A esquerda foi responsável por 61% das assinaturas. Enquanto 119 dos 194 votos saíram de partidos desse espectro político, a direita entregou 32 votos, incluindo um do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. O PT registrou 68 votos

Redação Focus Brasil

PEC pelo fim da escala 6x1 avança com apoio da esquerda
Manifestação a favor do fim da escala 6×1: PEC está sendo travada por parlamentares bolsonaristas Foto: reprodução Agência PT

Uma PEC – Proposta de Emenda à Constituição – encabeçada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), vem ganhando força ao propor o fim da escala de trabalho 6×1. A proposta, que agora encabeça uma reivindicação antiga, surge também em meio a divulgação de estudos recentes de efeitos positivos de redução de jornada semanal, em países como Inglaterra e Alemanha. 

No regime atual, profissionais podem trabalhar seis dias seguidos e têm direito a apenas um dia de descanso semanal. Na proposição protocolada em 1º de maio deste ano, Dia do Trabalhador, a parlamentar defende que o país adote a jornada de trabalho de quatro dias, e prevê mudanças no número de horas trabalhadas. A proposta da deputada é de redução da carga de trabalho semanal para 36 horas. Ela também propõe a jornada de trabalho de quatro dias por semana. 

Até a terça-feira, a deputada, com luta encampada por colegas de bancada, ressaltado o apoio massivo de parlamentares do Partido dos Trabalhadores, que resgatou projetos da legenda de mesmo caminho, buscava alcançar o mínimo de 175 assinaturas necessárias para protocolar a PEC e levá-la à discussão na Câmara dos Deputados. 

Nesta quarta-feira (13), no entanto, o número de assinaturas, após intensa campanha e movimentação de pressão nas redes sociais – e uma estranha adesão da grande mídia na defesa dos direitos dos trabalhadores – foi alcançado, segundo anunciou a deputada Erika Hilton logo no início da manhã. De acordo com a deputada, ela já conseguiu coletar 194 assinaturas. Veja no site a lista completa de assinaturas. 

A esquerda foi responsável por 61% das assinaturas. Enquanto 119 dos 194 votos saíram de partidos desse espectro político, a direita entregou 32 votos, incluindo um do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Bancada petista

68 parlamentares petistas já assinaram a PEC, além de trabalhar para encaminhar as PEC já protocoladas pelo PT desde 2005. São eles:

  1. Airton Faleiro (PT-PA)
    1. Alencar Santana (PT-SP)
    2. Alexandre Lindenmeyer (PT-RS)
    3. Alfredinho (PT-SP)
    4. Ana Paula Lima (PT-SC)
    5. Ana Pimentel (PT-MG)
    6. Arlindo Chinaglia (PT-SP)
    7. Benedita da Silva (PT-RJ)
    8. Bohn Gass (PT-RS)
    9. Camila Jara (PT-MS)
    10. Carlos Veras (PT-PE)
    11. Carlos Zarattini (PT-SP)
    12. Carol Dartora (PT-PR)
    13. Dandara (PT-MG)
    14. Delegada Adriana Accorsi (PT-GO)
    15. Denise Pessôa (PT-RS)
    16. Dilvanda Faro (PT-PA)
    17. Dimas Gadelha (PT-RJ)
    18. Dr. Francisco (PT-PI)
    19. Elisangela Araujo (PT-BA)
    20. Erika Kokay (PT-DF)
    21. Fernando Mineiro (PT-RN)
    22. Flávio Nogueira (PT-PI)
    23. Florentino Neto (PT-PI)
    24. Gleisi Hoffmann (PT-PR)
    25. Helder Salomão (PT-ES)
    26. Ivoneide Caetano (PT-BA)
    27. Jack Rocha (PT-ES)
    28. Jilmar Tatto (PT-SP)
    29. João Daniel (PT-SE)
    30. Jorge Solla (PT-BA)
    31. José Airton Félix Cirilo (PT-CE)
    32. José Guimarães (PT-CE)
    33. Joseildo Ramos (PT-BA)
    34. Josias Gomes (PT-BA)
    35. Juliana Cardoso (PT-SP)
    36. Kiko Celeguim (PT-SP)
    37. Leonardo Monteiro (PT-MG)
    38. Lindbergh Farias (PT-RJ)
    39. Luiz Couto (PT-PB)
    40. Luizianne Lins (PT-CE)
    41. Marcon (PT-RS)
    42. Maria do Rosário (PT-RS)
    43. Merlong Solano (PT-PI)
    44. Miguel Ângelo (PT-MG)
    45. Natália Bonavides (PT-RN)
    46. Nilto Tatto (PT-SP)
    47. Odair Cunha (PT-MG)
    48. Padre João (PT-MG)
    49. Patrus Ananias (PT-MG)
    50. Paulão (PT-AL)
    51. Paulo Guedes (PT-MG)
    52. Pedro Uczai (PT-SC)
    53. Reginaldo Lopes (PT-MG)
    54. Reginete Bispo (PT-RS)
    55. Reimont (PT-RJ)
    56. Rogério Correia (PT-MG)
    57. Rubens Otoni (PT-GO)
    58. Rubens Pereira Júnior (PT-MA)
    59. Rui Falcão (PT-SP)
    60. Tadeu Veneri (PT-PR)
    61. Valmir Assunção (PT-BA)
    62. Vander Loubet (PT-MS)
    63. Vicentinho (PT-SP)
    64. Waldenor Pereira (PT-BA)
    65. Washington Quaquá (PT-RJ)
    66. Welter (PT-PR)
    67. Zeca Dirceu (PT-PR)

Luta antiga 

O tema do trabalho, marca característica do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, sempre esteve presente nos debates propostos pela legenda. Prova disso é que, em 2015, o senador Paulo Paim (PT-RS) apresentou a PEC 148 – que prevê a redução da jornada dos trabalhadores de forma escalonada até chegar às 36 horas semanais – bem como o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) que, em 2019, apresentou a PEC 221, e propõe a redução das atuais 44 horas semanais para 36 horas.

O texto inicial da PEC sugere que o limite caia para 36 horas semanais, sem alteração na carga máxima diária de oito horas e sem redução salarial. Isso permitiria que o país adotasse o modelo de quatro dias de trabalho. “É muito bom ver que novos parlamentares, como a deputada federal Erika Hilton, estão sintonizados com as demandas históricas dos trabalhadores”, elogia o senador Paulo Paim (PT-RS).

Enviada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a PEC 148/2015 não chegou a ser votada e acabou arquivada, em 2022. No ano passado, o senador pediu o desarquivamento, e a proposta voltou a tramitar. O texto aguarda análise na CCJ, sob relatoria de Rogério Carvalho (PT-SE).

“Estamos acompanhando o debate pelo fim da jornada 6 por 1. Temos uma PEC tramitando no Senado desde 2015, do senador Paulo Paim, que cria a jornada de 36 horas. Eu sou o relator na CCJ. Com essa PEC, vamos ter cinco dias de trabalho e dois de descanso com uma jornada máxima diária de oito horas e sem redução de salário”, explicou Rogério.

PEC pelo fim da escala 6x1 avança com apoio da esquerda
Deputados discursaram sobre o assunto durante a sessão do Plenário da Câmara Foto: Agência Câmara de Notícias

Na própria Câmara dos Deputados, outra proposta apresentada pelo PT propõe a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais. A PEC 221/2019, apresentada pelo deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), aguarda a designação de um novo relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados após o deputado Tarcísio Motta (Psol-RJ) sair do colegiado.

“Enxergo na redução da jornada de trabalho não apenas uma evolução social, mas também um impulso econômico, gerando oportunidades e fortalecendo a sustentabilidade. Reduzir a jornada de trabalho é gerar mais empregos, diminuir a informalidade e precarização, aumentar salários e produtividade, e impulsionar o consumo, criando um ciclo virtuoso na economia onde todos ganham”, defende Reginaldo Lopes.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou que a redução de jornada é uma “tendência no mundo inteiro” pelo avanço tecnológico e que “cabe à sociedade e ao Congresso debater o tema”. Ele comentou o tema durante entrevista no Azerbaijão, onde chefia a delegação brasileira da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP 29.

A deputada federal (PT-PR) e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, gravou mensagem para a classe trabalhadora brasileira, onde defendeu o respeito a essas pessoas e reafirmou a posição do partido na luta por melhores condições de vida para os trabalhadores e trabalhadoras: 

“Há muito tempo diversos países têm discutido sobre redução da jornada de trabalho e a necessidade de equilíbrio entre o pessoal e o profissional. Aqui no Brasil começou um movimento pelo fim da escala de trabalho 6×1. Em 2019, o companheiro Reginaldo Lopes apresentou a PEC 221. Agora, o movimento Vida Além do Trabalho está reforçando o assunto, e a deputada Erika Hilton apresentou um novo texto que 79 deputados assinaram. Inclusive, a classe trabalhadora merece respeito e condições de trabalho mais justas e dignas porque a escala 6×1 tira o direito do lazer e do entretenimento, do tempo com a família, do autocuidado e até dos estudos. O PT é contra a exploração do trabalhador. Somos contra a proposta da extrema direita de exploração.”

Atualmente a CCJC da Câmara dos Deputados, onde se encontra a proposta de Reginaldo Lopes, é presidida pela bolsonarista Caroline di Toni (PL-SC). Obrigatoriamente, todas as propostas de mudança constitucional devem passar pelo colegiado para terem aceita a sua admissibilidade.

Maior bancada da Câmara dos Deputados, com 93 parlamentares, até o momento, o PL tem apenas um deputado subscrevendo a proposta de redução da jornada encabeçada por Erika Hilton.

Luta histórica do PT

Antes de todas as propostas em tramitação atualmente, a pauta foi discutida em 1987. Durante a Assembleia Constituinte, parlamentares defenderam, na discussão do trecho que trata dos direitos do trabalhador na Constituição, que o limite de horas semanais fosse reduzido de 48 horas para 40 horas.

O senador Paulo Paim e o atual presidente Lula, membros da Assembleia Constituinte, foram alguns dos defensores. A tese acabou rejeitada e foi vencida pelo texto atualmente em vigor, que limita o trabalho a 44 horas por semana.

Experiências pelo mundo e teste no Brasil

Reportagem da Agência Senado apresenta dados da Organização das Nações Unidas (ONU) com experiências com a redução da jornada de trabalho. Países como Holanda, Bélgica, Dinamarca e Alemanha começaram a aplicação de uma jornada de trabalho reduzida, chegando a cerca de 32 horas semanais em algumas dessas nações, com média de horas trabalhadas ainda menor. Na Alemanha, por exemplo, a média de horas trabalhadas semanalmente é de 25,94 horas.

O Congresso do Chile aprovou, no ano passado, uma lei que diminui a semana de trabalho para 40 horas. Antes, o trabalhador fazia uma jornada de 45 horas semanais. Neste ano, a jornada de trabalho será reduzida para 44 horas. Após três anos, o limite será de 42 horas, e após cinco anos, chegará a 40 horas.

Na Espanha, o governo destinou 9,6 milhões de euros (o equivalente a R$ 52,4 milhões) para empresas que reduzirem a jornada de trabalho para quatro dias semanais sem alteração no salário.

No piloto entre empresas brasileiras, foi adotado o modelo de trabalho chamado de 100-80-100, que consiste em produzir 100% do tempo, reduzindo a jornada de trabalho em 80%, com 100% do salário. Os colaboradores do programa passaram por workshops e palestras durante quatro meses antes de começarem a implementar a redução da jornada.

Dados coletados em parceria com a FGV-EAESP revelaram que 61,5% dos participantes observaram melhorias na execução de projetos, 44,4% relataram uma capacidade aumentada de cumprir prazos, 82,4% sentiram um aumento de energia para realizar tarefas, e 62,7% experimentaram uma redução no estresse no trabalho.

Além disso, 85,4% notaram um incremento na colaboração entre colegas, enquanto 65% relataram uma redução na exaustão e 74% observaram uma melhoria na saúde física. Em termos financeiros, 72% das empresas participantes relataram um aumento na receita durante o período do piloto.