sociais, o movimento VAT – Vida Além do Trabalho – alcançou imensa repercussão, elegendo até um vereador no Rio de Janeiro e transformou-se em pauta através da deputada Erika Hilton, que atua para propor uma PEC para acabar com a escala 6×1. A CTB sempre lutou pela redução da jornada de trabalho como meio mais eficaz para acompanhar o aumento da produtividade do trabalho decorrente dos avanços tecnológicos. A CTB apoia a PEC por compreender que ela enfrenta problemas chaves nas relações do trabalho hoje no Brasil: salários baixos e jornadas longas, na contramão do que vem ocorrendo em vários países.”
Eduardo Araujo, Presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília
“Somos favoráveis, inclusive em nossas negociações deste ano, incluimos o modelo de jornada 4×3. Propusemos aos banqueiros um projeto piloto para experimentar essa jornada, mantendo, evidentemente, a proposta de preservação da produtividade, já que atualmente temos o modelo 5×2. Acreditamos que essa mudança é importante por questões de saúde e para permitir que as pessoas possam viver melhor. Consideramos que a jornada de 6×1 é muito extensa. Em relação ao tema, temos acompanhado outros projetos e frequentemente enfrentamos tentativas de parlamentares de fazer com que os bancos funcionem aos sábados. Em todas as legislaturas, estamos lutando contra isso, contra a ampliação da jornada dos bancários para o modelo 6×1. Acredito que podemos pressionar o parlamento em todas as regiões, sem centralizar as ações. É importante abordar os deputados diretamente em suas bases e escritórios. Essa abordagem é necessária, pois os trabalhadores do comércio enfrentam condições difíceis. Supermercados e shoppings são setores onde os funcionários sofrem bastante. Quando os sindicatos tentam agir, como na tentativa de sindicalizar as pessoas, os patrões respondem com demissões, o que é uma prática antissindical. Esses grupos empresariais que adotam jornadas pesadas são bastante cruéis com os trabalhadores/”
Thiago Tanji, Presidente Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
“O debate sobre a mudança da escala de trabalho é algo que considero fundamental, principalmente para que os sindicatos discutam problemas concretos com as e os trabalhadores (que, por sua vez, constatem a necessidade da existência de ferramentas de organização). Mas eu acho importante que a gente tenha a informação sobre a nossa jornada de trabalho: como nós somos uma categoria profissional, que possui regramento específico pela CLT, temos uma jornada de trabalho diferenciada (5 horas por dia, com possibilidade de duas horas extras contratuais). Em tese, nossa jornada é de 30 horas (de segunda a sábado). E isso é algo que causa bastante confusão na categoria e é uma maneira dos patrões piorarem as condições de trabalho, seja por meio do cálculo incorreto das horas extras contratuais ou da implantação de plantões.É provável, portanto, que essa PEC não incidiria diretamente na nossa categoria profissional, mas, de qualquer maneira, a discussão que está sendo colocada é muito importante para aumentarmos a pressão sobre as empresas em relação ao tema. Na Convenção Coletiva de Rádio e TV em São Paulo, por exemplo, há décadas os patrões impuseram uma cláusula que prevê a possibilidade de trabalhar 12 dias seguidos, o que contraria inclusive a CLT. Neste ano, podemos nos apoiar nessa discussão nacional para barrar isso”.